terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O acontecimento do Natal é, sem dúvidas, aquela deusa que apareceu ao lado do Rei, cantando e deixando cantar, tão estrela quanto ele. O nome é Paula Fernandes. Ela é uma profissional.  Do encanto. Tenho vontade de escrever um personagem assim, com esse poder. Mulheres que não querem ser desejadas, elogiadas, querem ser amadas. Não querem homens que gostem delas, apaixoná-los todos, é o mínimo. Numa primeira versão moralista, a história não teria um happy end. A “alumette” (aquela que acende o fogo, palavra que não existe em português) acabaria queimada por ele, como aquela história horrível de um livro da minha infância, da menina que caía no lago e gritava para mãe “socorro, estou me afogando!” para depois, diante da mãe aflita, ficar às gargalhadas. Até o dia que era verdade, ela gritou e a mãe não veio, porque não acreditou. Mas a alumette é uma figura da glória da vida. Todo mundo se perguntava: “Será que o Rei está comendo aquela maravilha, provando mais uma vez a sua realeza”? Talvez, não importa. A Paula é linda. E isso basta.

Mas o Roberto... Não é só a dor na perna. Ele está triste, triste de não ter jeito, como diz o poeta. Tem uma extrema melancolia inexorável de quem viveu uma bela vida e agora envelheceu.  



segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Minha carta para a nova Ministra da Cultura Ana de Hollanda teve uma ótima repercussão de vocês e dos amigos do facebook, obrigado. Quando ela for empossada, pretendo procurá-la com um "modelo" de uma Secretaria da Arte dentro do Ministério da Cultura. 
Propor essas coisas às vezes é delicado, não quero ofender ninguém. Cada um tem a vida que quer e faz o cinema que quer. De modo que peço a vocês que cuidem junto comigo da clareza e da delicadeza do documento. E mandem impressões.

um beijo
Domingos

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CARTA ABERTA À MINISTRA DA CULTURA, ANA DE HOLLANDA


IDEÁRIO DE DOMINGOS OLIVEIRA
Sobre a Legislação de Cinema e Teatro
possível subsídio para a nova Ministra da Cultura
Ana Buarque de Hollanda

No início, era um divertimento. Divertir-se é necessário. A rotina enlouquece. Depois surgiu uma coisa chamada Arte, que pertence à essência da humanidade. Reis e imperadores perceberam que ela melhorava o caráter dos homens. A honestidade, a espiritualidade, a cidadania, a ética...

...A Arte, dada sua singular importância, não deve depender do mercado para existir. É uma atividade de utilidade pública. Nas atuais concorrências, a Arte não tem valor. Contam pontos os financiamentos obtidos, apoios, se os atores são famosos. E, o que causa mais indignação, quanto seu último filme obteve de lucro. O que seria ótimo se estivéssemos falando de amendoins. Nem roteiro pedem mais!...

...Os produtores, distribuidoras e burocratas dirigentes tem como certo dar ao público o que ele quer. A função do governo é dar ao público o que ele precisa.
Ouço o riso desagradável dos industrialistas: "Nunca saberemos o que o povo precisa". Discordo...

...No início do ano, na Folha Ilustrada, o diretor do departamento cultural da Inglaterra Michael Elliot disse coisas surpreendentes de tão óbvias. "Repassamos recursos para o Arts Council, que é a agência responsável pelo desenvolvimento das atividades artísticas. Neste caso, damos os recursos e debatemos as prioridades, mas não interferimos nas decisões. Até porque os membros do Arts Council têm grande expertise, e temos investido na formação desses líderes no setor cultural."...

...Lamento dizer que não há apenas detalhes errados na nossa atual legislação. O caminho está errado porque não leva a devida consideração à Arte. E o primeiro Ministro forte e lúcido que reconhecer essa situação de erro seria, em futuro próximo, um herói da pátria...

...A prova inequívoca que há algo errado na legislação atual é que a bilheteria não paga o produto e os relatórios dos filmes ficam sempre em vermelho. A situação é de dependência e paternalismo evidente. Porem de solução simples. Dentre outras coisas, cabe criar linhas de financiamento para os “filmes prontos”. Isso significa que o produtor faz um filme do próprio bolso e apresenta um resultado para o MinC. Se o filme for considerado útil para o cinema brasileiro, o produtor é ressarcido das despesas feitas. Se não, não...

