quinta-feira, 25 de setembro de 2008

ATUALIDADES:

Começa hoje o Festival de Cinema do Rio. Que exibe 4 centenas de filmes. Um belo sinal da magnífica paranóia do simpaticíssimo Marcelo Mendes e sua patota do Estação. Eles foram todos cineclubistas. Agora transformados em exibidores, porém mantendo sua fidelidade à rataria de cinemateca. Que Deus conserve o Grupo Estação.
Tanto filme assim dá vontade de ver todos, o que não é humanamente possível. Ou não ver nada. Só de raiva. E é impossível evitar a pergunta: Com tanto filme, pra quê que eu vbou fazer mais um? Quero dizer, mais dois? Posto que sou o único cineasta brasileiro ou estrangeiro que tem 2 filmes estreando no festival. Até eu me orgulho da minha produtividade. E um detalhe importante: tem prêmio de Júri Popular! E nessa seria ótimo contar com vocês. Olha, a coisa funciona assim: No dia seguinte da estréia só para convidados o filme passa de manhã no cinema Odeon. A preços populares, sessão concorridíssima. No dia seguinte deste, tem 2 sessões em cinemas da Zona Sul. Nessas 3 últimas, você pode votar (Razoável, Bom, excelente, etc.) E se vocês acharem o filme excelente, eu ganho o júri popular. Entenderam bem ou querem que eu explique? As sessões do Juventude (meu filme com Paulo José e Aderbal Freire-Filho) são:

Sessão Popular no Odeon - DIA 30 DE SETEMBRO (TERÇA-FEIRA) 13H30 (o filme tem 80' de duração).

Sessão Estação Vivo 3 Gávea - DIA 1 DE OUTUBRO (QUARTA) 13H30 E 20H20 (não me acostumo com esse tipo de horário. Antigamente cinema era 2, 4, 6, 8...)

Já que o tempo é de eleições, votem em mim. Um cineasta limpo.
Fora de brincadeira, pessoal. Apareçam lá e depois me digam o que vocês acharam.
Meu segundo filme, "Todo Mundo Tem Problemas (Sexuais)" é Hours Concours. Passa lá pelo dia 8 de novembro e eu aviso mais perto.
A propósito, vi, depois de prolongada resistência, o filme do Claudio Assis, o notório "Baixio das Bestas". Não vi antes porque me diziam que era muito violento e agressivo, etc. E eu não vejo propósito para fazer filmes para exibir esses sentimentos. Além disso o Claudio é um tipo de enorme simpatia, parecendo amigo de um copo, sempre assusta um pouco depois de uma famosa agressão ao Hector Babenco durante uma entrega de prêmios, enfim, isto não tem importância, pertence ao passado. Para surpresa minha, gostei muito do filme. Gostaria que isso chegasse ao Claudio. É violento e agressivo. Mas por trás de tudo aquilo sobrevive um emocionado e inspirado poeta. E além disso, um dramaturgo. Coisa rara entre nós. As imagens são belas e bem enquadradas, revelando que a natureza não tem nada a ver com a maldade humana. E a cena da chuva, no final do filme, é um final de alta dramaturgia. Desolado e desesperado, o filme acaba numa nota menor, como acontece em muitas grandes sinfonias. Revelando inexoravelmente a compaixão do autor por seus personagens. Seu motivo de realizar a obra: um pedido de socorro para que acabem para sempre os baixios das bestas. Gostei, Claudio.


PASSADO:
Meu primeiro trabalho publicado é um conto premiado num concurso da Tribuna da Imprensa em 17 de março de 1963. O autor assina Domingos José Soares de Oliveira. E tinha 27 anos. Comecei tarde. O conto provinha de um exercício de um curso de teatro. Depois conto essa história. Meu analista da época me pediu que eu permitisse seu uso num congresso como narrativa inconsciente de um processo de nascimento! Sei lá se é isso, mas é bonitinho.
Que vai para o blog.

