Primeira:
Não sei se é a informalidade que busco nesse espetáculo há muitos anos.
Não sei se é a alegria que nos causa ao fazê-lo.
Não sei se é o repertório.
Ou se funciona como uma lição de liberdade para o espectador que, no fundo, gostaria de ser do teatro.
E não sei se há uma ternura que emana disso tudo.
Sei que o espetáculo do Canequinho, com todos os seus defeitos e acidentes de percursos, está tocando na minha meta final quanto a ele, que sempre foi chegar ao teatro-festa.
As pessoas se divertem muito, invadem o palco e ficam dançando no final por longo tempo e vêm me agradecer emocionadas pelas filosofias.
Detesto me auto elogiar. Mas acho que cheguei lá!
Não sei se é a alegria que nos causa ao fazê-lo.
Não sei se é o repertório.
Ou se funciona como uma lição de liberdade para o espectador que, no fundo, gostaria de ser do teatro.
E não sei se há uma ternura que emana disso tudo.
Sei que o espetáculo do Canequinho, com todos os seus defeitos e acidentes de percursos, está tocando na minha meta final quanto a ele, que sempre foi chegar ao teatro-festa.
As pessoas se divertem muito, invadem o palco e ficam dançando no final por longo tempo e vêm me agradecer emocionadas pelas filosofias.
Detesto me auto elogiar. Mas acho que cheguei lá!
No TEATRO FESTA!
Faltam 3 sábados. E kaput! A vida segue.
ps. Se algum de vocês conhecer um possível patrocinador, leve. É baratinho o patrocínio. E o nome da empresa fica ligado ao acontecimento mais alegre dessa cidade. O espetáculo está saindo por falta de patrocinador (muita gente no palco, muito convidado na platéia...) . Não que não tenha, mas é que não sabemos procurar.
Segunda:
De Gus Von Saints. Nunca tinha ligado o nome à pessoa. Vi o "Kurt Cobain" e detestei. Achei vago, incompreensível. Mas agora pego na prateleira o "Paranoid Park" e caio de quatro. É uma obra prima! Fala dos jovens de hoje como nunca ouvi alguém falar.
Os jovens de hoje de classe média são, mais que tudo, figuras introvertidas. Falam pouco, em geral num dialeto próprio inacessível aos pais não-iniciados. Ele está sempre bem, normal, indiferente, na sua. Parece que ele já viveu tudo muitas vezes. E que mora atrás de um tapume onde está pixado "ninguém se aproxima". São uns amores, porém inatingíveis. Nem o sexo parece entusiasmá-los a ponto de fazer cair-lhe a máscara. Ele é bonito, entediado, parecido com os Beatles, ou melhor, com o Lennon, que morreu assassinado. Não julgam o mundo, não têm opinião, não são dali. Por quê? De onde são, afinal? Por quê?
Os jovens de hoje de classe média são, mais que tudo, figuras introvertidas. Falam pouco, em geral num dialeto próprio inacessível aos pais não-iniciados. Ele está sempre bem, normal, indiferente, na sua. Parece que ele já viveu tudo muitas vezes. E que mora atrás de um tapume onde está pixado "ninguém se aproxima". São uns amores, porém inatingíveis. Nem o sexo parece entusiasmá-los a ponto de fazer cair-lhe a máscara. Ele é bonito, entediado, parecido com os Beatles, ou melhor, com o Lennon, que morreu assassinado. Não julgam o mundo, não têm opinião, não são dali. Por quê? De onde são, afinal? Por quê?
Os jovens me adeiam, zombam de mim ou têm medo?
As respostas a essas perguntas quando são feitas com compaixão verdadeira surgem claras. Os jovens não falam porque não têm o que dizer dentro de um mundo tão complexo. Os jovens não falam porque têm medo de dizer besteiras, algo que os prejudique. O jovem é indiferente porque não tem lugar no mundo. Os jovens não são amigos dos pais porque os pais são tão fodidos que não podem protegê-los. E ele, sem jamais confessar isso, grita "socorro" internamente. Não há ideais para seguir, guerras para lutar, mesmo um emprego é dificílimo (talvez isso seja o principal). De modo que um adolescente hoje perde-se em suas fantasias.
"Paranoid Park" é muito melhor do que o "Elephant", embora sejam quase o mesmo filme. Diretor genial, poeta de sensibilidade, Von Saints olha de perto não um serial killer, mas um garoto comum que qualquer um de nós gostaria de ter como filho. Mas que não conseguimos proteger dos atalhos muitas vezes cruéis da existência.