... É preciso apoiar a iniciativa privada, o capital de risco, que tanto falta nesse país. Não há indústria sem continuidade. Atualmente, acontece o contrário, não me pergunte o por quê. Se um filme chega a ser exibido num festival em cópia digital não pode mais concorrer a editais de finalização e lançamento! Se começa a ser produzido, a produção não pode mais ser patrocinada. É exigida a enganosa virgindade do roteiro. O “edital do filme pronto” é necessário e urgente. Não podemos permanecer para sempre dependentes de imprevisíveis e influenciáveis patrocínios...

...O resultado direto das Leis de incentivo fiscal é tornar mais importante conseguir ou ganhar os citados patrocínios do que agradar ao público...

...Claro que no cinema brasileiro a diversidade é a alma do negócio. A descentralização é essencial e todo tipo de filme deve ser feito...

... É preciso facilitar a existência do filme independente, garantindo seu ressarcimento em caso de boa qualidade. Esta política reincentiva o trabalho em cooperativa, procedimento básico de cidadania...

...Esta política aponta na direção de bons filmes. O que importa fazer filmes num país pobre como o nosso? Importa apenas fazer bons filmes. O que seria do Cinema Novo sem “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, da retomada sem “Central do Brasil”? São as obras artísticas, as obras de autor, que elevam a importância social e econômica das atividades culturais. E são elas que abrem os mercados externos...

...Pouca gente sabe o que é a Arte. E quem sabe não tem a pedagogia necessária para explicar. A Arte faz parte da Cultura, mas não é a Cultura. É maior e mais importante que a Cultura, por mais importante que seja. Ou pelo menos pertence a outro departamento. Cultura é Educação. É uma coisa que se preocupa, que aprende, que bebe na fonte do passado. E nada mais importante no Brasil do que a educação, sabemos todos. Porém a Arte é a locomotiva da Cultura. É o arauto que anuncia o futuro. A Arte diz respeito àquilo que não existia ainda, e está sendo criado. A Arte defende a humanidade.
A Arte é transcendente. É a mais forte arma de comunicação, recurso didático para tornar os homens civilizados. A Arte ensina aos homens seus maiores valores. O amor, a dignidade, a honra, o patriotismo, a cidadania, a solidariedade. Por causa deste nobre alcance, a Arte jamais é citada em debates públicos. A massa burguesa da maioria encarregou-se nos últimos séculos a desmoralizar a palavra Arte. Segundo estes tolos, a Arte é uma coisa desnecessária, fútil, em geral exercida por gente que não gosta de trabalhar. Quando, na verdade, a Arte é o único trabalho verdadeiro...

...Um país pobre como o nosso não pode gastar dinheiro público com filmes e peças ruins. Somente devem ser feitos peças e filmes bons! E quem vai decidir o que é bom ou ruim? O único que pode julgar a arte é o artista. Ou aquele que tem um compromisso sagrado com Ela. E não é difícil reconhecer esse tipo de gente a primeira vista. É aquele que ama realmente a sociedade e constrói uma vida sobre esse amor...

...Muitas vezes um filme bom, realizado num sentido humanitário, ou seja, com Arte, fracassa na bilheteria. É preciso compreender o fracasso da Qualidade. Muitas coisas levam o espectador ao cinema, além da qualidade: O número de cópias; O número de cinemas em que foi lançado; Se tem ou não artistas da Globo ou outros igualmente midiáticos, etc. Os filmes devem chegar ao coração da platéia. A diversidade ainda não é o valor maior. E sim, a comunicabilidade...

...Não há nenhum vestígio na Legislação Brasileira de Cinema de medidas que protejam decididamente esse tipo de filme: o filme comunicativo de Arte. Muito pelo contrário. O resultado é que filmes ótimos como o recente “5x Favela” dão pouca bilheteria, por falta de infra-estrutura de distribuição e lançamento. E cada vez mais se considera como valor magno a bilheteria bruta. Aquilo que o filme rende em dinheiro, como se esse fosse seu único valor. Apenas por exemplo, a TV Globo estabelece o valor financeiro dos filmes que compra através de bilheteria. O próprio índice bilheteria/cópia, mais representativo do que a bilheteria bruta, não é divulgado. Bilheteria é importante, sem dúvida. Até numa obra de arte. Tudo de que eu ouvi falar até hoje chegou até mim porque deu dinheiro. Beethoven deu dinheiro. Kafka deu dinheiro. A arte é invencível. Mais cedo ou mais tarde ela alcança a todos e dá dinheiro. Muitas vezes, fora do período de vida do artista. Que, por isso, produziu menos. É uma lástima...