O TÚNEL

Estou no escuro, depois de tantas semanas, meses talvez, dentro deste lugar. Sei que estou numa enorme caverna. Mas não me lembro como vim parar aqui. Sei somente que, de vez em quando, essa escuridão tão pesada dá lugar a uma intensa claridade. É como se o Sol estivesse há poucos metros de mim. Mas não sinto calor. Somente este frio, ao qual já começo a me acostumar.
Quando a luz acende, meus olhos doem tanto tanto que os cubro com as mãos para não ver. Mas ela é tão intensa, que atravessa tudo. Abro então os olhos. Às vezes, por vontade própria, às vezes, porque me obrigam. Numa delas, insisti em apertar minhas mãos contra o rosto. Recebi, então, violenta chicotada que me causou uma ferida que vai, reta, de meu rosto até minha perna. Outra vez, foi uma facada, desferida em minha coxa. Não consigo nunca, quando abro os olhos, ver de onde vem o castigo.
Quando a luz acende, o que vejo é que estou numa imensa caverna, sem nenhuma saída possível. No chão, estou sozinho, mas, nas paredes e no teto, incrustados, debatem-se homens e mulheres. Alguns estão mutilados. Da última vez que a luz acendeu, tive a impressão de que as paredes tendem a absorvê-los, tendo até alguns já desaparecido.
Durante muito tempo me preocupei em saber se a luz acendia com regularidade ou não. Tentei, então, contar, lentamente e sempre do mesmo modo, enquanto estava no escuro. Uma vez, cheguei a mil e pouco, outra, a apenas duzentos e cincoenta, e outra, a quatrocentos. Não sei, porém, se isso significa alguma coisa, pois tenho a impressão de que não consigo controlar bem a velocidade da contagem. Além disso, estou tão cansado! De vez em quando adormeço, e talvez a luz já tenha acendido enquanto eu dormia.
A luz não acende há muito tempo. Uma idéia me assalta e atemoriza. Temo ter ficado cego, por alguma razão. Que ela já tenha acendido. Que esteja acesa agora, neste exato momento, e que eu não possa vê-la porque estou cego, por alguma razão. Penso assim, porque sinto meus olhos arderem. Além disso, não consigo ver realmente nada, por mais que me esforce. Será possível existir escuridão tão absoluta?
Da última vez que vi a caverna, notei, ao longe, se bem que não possa afirmá-lo, uma mancha escura que me pareceu a boca de um possível túnel. Logo, a luz apagou, antes que eu pudesse ao menos orientar-me. Desde então, estou tentando achar o túnel.
Primeiro, andei muito, na direção que julguei correta, procurando a parede da caverna. Nunca pensei que fosse tão longe e o chão tão irregular, o que me fez tropeçar sempre. Machuquei-me. Sim, estou nu.
Agora, palmilho a parede, úmida, em alguns lugares cortante. Encosto meu rosto contra ela e acho agradável. Permaneço assim muito tempo.
Achei o túnel! Realmente, é um buraco cavado na rocha e posso sentir que tem pouco mais que um metro de largura. É mais alto do que minha mão pode alcançar. Penetro, então, com muita cautela. Súbito, minha cabeça bate no teto. Verifico, então, tateando, que a altura do teto diminui rapidamente. Agora, já sou obrigado a me abaixar, e cada vez mais.
As pontas de meus dedos, que vão na minha frente, encontram, formações cilíndricas, estalactites, como uma harpa. O túnel tem agora pouco mais de meio metro de largura e, no máximo, um e meio de altura. Penso então que ele diminuirá sempre e não terá saída. Resolvo tentar a passagem, quebrando as estalactites. Tento primeiro arrancá-las, separá-las, com as mãos. Não consigo, são fortes. Experimento então um pontapé e quebro uma. Depois outra e outra. Consigo então passar, embora tenha de virar de costas. Logo, me oriento na direção certa.
O túnel baixa seu teto, cada vez mais. Quero, pela primeira vez, voltar, porém, noto, olhando para a frente, qualquer coisa como uma vaga luminosidade. Também o ar me parece um pouco mais leve e talvez eu sinta menos frio. A esperança de que o túnel me conduza à liberdade me reanima.
Meu próximo passo encontra o vazio. Sim, há um buraco na minha frente e todo cuidado é pouco. Ajoelho-me, perto da borda, para examiná-lo melhor. Minha mão não consegue tocar a outra borda. Experimento jogar dentro dele um pedaço de estalactite. É tão fundo que não ouço nada, além do silvo da estalactite cortando o ar. Fico apavorado, quero desistir, mas a tênue claridade me obriga a continuar. Junto às paredes do túnel, pequenas saliências, pouco maiores que meu pé, ladeiam o buraco. Poderei passar, andando de pernas abertas, caso queira correr o risco.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

PRESENTE:

Plano L.A.:
(Los Angeles ou Laura Alvim?)
Vou ocupar, a partir de dezembro, o teatro Laura Alvim. Pretendo fazer um movimento cultural fundado na dramaturgia. Na arte de contar histórias. A dramaturgia não são leis impostas, não é nenhuma caretice. É essencial. Uma boa peça ou filme e, pelas piores e melhores pessoas, têm sido desprezada ou subestimada. Um artista de talento nato pode compor uma música genial ou pintar um excelente quadro. Mas não escrever uma excelente peça de teatro ou um bom roteiro, se não estudar um pouco. O teatro e seus derivados são atividades racionais. Demanda um estudo. Estudo daquilo que é comum a todas as peças que adoramos no teatro, modificaram as nossas vidas, nos deram grande prazer. Isto é a dramaturgia.
Penso que há alguns modos de ensinar a dramaturgia. Penso, igualmente, que é mais uma arte que uma ciência, a dramaturgia deve ser ensinada por quem escreve. Um dos meus cursos pretende propor a uma pequena platéia de alunos escolhidíssimos que assistam e paticipem da escrita de uma peça por mim, na frente deles, consultando as suas opiniões e minhas dúvidas. É difícil entender em aulas teóricas a beleza da dramaturgia. Uma outra forma eficiente que me dá vontade de experimentar é aquela inventada por Antunes Filho, o "pronto para usar" (prêt a porter). Que propõe transformar os próprios atores em dramaturgos.
Um terceiro modo eficiente de aprender a arte narrativa é, sem dúvida, a análise de bons filmes ou peças, uma investigação a posteriori dos caminhos que o autor seguiu para obter as grandes emoções.
Uma boa aula não é aquela em que o aluno aprende com o mestre. E sim aquela em que ele tira as dúvidas que ele já tem. Que ele usa o mestre para aprofundar as dúvidas que ele já tem.
A dramaturgia, como a arte de representar, é uma coisa muito difícil de aprender nos livros. É preciso da prática, do contato com quem faz bem.
Em janeiro, pretendo montar no teatro minha mais elogiada peça, ecrita há 25 anos atrás, meu relato de infância, "Do Fundo do Lago Escuro". Li a peça ontem. Como se não fosse minha, passou tanto tempo... Achei uma obra prima. Talvez até sobreviva a mim. (a auto-estima nada tem a ver com vaidade. Não é um sentimento arrogante, e sim, embora pareça paradoxal, com a humildade. Somente gostando do que se faz você pode gostar dos outros, e do que eles fazem.) Somente mestres podem ser discípulos.
Para esta peça, me faltarão atores. Possivelmente haverá teste. Ou melhor, haverá um pretexto para a primeira reunião da desprendida turma do Grupo Fúria... Claro que será uma festa.

72 ou 27?
Na noite de 27 para 28 faço 72 anos. O Tablado, desde o início desse ano, faz um estudo sobre minha obra. Todos os professores usaram textos meus nas suas aulas. O que muito me lisongeia e honra. Sendo assim, propuseram também me oferecer uma festa de aniversário, para a qual não posso convidar os blogueiros, posto que quem convida é O Tablado. Segundo a programação, faz parte da festa uma "palestra", um papo posterior com jovens alunos. Falar com a juventude é sempre um ato de responsabilidade. Afinal, eles morarão na casa do futuro, que eu jamais conhecerei. Afinal são eles o exército que marchará sobre minha cabeça. Além disso, são todos bonitinhos e gostosinhos, revoltados, curiosos. Então fico na dúvida sobre o teor dessa fala de 60 minutos. Pensei: "As 10 melhores idéias da Filosofia." Isso seria interessante. Pensei: "Os 12 princípios que regem a minha vida", também isso seria interessante. Mas como tenho que optar, acho que escolherei algo mais direto: uma palestra chamada "Meu Ofício é Dizer o que Penso". Frases, se não me engano de Pascal, que plajeio constantemente. Opinião sobre, digamos, cinco assuntos que interessam aos jovens de qualquer idade.
Por exemplo:

1) A Luta Profissional.
2) Como Encontrar o Amor da Sua Vida.
3) Sexo é o Maior Divertimento.
4) O Grande Mistério da Arte.
5) A Morte: Ser ou Não Ser.
Se você quiser assistir isso, procure alguém dO Tablado que possa te convidar. Porque, em princípio, está lotado.
Evidentemente seguir-se-ão canções cantadas pelos Tabladenses e outros amigos, em homenagem aos meus 27.375 dias bem vividos.
obs. Não posso convidar para O Tablado, porém posso e insisto aos meus amigos fiéis, compareçam à sessão popular do filme "Juventude", no Festival do Rio. É a platéia dessa sessão que decide o voto popular de melhor filme. Vou precisar de vocês furiosamente.


PASSADO:
Não é importante saber se um homem acredita ou não em Deus. O importante é saber se ele acredita no paraíso.

Depoimento sobre a primeira vez em que estive no Paraíso. Fazem 36 anos.