Dizem que o final ideal de um filme ou uma peça tem que conter algo que o filme inteiro não teve. E que lance uma luz para trás. Um poderoso foco retrovisor que ilumina a estória inteira. O final de "Paranoid Park", numa época em que os de vanguarda odeiam a dramaturgia, é uma obra prima dramatúrgica. Quando ele queima as cartas na lareira, revela pungentemente para o espectador sensível... que não é capaz de amar. Era isso desde o início. Compreendemos tudo.
É um grande filme. Agora estou procurando rever "Drugstore Cowbói", "Garotos de Programa" etc. Pensei que Von Saints fosse jovem também. Nada, tem 60 e poucos. Puta velha. Não sei como não o percebi antes.
Terceira:
O assunto é política de cinema. Saiu uma nota sobre mim na coluna da Monica Bergamo da Folha de São Paulo que teve repercussão, mas que não corresponde às minhas idéias. É a já velha estória do "Edital do Filme Pronto", da necessidade do "Ministério da Arte". Não quero gastar blog com um assunto tão árido, de modo que simplesmente reproduzo aqui o que eu mandei pra Folha:
CONTRA A DEMOCRACIA
O cinema é o resumo de um país. Ser brasileiro já é ser artista. Poderíamos exportar tanta arte quanto sapatos. Creio que não há nenhum detalhe errado na legislação atual do cinema brasileiro. Porque está tudo errado.
A palavra cultura hoje em dia está desgastada. Significa qualquer coisa. Futebol, televisão, artesanato, esporte, isto está certo. São as emanações criativas do nosso povo brasileiro. Igualmente desgastada está a palavra Arte. Sempre ligada, equivocadamente, a certo elitismo. Ambas consideradas de alguma forma pela maior parte dos homens do poder como lazer e diversão. Ora, num país pobre como o nosso não é possível gastar muito dinheiro em lazer e diversão. Assim sendo, a Cultura/Arte tem a menor verba do orçamento público. Errado. A Arte é formação de caráter, como a cultura, porém tem outros objetivos e poderes. A arte é a mãe da ética, da solidariedade, da honestidade, da cidadania, nasce na pobreza como na riqueza. É um regulador da sociedade sem a qual é a barbárie.
Como não podemos concorrer nos orçamentos, a única chance do cinema brasileiro no mercado externo talvez seja o filme de ARTE, filme de conteúdo. Diversão enquanto ensinamento. A arte é locomotiva. O que seria do Cinema Novo sem “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, da retomada sem “Central do Brasil”, do Teatro sem Nelson Rodrigues ou Antunes Filho? Da música sem Jobim? São as obras dos bons artistas que elevam a importância da atividade cultural. O problema brasileiro não é a FOME, nem a violência, nem a corrupção nem a impunidade, e sim a indiferença quanto a esses crimes. Ocorre portanto no interior da alma humana. Somente através da Arte estes inimigos podem realmente ser combatidos, somente a Arte tem força e vocação para alcançar esse tipo de região. A violência não funciona.
Tentemos descrever o CAOS em que normalmente vive o cineasta brasileiro. Que é, como o sertanejo, antes de tudo um forte. Faz um filme de três em três anos, quando em geral já perdeu a vontade de fazê-lo. Então logo percebe que, por melhor que seja o seu filme, as rendas provindas da bilheteria são ínfimas. As cartas estão marcadas. O cineasta brasileiro precisa dos patrocínios como um bebê do leite da mãe.
Este patrocínio vem das citadas “leis de renúncia fiscal”, e quase sempre vão, pelos caminhos conhecidos, para os que têm padrinhos fortes; os mais convencionais; os que têm atores da TV reconhecíveis pelos patrocinadores; e o que é mais grave, para os filmes de alto-orçamento de preferência sem intenção artística. Dinheiro atrai dinheiro. E são os empresários que decidem que filmes devem ou não ser feitos.
Estes realizadores patrocinados auferem grossas fatias do orçamento (que já foi inflacionado pra isso) como pagamento do seu trabalho. Eles também não estão errados. Precisam sobreviver durante a longa espera do novo financiamento.