...Recentemente um filme que reunia Arte e comunicabilidade alcançou um número recorde de bilheteria: TROPA DE ELITE II. Antecipado por alguns outros filmes sem tanta arte, que também deram ótimas bilheterias, provocou uma onda ideológica que tomou conta do mercado. Que aqui chamarei de “Industrialismo”. No momento, somente atrai a atenção dos patrocínios esse tipo de filme de blockbuster nacional. Esta atitude é tão nítida e possui critérios tão fechados, que está ofendendo o próprio princípio da diversidade, obrigatório porque vivemos num país diverso. Os filmes “menores”, por melhores que sejam, não merecem atenção dos patrocinadores. O blockbuster “Tropa de Elite II”, e também alguns filmes espíritas e algumas comédias caracterizadas pela presença de atores midiáticos, monopolizaram o mercado. Esse tipo de cinema demonstrou ser um bom negócio, abafando todos os outros tipos. Tudo estaria certo se o cinema fosse um negócio. Mas não é. É uma Arte. A Arte do século XX. São os filmes de Arte que alimentam as indústrias. São neles que a indústria encontra sua possibilidade de renovação...   

...Proponho, reivindico e afirmo a necessidade da criação, através do MinC, da Secretaria da Arte. A Secretaria da Arte regida por artistas. Fora de qualquer suspeita, privilegiando apenas o mérito artístico. Esta poderia apoiar filmes de alto ou baixo orçamento, sobre qualquer assunto. Desde que sejam filmes de Arte...

...Preconizo a volta da meritocracia artística. Caso contrário, estaremos diante do primado da mediocridade. Da idéia inútil e repetida, da mensagem conformista. Do mercado tem muita gente cuidando. Da arte, que é seu fulcro, ninguém está cuidando...

...A incompreensão das autoridades e dos burocratas responsáveis sobre este ponto fundamental é o problema do cinema brasileiro. Para completar, por favor, ninguém levante o argumento de que é difícil e subjetivo julgar o que é ou não é arte. Mentira! Mentira maliciosa! A arte brilha como o sol...

...Disposto à discussão destas idéias, me armo com a lanterna da paciência e continuo por aí batendo de porta em porta pedindo, com se fosse um prato de comida, uma inteligente compreensão. Daí a minha euforia diante da escolha da nova Ministra. Que, por ser quem é, certamente compreende, detém o segredo, possui a chave do cofre essencial da Arte...
...Uma esperança move meu coração.  

Encarecidamente,

Domingos Oliveira
Autor, diretor e ator de teatro, cinema e TV.
Mas, principalmente, Artista.
Rio, 22 de dezembro de 2010.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

21 de dezembro.

Princípio de verão. O dia mais longo e a noite mais curta do ano.


Furacão causou grandes inundações na Holanda, em 1163.

Em 2012, será o final do Calendário Maia, marcando 5125 anos.

Aniversário de morte de Nelson Rodrigues e Fitzgerald.



Nesse dia absolutamente comum, acordo às seis da manhã em estado epifânico. (Epifania é uma súbita sensação de realização ou compreensão da essência ou do afeto de alguém. O termo é usado nos sentidos filosófico e literal para indicar que alguém "encontrou finalmente a última peça do quebra-cabeças e agora consegue ver a imagem completa". O termo é aplicado quando um pensamento inspirado e iluminante acontece, que parece ser divino em natureza )

Ontem passei um dia, como costumam ser os últimos dias, mal.

Acordei concluindo. Sou um homem cansado, isso é que sou. Fisicamente cansado. O que não deve ser bom para a saúde, posto que é um pecado e pecados são punidos. Resolvi então mudar de vida. Mas antes explico.

De muito tempo para cá, virei um workahoolic. De verdade, sem falseta. Convencido de que distrair-me com o trabalho era o único modo de escapar da angústia da morte, cortei o conceito de férias do meu pensamento. Nos últimos anos, trabalho o dia inteiro. Então estou cansado. Não tomo férias há algum tempo. E me deu vontade de fazer isso. Para tal, é preciso pensar o que são férias, afinal. Não são dias em que você não faz nada. Ao contrário. Devem ser dias intensos, lúdicos, porém de brincadeira e sem grandes esforços. Bem, minha inibição é tanta de pensar sobre esse assunto, que prefiro numerar as características. O que seriam férias para mim?