Estive no paraíso
e voltei.
O Paraíso é o mundo como ele é.
Como será um dia, para todos os homens.
Estive primeiro numa praia.
de onde trago notícias:
o mar é sólido
a areia é gente
é mulher amada
foi para descansar que deitei sobre ela
então compreendi que a desejava.
Olhei ao redor e veio o mundo
em tempo algum
posto que o tempo não existe
sendo cada conformação da existência
apenas um instante consagrado da Criação.
Haviam muitas pessoas ao redor
todas nascidas ontem do macaco
perplexas, perdidas, pobres
andando sem rumo sobre a areia sábia.
Ajoelhei pela falta de forças
(o conhecimento consome)
e chorei de alegria
já que eu era parte daquela beleza
não podendo ser
Eu sem Ela
e sem mim
Ela.
O Paraíso pode ter ruas
no fundo de uma delas encontrei, súbito
O Sol!
O Sol é o Deus do homem. Há certamente deuses maiores
mas isso não é nada que um homem possa adorar.
O sol mora no fundo de uma gruta macia de sombra.
É verdade que um homem cega se olhar, de frente, o Sol?
Depois, mais tarde, quando eu entrei na água e não quis mais sair
o sol veio para minhas mãos em concha
brincou como criança
dançou, fez formas tão alegres
já era meu igual.
Também na água eu vi um abraço de dois amantes.
Entre seus corpos muitos rios corriam, cascatas
e nas paredes haviam musgos.
Meus ouvidos ouviram muitos ruídos
ruídos do mundo
também ouviram Música
ruído dos homens.
Estive no paraíso e voltei
sei
o que são os homens
são pobres crianças loucas.
É impossível deixar de amar qualquer um deles.
O amor é a alma do Real
a energia que une os átomos
é o Estado Natural
O desamor é a loucura.
No final da tarde senti a velocidade do Planeta, da Terra
Soube que voava com ela, uma vertigem
mãe espaçonave em direção ao infinito
Não há porque temer o infinito
o navio é seguro e somos nós
que o guiamos.
Estive no Paraíso e voltei
Não posso mais esquecer de que sou parte
Sou parte do paraíso
Não há volta para o conhecimento.
E, no Paraíso, no centro, encontrei o Amor
O amor é a alma do paraíso
Vi o corpo da mulher
seus músculos, suas vísceras, sua pele e olhos
a máquina perfeita do corpo da mulher amada
(um corpo tem montanhas, gramas, areias, mares
a beleza é um corpo!)
Estive no paraíso e voltei.
Agora sei que ele existe.
Ficou portanto traçado o rumo do meu destino.
terei de trilhar o caminho de volta
o árduo caminho iluminado durante o que resta de minha existência
eterna.

Não esqueçam de ler o meu outro BLOG.
Onde deixo meu Legado, para possíveis parcerias...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

PASSADO
Hoje não tem passado. Consegui entrevistar meu irmão a respeito da minha família. Pretendo escrever a sua árvore genealógica. Depois que morre algum tempo, todo mundo vira mito. Personagem de Garcia Marquez. O tempo simplifica os traços hiper-complexos de uma personalidade humana, deixando apenas o desenho principal: o que aquele homem fez, os filhos que deixou e, raramente, as coisas que disse.
Aguardem a próxima postagem.
Começo minha árvore com meu avô, o José dos Barbantes, que ficou rico com uma fábrica de barbantes, novidade absoluta na época. Casou com Sinhá, aquela moça rica e ficou mais rico que ela. Teve nove filhos, um dos quais a minha mãe. E muitas dezenas de netos. Morreu quando eu tinha três anos, de câncer na boca. Consta que eu era seu neto predileto. Tenho certeza que esse homem tem grande importância na minha vida, embora não tenha memória dele. Apenas fantasia. Meu irmão diz que meu avô era muito mulherengo, chegou a ter cinco mulheres ao mesmo tempo.

ATUALIDADES
Criei um novo blog. Chama-se DOMINGOS IN PROCESS. O endereço é http://www.domingosinprocess.blogspot.com/ E ESTE CONTINUA! Explico minhas razões para tal atitude extrema. É que eu não desejo que esse blog tenha mais de duas sessões, ATUALIDADES e PASSADO. E já estava misturando com LEGADO e outras coisas que quero dizer e que ficam para o segundo blog, mais divertido, mais irresponsável.