O dinheiro vai também para os filmes intelectuais, sofisticados e complicados que visam principalmente ganhar o mercado externo com nosso exotismo. São os chamados “filmes de festival” e raras vezes para filmes comunicativos como “Cidade de Deus”, “Central do Brasil”, “Os Dois Filhos de Francisco”, “Tropa de Elite”, “Meu nome não é Johnny” e poucos outros. Raras exceções. Em resumo, os filmes de baixo orçamento ficam no vermelho por ter tido pouco lançamento. Os de alto orçamento ficam no vermelho porque o gasto no lançamento é grande demais. Não é negócio pra ninguém, muito menos para o governo, que dá um passo para a frente e dois atrás, no sentido do estabelecimento na indústria de cinema brasileiro. As leis baseadas em renúncia fiscal têm em dois deletérios efeitos imediatos: a) Inflacionam o mercado insuportavelmente, já que o dinheiro não sai do bolso do produtor. b) Divorciam gravemente o filme do seu público. Não importa agradar a platéia e sim ao patrocinador, de quem depende essencialmente.
A diversidade e a descentralização são as maiores virtudes numa política cultural. Em meio a tantas opções, onde deve ser colocado o dinheiro público???
É hora da imaginação no poder. Antes que seja tarde. O que deve ser feito?
1. O governo saber que o destino do Cinema Brasileiro não pode ser resolvido por terceiros. É como terceirizar a polícia ou o a saúde pública.
Cinema é Arte, coisa especializada, da qual só entende os artistas, auxiliados talvez por uns poucos economistas e técnicos interessados no assunto. A prática de colocar burocratas frios e racionais, como no caso do último conselho, sem consultar as bases artistas é inacreditável. Apenas mais um reflexo do autoritarismo do poder atual. E depois o Governo tem de saber que dinheiro público não deve em princípio patrocinar filmes como meta principal.
Filmes são final de processo. Ponta de iceberg. O esporte já sabe disso há muito tempo. Não patrocina jogos, patrocina atletas.
O dinheiro público tem de ser usado naquilo que democratiza o fazer cinematográfico e beneficia a todos. Ou seja, na infra-estrutura da atividade. O que é isso? Ora, qualquer grupo de meia dúzia de profissionais experientes, reunidos algumas horas em torno de uma mesa é capaz de responder essa pergunta sem auxílio de institutos de pesquisa: Reserva de mercado, adicional de renda, criação de mercados alternativos, etc. E, mais que tudo, incentivo e recursos para o artista brasileiro de talento. Em particular, de talento agregador. Este sim, é a infra-estrutura da infra-estrutura. O centro, o fulcro. Claro que a produção de filmes tem que continuar, talvez sendo financeiramente a maior destinação do fundo. Parece estar sendo criado. Alguns filmes de alto ou baixo orçamento incentivam, de um modo ou de outro, toda a atividade. E portanto fazem parte da infra-estrutura.
Descrevemos acima a situação absurda do atual cinema brasileiro. Refratária a novidades, a mente conservadora impede a revolução mais por ceticismo que por autoritarismo. Ela não acredita que o mundo possa mudar.
O que importa fazer filmes num país pobre como o nosso?
Importa apenas fazer bons filmes.
Este trabalho crê que a Democracia é ainda o melhor sistema apesar de seus cruéis defeitos. Ser contra a iniciativa privada é, como sabemos, uma atitude nada democrática. Deveria haver uma linha muito especial de patrocínios para filmes independentes, feitos com recursos próprios. Do próprio bolso, filmes de risco. Sem usar o Governo. Isso significa que o produtor faz o filme por conta própria, livre na criação, e apresenta posteriormente um resultado para as autoridades competentes. Se o filme for considerado útil, de ótima qualidade, o produtor é ressarcido imediatamente das despesas feitas. Podendo assim, realizar o seu trabalho com continuidade. Coisa muito semelhante ao “Capture Venture”, política que está se difundindo nas grandes corporações mundiais e que tem tido incrível êxito em seus investimentos. Medidas assim criariam a indústria cinematográfica. É o “Edital do Filme Pronto”. Em minhas modestas limitações, tenho lutado por essa causa óbvia em muitas instâncias. Me ouvem sempre com atenção, compreendem que tenho razão. Mas nenhuma providência é tomada nesse sentido. Ao contrário. Se um filme chega a ser exibido num festival em cópia digital não pode mais concorrer a editais de finalização e lançamento! É evidente a antipatia da atual legislação pelo filme livre e independente. Não sei a que se deve esse sentimento. É talvez como o do pai que não quer largar os filhos crescidos, um apego natural ao poder.
Domingos Oliveira
O cinema é o resumo de um país. Ser brasileiro já é ser artista. Poderíamos exportar tanta arte quanto sapatos. Creio que não há nenhum detalhe errado na legislação atual do cinema brasileiro. Porque está tudo errado.