1. Ir dormir quando estou com sono.

2. Fazer exercício físico e apanhar sol. Porém essas duas rotinas são apenas uma base tola.

3. Não fazer nada que não provenha diretamente do prazer e da diversão. E da alegria! Mesmo que com esforço. Mesmo ficando cansado.

4. Para isso, durante as férias, investir dinheiro em mim mesmo. Não me importar com o dinheiro. Na certeza de que ele virá, se eu estiver descansado depois das férias.

5. Amar intensamente! Gastar perdulariamente tempo nestas atividades.

6. Enfim, estar em férias é não fazer nada desagradável. Nada que custe angústias.

7. Usar a casa de campo dos amigos.

8. Visitar amigos distantes.

9. Comprar presentes de Natal.

10. Seguir de perto os trabalhos mais proveitosos é uma atividade prazerosa pelos frutos que podem render. Também não é preciso ser tão vagabundo assim.





Deve haver outras características, enumerarei mais tarde. Porém uma coisa é certa. Não se pode passar muito tempo em férias. Se não é a ruína, a bancarrota, o fracasso, a depressão.

Será que a agenda das férias pode ser extremamente cansativa? Mas não permitirei isso, juro. Não permitirei. Pensarei que o corpo descansado é o berço dos prazeres. E o alimento da alma é o oxigênio.

Repito que tenho pânico do chamado lazer. Pânico de tudo o que planejei acima. Porque eu sei que sem a obsessão do trabalho pensarei na morte e no absurdo. Mas certamente viverei mais, menos absurdamente.

Para terminar, uma das principais razões dessa minha epifania da vagabundagem, foi a Ana de Holanda ter ido para o Ministério da Cultura. Vindo de onde vem, ela deve saber do segredo, deve ter a chave do cofre. Deve ser possível aliciá-la para a causa da Arte.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010


Discute-se o salário do Presidente, dos Ministros, Juízes etc. Pergunto o que vale o salário para um homem desses. Que é continuamente bombardeado por constantes ofertas de corrupção das mais criminosas até as outras, sutis e indiretas, sem nenhum risco Legal. A resposta é simples. Um bom salário poderia servir de defesa a essas tentações. Mas o que são salários comparados com os favores que são oferecidos apenas em troca de um cumprimento ou sorrisos? Em todo caso, temos de apoiar toda a chance contra a corrupção. 99,9% de chance de não fazer efeito, mas...
A corrupção é a linguagem do país. É impossível participar do poder sem cair nela. O que está em jogo são valores, apenas valores. A questão é cultural.  
Dá o aumento deles e arranja algum pro Lula também, que ele merece e está reclamando.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

ABSURDOS BRASILEIROS QUE NINGUÉM COMENTA

O Presidente da República tem direito de escolher seus ministros por motivos políticos, e não pela competência de cada um na área do Ministério???
Isto não é uma sacanagem com o Brasil? Você não acha que o próximo Ministro da Cultura deveria ser uma pessoa de cultura geral e alto nível, e não um professor de História? Ninguém comenta! Comente.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

MEUS PRÓXIMOS PROJETOS, SE DEIXAREM.