domingo, 7 de setembro de 2008

TOLAS DÚVIDAS DE UM ARTISTA

De vez em quando eu me confundo. Melhorou muito, antigamente era sempre. A razão de minha confusão nesta manhã de domingo é sobre o show. O “show do Domingos.” Por mais que tenha outros nomes, será sempre o show do Domingos. Não sei o que faço com ele. Se tiro de cartaz para sempre ou luto incondicionalmente para fazê-lo. Dúvidas tolas. Mas é assim mesmo. Para quem conhece o filme: Quero fazer do Cabaré um sucesso do mesmo modo que Barry Lindon quis ser marquês. Ou conde, sei lá. Mas para entender melhor, contemos do início. Aos dez anos de idade, minha professora de primário me pedia que eu cantasse baixinho o Hino Nacional, para não atrapalhar os outros mil alunos da escola. Todos com a mão no coração naquele ginásio enorme. Aos vinte, dançava bem, mas não podia abrir a boca para cantar. Era um desafinado. Aos quinze, pedi um piano de presente de aniversário para minha mãe. Meus pais me deram. E comecei a entoar umas coisinhas desafinadissimamente, embora conseguisse tocar “de ouvido”, mal, mas de ouvido. Aos trinta anos, me lembro do Simonal me botando para fora do côro no filme que fazíamos, etc. etc. O filme ficou uma merda. Qualquer dia conto essa estória. Sei que perdi a paciência quando, já nascida minha filha, e morando eu em Teresópolis, comprei um violão. “Se qualquer idiota toca esta porra, eu também posso tocar.” Ledo engano. Até hoje não toco violão. Nunca tive a coordenação necessária. Anos depois, quando dirigia o Teatro Planetário, cantei pela primeira vez, no Cabaré 1, em 96. Portanto, com mais de cinqüenta e cinco anos descobri que tinha a voz grave, entre o barítono e o baixo profundo. E que poderia cantar, se estudasse muito, até direitinho. Depois o Planetário acabou (fizemos quatro Cabarés nessa época, sempre com sucesso). Cantar me dá uma grande alegria. Indescritível, mesmo. De modo que não quis parar. E comecei a fazer esse show, uma forma mais informal, da mesma idéia do Cabaré (filosofia e música). Como sou o homem da palavra, segui Fernando Pessoa, quando diz que “a canção é uma poesia ajudada”. E que ajuda mesmo. Assim começou o show e o fracasso. Um fracasso estranho, pois amigos iam e gostavam muito, sentiam emoções extraordinárias, mas não traziam ninguém. Custei a compreender porque o boca a boca não funcionava, nesse caso. É muito simples: O pessoal do teatro não vai ver shows em bares. E o pessoal dos shows não vai me ver, porque eu não sou cantor. De modo que o espetáculo, por melhor que seja, fica nesse limbo, só vai “diretoria”. Amigos famosos, gente notória, mas o público mesmo, não vai. Fizemos no Bistrô, no Cinemathèque, no Lounge da Lagoa, no Mistura Fina, foi sempre a mesma coisa. Pessoas gostando cada vez mais, porém neca de público. Os cantores não-cantores (Denise Bandeira e Dedina Bernardelli), eu, atrizes, atores etc etc etc, divertindo-se cada vez mais, o show cada vez melhor...
E no mais, ninguém. Como pode uma platéia adorar um espetáculo e não ser um sucesso? Pode tudo. No Show Business, como na vida, vale tudo. O espetáculo transformou-se num “lugar de convidados”. Ou de ingresso barato para os amigos. Ou seja, não se paga. Leva um prejuizozinho. E dá um trabalho danado. Resumo, enchi dessa situação. Adoro cantar, quero morrer cantando, mas assim não dá! Há algo errado. E eu fico pensando o quê. Certamente por causa do já citado “desenfoque mercadológico”. Porém, pensei hoje, não só por isso. Não sei se vai interessar as pessoas ler isso. Nada mais chato que a dúvida dos outros. Por outro lado, podem compreender e até ajudar. O show atualmente tem uma multidão no palco. Tudo gente legal. Nós nos amamos e botamos todo esse amor no palco. É uma das razões do “sucesso”. Somos de 13 a 15, ou seja, financeiramente inviável, num bar pequeno. Num bar grande eu não quero botar. Nem num teatro, tenho certeza que perde a intimidade, a linguagem. De modo que para existir “Sábados do Domingos” ou “Onde é a festa sábado?”, para completar minha experiência sobre o “Teatro-Festa”, é preciso arranjar um patrocínio. Ponto, acabou. Faço os dois últimos no Canequinho sábados 13 e 20 de setembro, e fechamos. Até arranjar um cada vez mais suposto patrocínio. Aconselho que vocês compareçam em um deles, não por causa do dinheiro, isso não me importa mais, mas sim porque vai ser ótimo! É muito afeto em cena, espectador e cantores. Chega a fazer barulho. Claro que eu poderia fazer um pocket-show e reduzir o número de pessoas. Mas não tenho coragem de botar ninguém pra fora e não seria este show. “O Show do Domingos”. Ao contrário, nesse cada vez entra mais gente. Gente irresistível que entra por amor à arte. Todos fariam muita falta. Todos são imprescindíveis e amados. Ficariam decepcionadíssimos. E o teatro não vale tanto. Não seria o mesmo show. Mas como eu ia dizendo antes de tergiversar, o show tem um defeito. Tem vários shows dentro dele. Isso acontece muito com o criador da arte. Ter várias peças numa peça, vários filmes num filme. É sempre muito difícil extrair os intrusos. Quero dizer que esse show contém:
1) O Pocket: eu, piano, bateria e duas inteligentes cantantes, onde inclusive teria a oportunidade de mostrar as minhas músicas, coisa que meu pudor (não é uma surpresa eu ter isso) não me deixa mostrar até agora. E sem filosofia.
2) O Show Temático. Quero dizer: a turma do Domingos, ou melhor, o Grupo Fúria, apresenta Noel Rosa. Ou A História do Samba. Seria maravilhoso este também. E mais fácil de viabilizar, posto que caberia num teatro.
Enfim, eis o que aprendo nestes fracassos (fracasso ou sucesso, é tudo igual). Não tenho que fazer meu show, tenho que fazer três. O grandão, o pocket e o temático. Vejam só que miséria. Estou querendo diminuir os meus planos. Não multiplicá-los. Não tenho mais idade pra isso. Socorro!


terça-feira, 2 de setembro de 2008

ATUALIDADES:

Primeira:


