Se Deus resolvesse vir à Terra e escrever, certamente o faria pelas mãos de Dostoievski.
Num consenso geral da História, ele é considerado talvez o melhor escritor de todos os tempos. Morreu com cinqüenta e nove em 1881. Viveu portanto numa Rússia Czarista de autoridades sem limites.
No ano seguinte em que escreveu “Um Coração Fraco” Dostoievski foi preso por ter participado de discussões políticas na casa de um amigo. E por ordem do Czar, submetido à detalhada farsa de um fuzilamento, somente depois sabendo sua verdadeira pena: quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria, de onde voltaria o grande Dostoievski.
Fica difícil explicar este escritor, porque é difícil explicar um belo alvorecer para quem nunca viu um. São muitas cores, o conjunto da paisagem entontece.
“Um Coração Fraco” é uma pequena novela de sua autoria, escrita aos vinte e sete anos. Teremos portanto a oportunidade rara de ver como escreve um gênio quando jovem. Dostoievski começara sua obra três anos antes, sendo do dia para a noite eleito pela crítica o maior escritor da Rússia.
Em “Um Coração Fraco”, Dostoievski fala de pessoas simples, do amor, da felicidade. E das trevas, que impedem estes sentimentos.
É a estranha, insólita e incompreensível estória de Vassia Chumkov, jovem e humilde funcionário público, conforme foi contada a Lisanka, detalhe por detalhe, por seu grande amigo Arkaddi Ivanovitch.
As últimas palavras de Dostoievski, segundo a lenda, foram para os filhos e netos que circundavam sua cama: “meu amor por vocês é imenso, mas não é nada comparado com o de Deus por suas criaturas”. Diria eu, imitando, modestamente: Meu amor por Dostoievski é imenso. Mas não é nada comparado com o dele por seus personagens.
PS. Quem não leu Dostoievski, não sabe o que está perdendo. É por inadvertência um idiota. Como caminhos para sair desta idiotice, recomendo começar por “Humilhados e Ofendidos” ou “A voz subterrânea” ou “Noites Brancas” ou “O Jogador” ou ir ver a peça no Sérgio Porto a partir deste fim de semana. Uma excelente primeira direção de Priscilla Rozenbaum com um brilhante elenco encabeçado por Caio Blat. Prepare o seu coração! E depois escreva para o meu blog, dizendo o que achou.