A palavra cultura hoje em dia está desgastada. Significa qualquer coisa. Futebol, televisão, artesanato, esporte, isto está certo. São as emanações criativas do nosso povo brasileiro. Igualmente desgastada está a palavra Arte. Sempre ligada, equivocadamente, a certo elitismo. Ambas consideradas de alguma forma pela maior parte dos homens do poder como lazer e diversão. Ora, num país pobre como o nosso não é possível gastar muito dinheiro em lazer e diversão. Assim sendo, a Cultura/Arte tem a menor verba do orçamento público. Errado. A Arte é formação de caráter, como a cultura, porém tem outros objetivos e poderes. A arte é a mãe da ética, da solidariedade, da honestidade, da cidadania, nasce na pobreza como na riqueza. É um regulador da sociedade sem a qual é a barbárie.
Como não podemos concorrer nos orçamentos, a única chance do cinema brasileiro no mercado externo talvez seja o filme de ARTE, filme de conteúdo. Diversão enquanto ensinamento. A arte é locomotiva. O que seria do Cinema Novo sem “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, da retomada sem “Central do Brasil”, do Teatro sem Nelson Rodrigues ou Antunes Filho? Da música sem Jobim? São as obras dos bons artistas que elevam a importância da atividade cultural. O problema brasileiro não é a FOME, nem a violência, nem a corrupção nem a impunidade, e sim a indiferença quanto a esses crimes. Ocorre portanto no interior da alma humana. Somente através da Arte estes inimigos podem realmente ser combatidos, somente a Arte tem força e vocação para alcançar esse tipo de região. A violência não funciona.
Tentemos descrever o CAOS em que normalmente vive o cineasta brasileiro. Que é, como o sertanejo, antes de tudo um forte. Faz um filme de três em três anos, quando em geral já perdeu a vontade de fazê-lo. Então logo percebe que, por melhor que seja o seu filme, as rendas provindas da bilheteria são ínfimas. As cartas estão marcadas. O cineasta brasileiro precisa dos patrocínios como um bebê do leite da mãe.
Este patrocínio vem das citadas “leis de renúncia fiscal”, e quase sempre vão, pelos caminhos conhecidos, para os que têm padrinhos fortes; os mais convencionais; os que têm atores da TV reconhecíveis pelos patrocinadores; e o que é mais grave, para os filmes de alto-orçamento de preferência sem intenção artística. Dinheiro atrai dinheiro. E são os empresários que decidem que filmes devem ou não ser feitos.
Estes realizadores patrocinados auferem grossas fatias do orçamento (que já foi inflacionado pra isso) como pagamento do seu trabalho. Eles também não estão errados. Precisam sobreviver durante a longa espera do novo financiamento.
O dinheiro vai também para os filmes intelectuais, sofisticados e complicados que visam principalmente ganhar o mercado externo com nosso exotismo. São os chamados “filmes de festival” e raras vezes para filmes comunicativos como “Cidade de Deus”, “Central do Brasil”, “Os Dois Filhos de Francisco”, “Tropa de Elite”, “Meu nome não é Johnny” e poucos outros. Raras exceções. Em resumo, os filmes de baixo orçamento ficam no vermelho por ter tido pouco lançamento. Os de alto orçamento ficam no vermelho porque o gasto no lançamento é grande demais. Não é negócio pra ninguém, muito menos para o governo, que dá um passo para a frente e dois atrás, no sentido do estabelecimento na indústria de cinema brasileiro. As leis baseadas em renúncia fiscal têm em dois deletérios efeitos imediatos: a) Inflacionam o mercado insuportavelmente, já que o dinheiro não sai do bolso do produtor. b) Divorciam gravemente o filme do seu público. Não importa agradar a platéia e sim ao patrocinador, de quem depende essencialmente.
A diversidade e a descentralização são as maiores virtudes numa política cultural. Em meio a tantas opções, onde deve ser colocado o dinheiro público???
É hora da imaginação no poder. Antes que seja tarde. O que deve ser feito?
1. O governo saber que o destino do Cinema Brasileiro não pode ser resolvido por terceiros. É como terceirizar a polícia ou o a saúde pública.
Cinema é Arte, coisa especializada, da qual só entende os artistas, auxiliados talvez por uns poucos economistas e técnicos interessados no assunto. A prática de colocar burocratas frios e racionais, como no caso do último conselho, sem consultar as bases artistas é inacreditável. Apenas mais um reflexo do autoritarismo do poder atual. E depois o Governo tem de saber que dinheiro público não deve em princípio patrocinar filmes como meta principal.