Não sei se é a informalidade que busco nesse espetáculo há muitos anos.
Não sei se é a alegria que nos causa ao fazê-lo.
Não sei se é o repertório.
Ou se funciona como uma lição de liberdade para o espectador que, no fundo, gostaria de ser do teatro.
E não sei se há uma ternura que emana disso tudo.
Sei que o espetáculo do Canequinho, com todos os seus defeitos e acidentes de percursos, está tocando na minha meta final quanto a ele, que sempre foi chegar ao teatro-festa.
As pessoas se divertem muito, invadem o palco e ficam dançando no final por longo tempo e vêm me agradecer emocionadas pelas filosofias.
Detesto me auto elogiar. Mas acho que cheguei lá!
No TEATRO FESTA!
Faltam 3 sábados. E kaput! A vida segue.

ps. Se algum de vocês conhecer um possível patrocinador, leve. É baratinho o patrocínio. E o nome da empresa fica ligado ao acontecimento mais alegre dessa cidade. O espetáculo está saindo por falta de patrocinador (muita gente no palco, muito convidado na platéia...) . Não que não tenha, mas é que não sabemos procurar.


Segunda:

De Gus Von Saints. Nunca tinha ligado o nome à pessoa. Vi o "Kurt Cobain" e detestei. Achei vago, incompreensível. Mas agora pego na prateleira o "Paranoid Park" e caio de quatro. É uma obra prima! Fala dos jovens de hoje como nunca ouvi alguém falar.
Os jovens de hoje de classe média são, mais que tudo, figuras introvertidas. Falam pouco, em geral num dialeto próprio inacessível aos pais não-iniciados. Ele está sempre bem, normal, indiferente, na sua. Parece que ele já viveu tudo muitas vezes. E que mora atrás de um tapume onde está pixado "ninguém se aproxima". São uns amores, porém inatingíveis. Nem o sexo parece entusiasmá-los a ponto de fazer cair-lhe a máscara. Ele é bonito, entediado, parecido com os Beatles, ou melhor, com o Lennon, que morreu assassinado. Não julgam o mundo, não têm opinião, não são dali. Por quê? De onde são, afinal? Por quê?
Os jovens me adeiam, zombam de mim ou têm medo?
As respostas a essas perguntas quando são feitas com compaixão verdadeira surgem claras. Os jovens não falam porque não têm o que dizer dentro de um mundo tão complexo. Os jovens não falam porque têm medo de dizer besteiras, algo que os prejudique. O jovem é indiferente porque não tem lugar no mundo. Os jovens não são amigos dos pais porque os pais são tão fodidos que não podem protegê-los. E ele, sem jamais confessar isso, grita "socorro" internamente. Não há ideais para seguir, guerras para lutar, mesmo um emprego é dificílimo (talvez isso seja o principal). De modo que um adolescente hoje perde-se em suas fantasias.
"Paranoid Park" é muito melhor do que o "Elephant", embora sejam quase o mesmo filme. Diretor genial, poeta de sensibilidade, Von Saints olha de perto não um serial killer, mas um garoto comum que qualquer um de nós gostaria de ter como filho. Mas que não conseguimos proteger dos atalhos muitas vezes cruéis da existência.
Dizem que o final ideal de um filme ou uma peça tem que conter algo que o filme inteiro não teve. E que lance uma luz para trás. Um poderoso foco retrovisor que ilumina a estória inteira. O final de "Paranoid Park", numa época em que os de vanguarda odeiam a dramaturgia, é uma obra prima dramatúrgica. Quando ele queima as cartas na lareira, revela pungentemente para o espectador sensível... que não é capaz de amar. Era isso desde o início. Compreendemos tudo.
É um grande filme. Agora estou procurando rever "Drugstore Cowbói", "Garotos de Programa" etc. Pensei que Von Saints fosse jovem também. Nada, tem 60 e poucos. Puta velha. Não sei como não o percebi antes.


Terceira:

O assunto é política de cinema. Saiu uma nota sobre mim na coluna da Monica Bergamo da Folha de São Paulo que teve repercussão, mas que não corresponde às minhas idéias. É a já velha estória do "Edital do Filme Pronto", da necessidade do "Ministério da Arte". Não quero gastar blog com um assunto tão árido, de modo que simplesmente reproduzo aqui o que eu mandei pra Folha:



CONTRA A DEMOCRACIA

O cinema é o resumo de um país. Ser brasileiro já é ser artista. Poderíamos exportar tanta arte quanto sapatos. Creio que não há nenhum detalhe errado na legislação atual do cinema brasileiro. Porque está tudo errado.
A palavra cultura hoje em dia está desgastada. Significa qualquer coisa. Futebol, televisão, artesanato, esporte, isto está certo. São as emanações criativas do nosso povo brasileiro. Igualmente desgastada está a palavra Arte. Sempre ligada, equivocadamente, a certo elitismo. Ambas consideradas de alguma forma pela maior parte dos homens do poder como lazer e diversão. Ora, num país pobre como o nosso não é possível gastar muito dinheiro em lazer e diversão. Assim sendo, a Cultura/Arte tem a menor verba do orçamento público. Errado. A Arte é formação de caráter, como a cultura, porém tem outros objetivos e poderes. A arte é a mãe da ética, da solidariedade, da honestidade, da cidadania, nasce na pobreza como na riqueza. É um regulador da sociedade sem a qual é a barbárie.
Como não podemos concorrer nos orçamentos, a única chance do cinema brasileiro no mercado externo talvez seja o filme de ARTE, filme de conteúdo. Diversão enquanto ensinamento. A arte é locomotiva. O que seria do Cinema Novo sem “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, da retomada sem “Central do Brasil”, do Teatro sem Nelson Rodrigues ou Antunes Filho? Da música sem Jobim? São as obras dos bons artistas que elevam a importância da atividade cultural. O problema brasileiro não é a FOME, nem a violência, nem a corrupção nem a impunidade, e sim a indiferença quanto a esses crimes. Ocorre portanto no interior da alma humana. Somente através da Arte estes inimigos podem realmente ser combatidos, somente a Arte tem força e vocação para alcançar esse tipo de região. A violência não funciona.
Tentemos descrever o CAOS em que normalmente vive o cineasta brasileiro. Que é, como o sertanejo, antes de tudo um forte. Faz um filme de três em três anos, quando em geral já perdeu a vontade de fazê-lo. Então logo percebe que, por melhor que seja o seu filme, as rendas provindas da bilheteria são ínfimas. As cartas estão marcadas. O cineasta brasileiro precisa dos patrocínios como um bebê do leite da mãe.
Este patrocínio vem das citadas “leis de renúncia fiscal”, e quase sempre vão, pelos caminhos conhecidos, para os que têm padrinhos fortes; os mais convencionais; os que têm atores da TV reconhecíveis pelos patrocinadores; e o que é mais grave, para os filmes de alto-orçamento de preferência sem intenção artística. Dinheiro atrai dinheiro. E são os empresários que decidem que filmes devem ou não ser feitos.
Estes realizadores patrocinados auferem grossas fatias do orçamento (que já foi inflacionado pra isso) como pagamento do seu trabalho. Eles também não estão errados. Precisam sobreviver durante a longa espera do novo financiamento.
O dinheiro vai também para os filmes intelectuais, sofisticados e complicados que visam principalmente ganhar o mercado externo com nosso exotismo. São os chamados “filmes de festival” e raras vezes para filmes comunicativos como “Cidade de Deus”, “Central do Brasil”, “Os Dois Filhos de Francisco”, “Tropa de Elite”, “Meu nome não é Johnny” e poucos outros. Raras exceções. Em resumo, os filmes de baixo orçamento ficam no vermelho por ter tido pouco lançamento. Os de alto orçamento ficam no vermelho porque o gasto no lançamento é grande demais. Não é negócio pra ninguém, muito menos para o governo, que dá um passo para a frente e dois atrás, no sentido do estabelecimento na indústria de cinema brasileiro. As leis baseadas em renúncia fiscal têm em dois deletérios efeitos imediatos: a) Inflacionam o mercado insuportavelmente, já que o dinheiro não sai do bolso do produtor. b) Divorciam gravemente o filme do seu público. Não importa agradar a platéia e sim ao patrocinador, de quem depende essencialmente.
A diversidade e a descentralização são as maiores virtudes numa política cultural. Em meio a tantas opções, onde deve ser colocado o dinheiro público???
É hora da imaginação no poder. Antes que seja tarde. O que deve ser feito?
1. O governo saber que o destino do Cinema Brasileiro não pode ser resolvido por terceiros. É como terceirizar a polícia ou o a saúde pública.
Cinema é Arte, coisa especializada, da qual só entende os artistas, auxiliados talvez por uns poucos economistas e técnicos interessados no assunto. A prática de colocar burocratas frios e racionais, como no caso do último conselho, sem consultar as bases artistas é inacreditável. Apenas mais um reflexo do autoritarismo do poder atual. E depois o Governo tem de saber que dinheiro público não deve em princípio patrocinar filmes como meta principal.
Filmes são final de processo. Ponta de iceberg. O esporte já sabe disso há muito tempo. Não patrocina jogos, patrocina atletas.
O dinheiro público tem de ser usado naquilo que democratiza o fazer cinematográfico e beneficia a todos. Ou seja, na infra-estrutura da atividade. O que é isso? Ora, qualquer grupo de meia dúzia de profissionais experientes, reunidos algumas horas em torno de uma mesa é capaz de responder essa pergunta sem auxílio de institutos de pesquisa: Reserva de mercado, adicional de renda, criação de mercados alternativos, etc. E, mais que tudo, incentivo e recursos para o artista brasileiro de talento. Em particular, de talento agregador. Este sim, é a infra-estrutura da infra-estrutura. O centro, o fulcro. Claro que a produção de filmes tem que continuar, talvez sendo financeiramente a maior destinação do fundo. Parece estar sendo criado. Alguns filmes de alto ou baixo orçamento incentivam, de um modo ou de outro, toda a atividade. E portanto fazem parte da infra-estrutura.
Descrevemos acima a situação absurda do atual cinema brasileiro. Refratária a novidades, a mente conservadora impede a revolução mais por ceticismo que por autoritarismo. Ela não acredita que o mundo possa mudar.
O que importa fazer filmes num país pobre como o nosso?
Importa apenas fazer bons filmes.
Este trabalho crê que a Democracia é ainda o melhor sistema apesar de seus cruéis defeitos. Ser contra a iniciativa privada é, como sabemos, uma atitude nada democrática. Deveria haver uma linha muito especial de patrocínios para filmes independentes, feitos com recursos próprios. Do próprio bolso, filmes de risco. Sem usar o Governo. Isso significa que o produtor faz o filme por conta própria, livre na criação, e apresenta posteriormente um resultado para as autoridades competentes. Se o filme for considerado útil, de ótima qualidade, o produtor é ressarcido imediatamente das despesas feitas. Podendo assim, realizar o seu trabalho com continuidade. Coisa muito semelhante ao “Capture Venture”, política que está se difundindo nas grandes corporações mundiais e que tem tido incrível êxito em seus investimentos. Medidas assim criariam a indústria cinematográfica. É o “Edital do Filme Pronto”. Em minhas modestas limitações, tenho lutado por essa causa óbvia em muitas instâncias. Me ouvem sempre com atenção, compreendem que tenho razão. Mas nenhuma providência é tomada nesse sentido. Ao contrário. Se um filme chega a ser exibido num festival em cópia digital não pode mais concorrer a editais de finalização e lançamento! É evidente a antipatia da atual legislação pelo filme livre e independente. Não sei a que se deve esse sentimento. É talvez como o do pai que não quer largar os filhos crescidos, um apego natural ao poder.