Um artista vive sempre em grandes ansiedades. Por causa dos patrocínios, quero dizer. A situação atual do teatro brasileiro proíbe terminantemente que você faça alguma coisa sem os patrocínios. Já tentei e eu sei. E quando vem a lista dos premiados e você não está lá, você se considera o pior do mundo. Preocupado e rejeitado. Afinal, não gostam de você.
Enfim, é um sentimento que o autor deve compartilhar. Por isso ponho na rede a que estou concorrendo, com o quê e por quê.
Que vocês torçam por mim! Se possível, espalhem, até alcançar as cabeças que decidem.
Nos próximos dias vem a resposta dos Correios e da Petrobrás.
Nos Correios entrei com um espetáculo chamado “Uma dúzia de rosas”
E é a forma atual do espetáculo que me parece justificá-lo.
Não se trata de um espetáculo sobre Noel Rosa, exatamente. É um grupo de boêmios que se reúne num bar e o assunto cai, por assim dizer, em Noel. E correlatos: os artistas que morrem cedo (Janis Joplin, Kurt Cobain), o poder da fama, etc.
E, principalmente, a vida de Noel, que é recordada ali, e batucada sobre a mesa de botequim (artefato especial), mesa trucada para percussão por Domênico Lancellotti! Toda representação, desde o início, possui uma grande alegria, mas também uma estranheza. É que na verdade estamos vendo o delírio de morte de Noel. Todo tempo é isso. O que confere ao espetáculo uma grande liberdade formal.
Na Petrobrás, entrei com meu filme “Inseparáveis”. É definitivamente o meu melhor roteiro, um marco na minha vida de escritor. Eu, que sempre me considerei um autor de “comédias comoventes”, que acho que o riso só se torna nobre com a lágrima, que acredito nas histórias de amor e que faço grande esforço para que minhas obras NÃO pareçam sérias, acho que esse “Inseparáveis” completa uma trilogia. Uma fatia definida de minha obra. “Todas as Mulheres do Mundo”, “Separações” e “Inseparáveis” contam na verdade uma estória continuada, que poderia constituir um romance de muitas páginas. Uma estória de amor, acompanhada do seu nascimento até a sua morte.
A história conta a odisséia de Oliveira Brandão e Pink Pontes, que premidos pelas repressões do casamento, embora se amem loucamente, decidem se separar. O que vem em seguida surpreende. Não é uma separação de verdade. É uma separação para os outros, uma separação aparente, para que possam ser mais livres. Na verdade o casal encontra-se regularmente num pequeno apartamento do Recreio, protegendo-se com o maior sigilo. Sua intenção é poder ter relações fora do casamento. Sem a dificuldade do julgamento dos amigos, poderão talvez controlar seus ciúmes. E ser felizes, livres. Neste momento poderão desmanchar a mentira. Esta é a estratégia almejada, para o beco sem saída do casamento. Porém tudo se complica quando ela resolve dirigir um espetáculo chamado “12 Homens e uma sentença” e ele, fazer um filme sobre o início do namoro dos dois, tendo como protagonista uma linda jovem de 18 anos. Enfim, creiam, é um filme profundo e engraçadíssimo. Repito, o melhor que fiz.

De modo que peço a torcida de vocês. Ainda não foi escrita a oração dos candidatos ao financiamento, mas por favor reze essa nos próximos dias 13 e 17 de dezembro, respectivamente. O “Inseparáveis” já foi recusado em 3 concorrências semelhantes, acho que não devem ter lido...
Mas com a torcida de vocês, quem sabe?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CURSO DE DRAMATURGIA PARA ESCRITORES E ATORES



Gente que me acompanha,

Tribo,

Estou querendo dar um curso de dramaturgia diferente. Como nunca ninguém fez. Seria um curso de um mês com carga horária semanal de 8 horas (sábado e domingo) onde eu me proponho, através de um tema escolhido, escrever um filme na frente dos alunos. Abrindo todo o processo da criação, perguntando, duvidando, respondendo, deixando que os alunos sejam colaboradores da obra e vejam as angústias do autor!

Seria o modo mais eloqüente, tenho certeza, de transmitir meus conhecimentos sobre esta antiga arte de contar estórias. E uma oportunidade única para o jovem escritor ver como trabalha um profissional da área em plena atividade.

Bem, não quero vender mais meu peixe. Porém não quero entrar no escuro nessa e ter de dar o curso para pouquíssimos alunos.

Esta nota é uma prospecção através da internet de quem estaria interessado num curso assim, para decidir se ele vai ser feio. Desvantagem: teria de ser caro, o curso. Necessita muita preparação e dedicação de minha parte. Não muito caro. R$ 1.000,00 por aluno, por um mês. Não se esqueçam que provavelmente o filme que será escrito será rodado, em regime de baixíssimo orçamento. E a equipe e elenco sendo constituída pelos alunos do curso que mais se destacarem.

Aos interessados, deixem seus contatos aqui.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Prêmio Contigo de Melhor Comédia.




Amigos


A peça "Do Fundo do Lago Escuro" esta concorrendo ao Prêmio Contigo de
Melhor Comédia.


