sábado, 17 de janeiro de 2009

DOGMA FÚRIA


Rio de Janeiro, 17 de janeiro de 2009
Casa de Cultura Laura Alvim

O DOGMA DO FÚRIA

1. Fazer com que o DOGMA FÚRIA se transforme em padrão de qualidade. O DOGMA não é obrigatoriamente uma declaração de pobreza.



2. Todo grupo tem de ter seu líder. Ou diretor. O diretor, no caso, Domingos Oliveira, não é um cargo. É uma função. A função de ter a última decisão sobre qualquer assunto que concerne ao grupo. O diretor é uma pessoa eleita pelo grupo pra realizar essa indispensável função.



3. O caso de discordância inconciliável do grupo com seu diretor representará para nós um momento de alegria, posto que representa a criação de um novo grupo (que deverá chamar-se Fúria 2) representado por outro diretor.



4. As aulas, palestras, transmissão de conhecimentos e até notas de ensaio feitas pelo diretor do Grupo Fúria devem ser lições de liberdade e conter sinceramente a máxima de Nietzsche, “quem for meu discípulo que não me siga”.



5. O ator tem a obrigação de seguir, mesmo discordando, as instruções do diretor. Fazer com toda a entrega duas ou três vezes. Se ainda assim discordar, deve criar uma contenda séria com o diretor. Chegam a um acordo ou mesmo a destruição do projeto. Não queremos por aqui atores obedientes.



6. Há algo no ator que depende do que ele é. Os invejosos, autopiedosos, excessivamente competitivos serão naturalmente excluídos do grupo.



7. No grupo é exigido gentil e respeitoso convívio social. O ensaio de teatro já é uma representação. Todos os problemas pessoais, tudo o que impede o bom funcionamento teatral, deve ser deixado na porta do teatro. O ânimo de um depende do ânimo do outro. Assim sendo esperado um sorriso, cumprimentos gerais a todos, por mais falso que isso seja.



8. O mais importante do teatro é o ator. Depois o autor. Por último, o diretor.



9. O personagem não existe. O que existe é a pessoa do ator. Se transforma em representação através da livre de todas as capacidades humanas. A imaginação. O teatro é primado na imaginação.



10. O ator. Embora secundário, posto que trabalha em função do texto e do diretor, deve ser a base do processo. É ele quem vive a mais transcendental aventura. É ele que, através da generosidade, cria um vínculo com a platéia.



11. A finalidade máxima do teatro é resgatar o sonho e formamos todos uma consciência só. De que a consciência coletiva existe. Quando um ator consegue entrar na mesma freqüência de pensamentos da platéia, o milagre se dignifica. A utopia é alcançada.



12. Como organização, o Grupo Fúria concede o segundo lugar de importância aos que trazem o dinheiro necessário para fazer o espetáculo, seja através de patrocínios ou quaisquer outros processos, para que o teatro seja possível. A função de lotar o teatro será oficializada e nomeada no Grupo Fúria. Esta equipe (envolve a divulgação, a feitura e controle do orçamento e muitas outras coisas) deve ser escalada com a máxima atenção e rigor do grupo. O que não impede que assumam também funções de ator e etc.



13. O Grupo Fúria admite as limitações da democracia. Lá não são todos iguais. No que diz respeito à divisão de cotas. Serão respeitadas as importâncias dos seus trabalhos, recompensar a todos igualmente é sempre uma meta para ser atingida. Porém raramente é uma coisa justa e funcional. No caso atual, 50% da bilheteria vai para a cooperativa e 50% para fundos do grupo, o que permitem trabalhos futuros. Todos os captadores ou lotadores de sala terão uma comissão proporcional ao resultado.



14. O Grupo Fúria não é uma fábrica de teatro. É uma fábrica de arte. A arte é a finalidade. Acreditamos no valor social da arte. Acreditamos que sem arte é a barbárie. Que é uma atividade de utilidade pública. E exigimos ser tratados como tal. Posto que somos artistas.



15. O sucesso será para nos uma preocupação secundária. A arte pela arte é o objetivo final. Somente artistas de experiência ou excepcional talento podem definir o que é a arte ou não.



16. O Grupo Fúria almeja a permanência. A sua obrigação principal é que todos os membros do grupo estejam todo o tempo num processo de feitura teatral. O grupo tem princípios dos quais todos devem compartilhar. Princípio 1: Terminar tudo aquilo que começa. O Grupo Fúria não se reduzirá a produção de espetáculos. Criará também continuamente outros movimentos culturais. Cojita-se para o próximo fevereiro uma série de leituras / performances de textos que têm possibilidades de ser o próximo espetáculo do grupo e de planos pessoais de Domingos Oliveira dos quais, de alguma forma, o grupo possa tomar parte.



17. O teatro é o último reduto da inteligência livre. Muito mais comprometido do que a TV ou o cinema. O teatro é o púlpito, é o palanque das idéias revolucionárias. Sempre foi assim desde Castro Alves.



18. O grupo deve, todo ele, unir-se no esforço de conseguir patrocínio para o grupo. A moldes que outros grupos possuem.



19. O grupo planeja e data suas estréias independente dos patrocínios. Não se pode depender de fatores aleatórios. Tendo dinheiro, fazemos. Não tendo, fazemos também.



20. Fazem parte do Grupo Fúria todos os atores, técnicos e participantes do Apocalipse e mais todos aqueles que acompanharam Domingos Oliveira ao longo da vida em sua carreira artística. A lista completa dos nomes será publicada aqui brevemente.
Muitas e muitas coisas ainda estão faltando nessa primeira versão do DOGMA.



21. Por isso, paramos no item 21 comemorando assim a maioridade do Grupo Fúria.