Domingos Oliveira


ps do blog: Temos de voltar a esse assunto. Nossa legislação sobnre cinema e teatro é autoritária e não ouvem os profissionais que entendem do assunto. Defendem idéias próprias. Muitas delas desastrosas. Enfim, sinal dos tempos.



PASSADO:


Hoje não tenho vontade de falar no passado. Sou "Sartreano". 'Não importa o que o passado fez de mim, e sim o que eu farei com o que o passado fez de mim'. Tenho pelo passado uma simples curiosidade. Embora ele seja uma caixa de surpresas. De Pandora. Revelador, passado revelador. Adianto apenas que tive um encontro longo com meu irmão mais moço, que tem a memória melhor que a minha, e soube me contar a história das fotos no tom com que Garcia Márquez escreveu "Cem Anos de Solidão". Nossos mortos do passado são todos mitos de uma mitologia particular. Também nós seremos mitos, daqui a pouco. Embelezados, adorados, simplificados.

No blog que vem inicio a minha mitologia, ilustrada por fotos.



LEGADO 2:


Meu legado fez sucesso. Meu amigo Joffily e o leitor Bayão demonstraram indícios de pegar o bastão na corrida. Sendo assim, provoco um pouco: aumento o "LEGADO 2".


{Uma mulher com dois amantes. Um muito mais velho e outro muito mais moço que ela. Penso que é uma tragédia. Que o velho planeja matar o moço, que por sua vez, planeja matar o velho, afinal são loucamente apaixonados pela mesma mulher. No desenrolar do crime, é ela quem morre primeiro. O jovem morre também. E fica quem não devia ficar: O velho sobrevive. Ou talvez seja uma comédia.}

A cena mais promissora inicialmente é o encontro do velho, chamemos Henrique com o jovem, chamemos Felipe, digamos numa mesa de bar. Os dois estão com seus assassinatos planejadíssimos e encontram-se para tentar convencer um ao outro de largar a mulher, digamos Lucille. Porque ambos inconfessadamente detestam a idéia de se tornarem assassinos. Estão evitando isso.
Talvez esse encontro seja observado de longe por Lucille que aí toma conhecimento de que os dois sabem de tudo.


Mais um (chamemos LEGADO 3):

A mulher que casou com um homem respeitoso porque ele era respeitoso. E continuou sendo, depois de casado. Então ela é amante de um amigo do filho, um poeta. É o casal educado, que não existe mais. Não se separam nunca, porque são educados. São casais que vivem mal muito bem.



fim do post:



ontem fui ver o "Linha de Passe". Walter Salles e Daniela Thomas. Antes de tudo, que gente agradável! Quanta classe na estréia! Finos, educados, artistas de verdade. Tinham umas 2000 pessoas lá. Não consegui falar com o Waltinho (que admiro e amo muitíssimo), mas consegui mandar recado por Daniela (pessoa tão fascinante que tenho muita vontade de conhecer melhor). "Diga pra ele que o filme de vocês é grave. Uma Via Crucis." Daniela sorriu e foi embora. Esses fazem um cinema que orgulha o Brasil.