Entrem no site e votem. Divulguem aos amigos para votarem também!



http://contigo.abril.com.br/eventos/premio-contigo-de-teatro



CLIQUE EM "VOTAÇÃO" E ESCOLHA O "FUNDO"

domingo, 31 de outubro de 2010

CARTA A DILMA


ELEITOR INDECISO ATÉ O ÚLTIMO MOMENTO, RESOLVE COMO VOTAR
Meu nome foi prematuramente colocado sem a devida consulta na lista de eleitores da Dilma, por ocasião do evento dos intelectuais no antigo Teatro Casa Grande. Não mandei retirar porque estava na dúvida se votava ou não no Lula. Quero dizer, na Dilma. No 13, enfim. Lula fez um excelente governo voltado para os pobres e este é o maior elogio que se pode fazer a um governante brasileiro. É difícil retirar a primazia desse mérito. Lula tem um compromisso de ordem superior inconsciente com o povo. Baseado nisso e no fato de que minha turma votava em Dilma, deixei conservar meu nome na lista. Nem liguei. Desde então tenho sido acometido pelas graves preocupações constantemente apontadas pela mídia: a alternância do poder. A gravidade do presidente ao utilizar a marca oficial para eleger sua candidata. O mal cultural terrível que representa para uma nação ver seu presidente menosprezando a lei, jogando com ela a favor dos amigos e contra os inimigos. A ponto de ameaçar a liberdade de imprensa. De entender uma das poucas liberdades comprovadas pela humanidade: que os fins não justificam os meios, sendo este o lema do demônio. Porém minha lista de medos não me deixava dormir. O polvo Paul, dizem que morreu para não ter que escolher entre Serra e Dilma. É uma batalha inglória por falta de qualidade dos candidatos. Essas dúvidas me atormentavam porque é inegável a tendência autoritária e a prática de represália do PT contra os que não se aliam incondicionalmente. E a conseqüente probabilidade de termos a evolução disso sob a forma de uma ditadura.



Por outro lado, de um modo ou de outro estamos salvos, vejam o que é a vida. Existe o lado alegre da História. Se Serra ganhasse, Lula lideraria uma excelente oposição, equilibrando assim os defeitos da democracia. E mesmo com a vitória anunciada de Dilma, acontecerá certamente o mesmo. A certa altura do campeonato, a criatura se volta contra o Criador, como em Frankstein. E Lula fará oposição do próprio PT. Resumindo, tudo depende dele, de Lula, o herói popular. Eu sempre soube do poder da ação individual. É o nome dos homens que aparece no livro da História, não dos partidos. Lula, Luís Inácio da Silva, que no início me pareceu uma figura desimportante, ensinou-me outra vez que o ser humano é surpreendente. Alegrado pelo poder, transformou-se em poucos meses num líder verdadeiro. Provou que é um homem inteligente, esperto, audacioso, um verdadeiro astro que entra inesperadamente na cena do drama político brasileiro. É com ele que devemos nos preocupar. Ele é o homem. Ele é a força. Quem sabe então se o Deus dos políticos e do povo não concede a Lula a lucidez de lutar contra todos esses perigos acima indicados. E, baseado em sua origem, conservar, defender e entregar ao povo brasileiro uma verdadeira democracia? Lula é inteligente. Homem inteligente pode tudo. Deve ter dentro dele o poder da autocrítica e a intuição dos caminhos corretos que constroem a humanidade. Voto em Dilma não porque me botaram na lista, mas por confiança na pessoa do Lula. Talvez ele saiba diferenciar o joio do trigo daqui por diante e nos quatro ou oito anos de governo que o esperam a partir de 2014. Ele compreenderá que mais que a figura do esperto simpático Macunaíma, que dá um jeito em tudo, o Brasil quer e merece um verdadeiro estadista. Um homem que defende a lei, aquilo diante de que todos os homens são iguais. Obedecendo a lei, mesmo perdendo com isso, mesmo discordando dela, até o momento em que possa mudá-la. É com esse estado de espírito que estou saindo para andar os poucos quarteirões e tocar no botão. Votar. Na Dilma, como afirmava a lista. Ou Nulo, se a minha mão tremer pelo destino do Brasil. Senão teclarei 13, embora seja um número bastante suspeito ligado à falta de sorte. Na certeza de que Dilma já está eleita e agora a obrigação do verdadeiro cidadão é aplaudi-la, amá-la confiantemente, colaborar no possível para ajudá-la na nova e difícil missão que a espera. Viva o Brasil e todas as suas contradições!

sábado, 30 de outubro de 2010

LANÇAMENTO DO "JUVENTUDE" EM DVD

http://www.youtube.com/watch?v=XOj7beJummc

Aviso aos amigos que saiu, finalmente, o DVD do meu filme JUVENTUDE. Procurando bem, pode ser encontrado em locadoras: TODAS AS MULHERES DO MUNDO, EDU CORAÇÃO DE OURO, AMORES, SEPARAÇÕES, FEMINICES, CARREIRAS... e agora, JUVENTUDE!