Filmes são final de processo. Ponta de iceberg. O esporte já sabe disso há muito tempo. Não patrocina jogos, patrocina atletas.
O dinheiro público tem de ser usado naquilo que democratiza o fazer cinematográfico e beneficia a todos. Ou seja, na infra-estrutura da atividade. O que é isso? Ora, qualquer grupo de meia dúzia de profissionais experientes, reunidos algumas horas em torno de uma mesa é capaz de responder essa pergunta sem auxílio de institutos de pesquisa: Reserva de mercado, adicional de renda, criação de mercados alternativos, etc. E, mais que tudo, incentivo e recursos para o artista brasileiro de talento. Em particular, de talento agregador. Este sim, é a infra-estrutura da infra-estrutura. O centro, o fulcro. Claro que a produção de filmes tem que continuar, talvez sendo financeiramente a maior destinação do fundo. Parece estar sendo criado. Alguns filmes de alto ou baixo orçamento incentivam, de um modo ou de outro, toda a atividade. E portanto fazem parte da infra-estrutura.
Descrevemos acima a situação absurda do atual cinema brasileiro. Refratária a novidades, a mente conservadora impede a revolução mais por ceticismo que por autoritarismo. Ela não acredita que o mundo possa mudar.
O que importa fazer filmes num país pobre como o nosso?
Importa apenas fazer bons filmes.
Este trabalho crê que a Democracia é ainda o melhor sistema apesar de seus cruéis defeitos. Ser contra a iniciativa privada é, como sabemos, uma atitude nada democrática. Deveria haver uma linha muito especial de patrocínios para filmes independentes, feitos com recursos próprios. Do próprio bolso, filmes de risco. Sem usar o Governo. Isso significa que o produtor faz o filme por conta própria, livre na criação, e apresenta posteriormente um resultado para as autoridades competentes. Se o filme for considerado útil, de ótima qualidade, o produtor é ressarcido imediatamente das despesas feitas. Podendo assim, realizar o seu trabalho com continuidade. Coisa muito semelhante ao “Capture Venture”, política que está se difundindo nas grandes corporações mundiais e que tem tido incrível êxito em seus investimentos. Medidas assim criariam a indústria cinematográfica. É o “Edital do Filme Pronto”. Em minhas modestas limitações, tenho lutado por essa causa óbvia em muitas instâncias. Me ouvem sempre com atenção, compreendem que tenho razão. Mas nenhuma providência é tomada nesse sentido. Ao contrário. Se um filme chega a ser exibido num festival em cópia digital não pode mais concorrer a editais de finalização e lançamento! É evidente a antipatia da atual legislação pelo filme livre e independente. Não sei a que se deve esse sentimento. É talvez como o do pai que não quer largar os filhos crescidos, um apego natural ao poder.
Domingos Oliveira
ps do blog: Temos de voltar a esse assunto. Nossa legislação sobnre cinema e teatro é autoritária e não ouvem os profissionais que entendem do assunto. Defendem idéias próprias. Muitas delas desastrosas. Enfim, sinal dos tempos.
PASSADO:
Hoje não tenho vontade de falar no passado. Sou "Sartreano". 'Não importa o que o passado fez de mim, e sim o que eu farei com o que o passado fez de mim'. Tenho pelo passado uma simples curiosidade. Embora ele seja uma caixa de surpresas. De Pandora. Revelador, passado revelador. Adianto apenas que tive um encontro longo com meu irmão mais moço, que tem a memória melhor que a minha, e soube me contar a história das fotos no tom com que Garcia Márquez escreveu "Cem Anos de Solidão". Nossos mortos do passado são todos mitos de uma mitologia particular. Também nós seremos mitos, daqui a pouco. Embelezados, adorados, simplificados.
No blog que vem inicio a minha mitologia, ilustrada por fotos.
LEGADO 2:
Meu legado fez sucesso. Meu amigo Joffily e o leitor Bayão demonstraram indícios de pegar o bastão na corrida. Sendo assim, provoco um pouco: aumento o "LEGADO 2".