Já é alguma coisa.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

CARTA ABERTA AO PREFEITO EDUARDO PAES



Prefeito,
Tivemos uma vez juntos, aqui é o Domingos Oliveira. Atrevo-me a tomar seu tempo com este email por causa de uma situação embaraçosa que vem acontecendo entre a classe cinematográfica representada no caso pela ABRACI, no que diz respeito à Riofilme e sua política e, indiretamente, a V.S.
Sem fazer teoria, a Riofilme é uma empresa destinada a fomentar o cinema carioca, esta jornada brilhante que vai da chanchada, “Rio 40°”, “Todas as mulheres do mundo”, e chega hoje ao “5x favela” e vários outros bons filmes.
O bom filme, eu tenho certeza que o senhor sabe disso, não é obrigatoriamente um filme de grande orçamento com uma cara produção. Ao contrário. O filme que constrói o cinema e alimenta as grandes bilheterias é exatamente o filme médio, inspirado e comunicativo, que a Riofilme no passado sempre apoiou. O filme médio permite mais riscos e, sem poder errar, não é fácil acertar.
Por circunstâncias incompreensíveis, a Riofilme atual resolveu quebrar nossa fidelidade com a diversidade cultural do Rio e apoiar não os filmes de conteúdo que precisam de dinheiro e sim aqueles que dão bilheteria.
É claro que um filme de conteúdo pode ser de grande produção e resultar em recorde de bilheteria, como o praticamente inigualável “Tropa de elite”, do qual todos nos orgulhamos. Mas o ‘Tropa’ não precisa do Governo para lhe pagar cópias. O mercado faz isto sozinho.
Esta situação é constrangedora e absurda, além de mal informada. Um órgão público tem a obrigação de fomentar a boa Arte. Os filmes de grandes bilheterias, preocupados com o mercado, já encontram neste a sua proteção.
Se disséssemos em qualquer país estrangeiro que um órgão do Governo prioriza deste modo o mercado, causaríamos risos, por denotar a ignorância da necessidade para a sociedade do filme de Arte, de autor, ou até mesmo o “Cult” ou “cultuais”, expressão criada com muita graça porém inoportunamente pelo presidente do citado órgão.
E o pior de tudo é que esta posição politicamente incorretíssima envolve V.S. posto que consta ter o seu apoio, coisa na qual absolutamente não acredito. Não seria possível, vista sua posição lúcida e eficiente em outras áreas, o que o torna um dos melhores prefeitos que esta cidade já teve.
De modo que ofereço-me aqui para esclarecê-lo sobre este assunto na qualidade de cineasta do Rio de Janeiro há cinco ou seis décadas.
Sr. Prefeito, a Arte é necessária para a saúde mental da população. O mercado não gosta dela, isto faz parte do seu feitio e essência. Os homens lúcidos no Poder tem de compreender a importância social da Arte e criar condições para que ela seja gerada.
O Brasil, não apenas o Rio, tem muitas carências. Não é preciso fazer filmes no Brasil, devemos conter nosso industrialismo. O Brasil precisa fazer filmes bons que retratem o país. E, em particular, que glorifiquem a Cidade Maravilhosa em que vivemos.
Basta olhar os livros de História do Cinema para perceber que são os filmes de Arte, de autor, que quebram as barreiras do mercado externo. O que seria do Cinema Novo sem “Deus e o diabo na terra do sol” ou da Retomada sem o “Central do Brasil”?
As teorias da atual Riofilme não apenas estão erradas como envergonham a cultura desta cidade.
Bem, creio que está claro o meu recado.     
Agradecendo a sua atenção, permita que eu seja seu eleitor na próxima oportunidade, como fui na última. Levando à sério a gravidade da questão exposta acima.