{Uma mulher com dois amantes. Um muito mais velho e outro muito mais moço que ela. Penso que é uma tragédia. Que o velho planeja matar o moço, que por sua vez, planeja matar o velho, afinal são loucamente apaixonados pela mesma mulher. No desenrolar do crime, é ela quem morre primeiro. O jovem morre também. E fica quem não devia ficar: O velho sobrevive. Ou talvez seja uma comédia.}
A cena mais promissora inicialmente é o encontro do velho, chamemos Henrique com o jovem, chamemos Felipe, digamos numa mesa de bar. Os dois estão com seus assassinatos planejadíssimos e encontram-se para tentar convencer um ao outro de largar a mulher, digamos Lucille. Porque ambos inconfessadamente detestam a idéia de se tornarem assassinos. Estão evitando isso.
Talvez esse encontro seja observado de longe por Lucille que aí toma conhecimento de que os dois sabem de tudo.
Talvez esse encontro seja observado de longe por Lucille que aí toma conhecimento de que os dois sabem de tudo.
Mais um (chamemos LEGADO 3):
A mulher que casou com um homem respeitoso porque ele era respeitoso. E continuou sendo, depois de casado. Então ela é amante de um amigo do filho, um poeta. É o casal educado, que não existe mais. Não se separam nunca, porque são educados. São casais que vivem mal muito bem.
fim do post:
ontem fui ver o "Linha de Passe". Walter Salles e Daniela Thomas. Antes de tudo, que gente agradável! Quanta classe na estréia! Finos, educados, artistas de verdade. Tinham umas 2000 pessoas lá. Não consegui falar com o Waltinho (que admiro e amo muitíssimo), mas consegui mandar recado por Daniela (pessoa tão fascinante que tenho muita vontade de conhecer melhor). "Diga pra ele que o filme de vocês é grave. Uma Via Crucis." Daniela sorriu e foi embora. Esses fazem um cinema que orgulha o Brasil.
7 comentários:
Não seria bom se Lucille engravidasse de um dos dois? Mas quem? O velho ou o jovem? Seria esse mais um clichê? All we need is a new cliche.
Vou levar isso a sério, olha lá.
Abs,
Bayão
Resposta ao comentário do Bayão.
Penso que a mulher ter um filho é um pouco demais. Porém a dimensão filho é boa. Ela pode ter um garoto de 10 anos de quem Henrique não aguenta correr atrás mas adora conversar. Felipe brinca o tempo todo. Os homens tentam se odiar mas não conseguem.
Penso também que se você levou a sério, aproveite e leve.
Domingos
Penso o seguinte: perto do fim morre o jovem, mas fica o filho que ele fez em Lucille, a continuação dele. Assim o velho fica com a moça e com o filho do rival.
O triângulo de certa forma continua, mas desta vez feliz. Uma ceninha curta da criança irritando o velho como fazia antes o jovem, a moça encantando-se, o tom é leve, claro. E afinal, existem triângulos felizes?
Ou não. A criança mais velha, dez anos, facilita pra filmar. Tem isso também. Diálogos da criança com Henrique... Isso também pode ficar muito bom.
Oi Domingos, é a Dani (já na España!!) aqui é lindo, mas é muita informação, tô tentando ir com calma, pq como você diz em um dos seus poemas ... nunca pensei que pudesse sentir tanta saudade... é uma dor terrível que parece que não passa. Mas como acredito assim como vc tb diz, que um homem deve viver sobre seus princípios, e um dos meus é aguentar essa barra agora, estou fazendo muita força pra auentar!
Tava lendo o que você escreveu sobre o Gus Van Saint, que engraçado, me sinto tudo isso que você denominou os jovens, é realmente muito difícil, mas me sinto previlegiada por conhecer sua filosofia e poder pensar nela em alguns momentos. Hoje vi um musical aki em Madrid com uma mega produção e sem nenhum talento, e me lembrei muito do nosso teatro no Brasil, com tantos talentos disperdiçados... Pero, por ahora és esso, pq como disse é muita informação. Quando conseguir filtrar melhor as coisas, vou te mandar um e-mail. Merda e felicidade!!!
Um beijo,
Dani Barbosa.
tem também:
a) o cachorro esperando o sinal fechar para decidir de que lado vai. O velho senhor o observa. Quando o cachorro hesita, o velho senhor parte para os dois lados.
b) na rua a mulher abre seu espelhinho para verificar algo nos olhos quando do estojinho sobe um pára-quedas que a eleva verticalmente pelos ares até que ela pára no assento de passageiro de um táxi aéreo. 1) deve se apaixonar por quem pilota? 2) quem pilota é homem ou mulher?
estou aqui só para dizer que sou apaixonada pelos seus textos,eu tb adoro escrever quem sabe um dia eu chego lá...mas nunca comparado à você.beijos e parabéns!!
http://logoexisto.zip.net/
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