Seu,
Domingos Oliveira
cineasta

sábado, 9 de outubro de 2010

11 motivos para considerar "Tropa de Elite 2" um grande filme


11 (onze)

MOTIVOS PARA CONSIDERAR

“TROPA DE ELITE 2” UM GRANDE FILME

Para José Padilha e Luiz Eduardo Soares

1) A magnífica interpretação de Wagner Moura, insuportavelmente sincero. Wagner será sem dúvida e brevemente ator disputado pelo mercado internacional. Temos de ter cuidado para não perdê-lo.


2) O grande feito de um filme é juntar, como disse Brecht, diversão com ensinamento. “Tropa” é um gol nesse sentido. Eletrizante e profundo.


3) Pela coragem de José Padilha de abordar tão diretamente questões delicadas e presentes como as milícias dos morros. A coragem é uma das maiores virtudes humanas.


4) Pela objetividade de José Padilha ao reger o roteiro fazendo-o chegar a Brasília e depois de alguma forma premiando o Capitão Nascimento com a vida de seu filho. “Tropa” é tão emocionante que pode até influenciar no segundo turno.


5) Pela tenacidade e talento pelos quais José Padilha conseguiu tanto dinheiro para fazer este filme. Certamente vindo de fontes que ele, nem tão sutilmente assim, ataca.


6) Provar a possibilidade de o filme estourar bilheterias mantendo-se como filme de arte.


7) “Tropa de Elite 2” é o arauto, anuncia o futuro. Inaugura uma fase do cinema brasileiro na qual mais uma vez imitaremos os americanos, só que agora em uma das suas melhores virtudes. O grande cinema americano sempre fez filmes (de Grifth a Carlitos, Capra, Spielberg) com ênfase central na crítica de sua própria sociedade. Crítica franca, direta, ofensiva. Que é exatamente o que faz a “Tropa de Elite 2”. Que, sendo um mega sucesso, criará obrigatoriamente seguidores. E que será também benéfico para o nosso país.


8) Pela linguagem cinematográfica de José Padilha, baseada no modo de fazer usual do cinema americano porém com extrema competência, clareza, comunicabilidade e por que não dizê-lo, poesia.


9) Pela magnífica atuação dos atores no filme. Lembra Costa-Gravas nos seus melhores resultados, como é citado em uma cena. Sendo um filme político era preciso que os atores representassem politicamente. E é exatamente o que Padilha consegue. É impossível não destacar alguns, embora sejam todos excelentes: Irandhir Santos, Sandro Rocha, André Mattos, Maria Ribeiro!


10) Pela excelente dramaturgia do final do filme. Dizem que o final ideal de um filme ou peça teatral é aquele que diz algo que não foi dito antes na obra inteira. Algo que ilumina a narrativa para trás, como um farol retrovisor. Esse tipo de final é dificílimo de atingir, como em “O Inimigo do Povo” de Ibsen ou “Romeu e Julieta”. No momento em que o filme do Padilha, surpreendentemente pula para Brasília, cria um final excelente. Lança luz sobre todo o resto.


11) Em meio ao entusiasmo que o filme desperta, vem um sentimento ruim de desesperança e desespero. Posto que o filme nega o poder modificador de qualquer ação individual e, portanto, do próprio filme. Esta é uma questão filosófica grave, importante, que o filme levanta como resultado final. Quando responsabilizamos o sistema considerando-o uma força irreversível, de alguma forma não responsabilizamos ninguém. Muitos sistemas já foram desagregados pela ação individual. Mais um mérito de José Padilha em seu grande filme “Tropa de Elite 2”: levantar esta questão.




Domingos Oliveira


09 de outubro de 2010

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Carta Aberta ao Ministro Juca Ferreira

O próximo Ministro da Cultura... Provavelmente vai continuar sendo VS, que não conheço pessoalmente mas que me parece um homem digno e vigoroso. Inteligente. Corajoso. É bom que seja tudo isso porque terá de enfrentar muitos desafios internos que são os mais duros de vencer. O Ministro teria de fazer um exercício de humildade. O que é dificílimo, quando se está no poder, porque pode ser interpretado como fraqueza. O Ministro terá que se desfazer de muitos preconceitos e conceitos anteriores sobre o cinema. Mas creio que VS tenha a estatura espiritual e humana necessária. O Ministro terá de compreender que toda política cinematográfica repousa em princípios errados herdados de outros governos menos democráticos.
Não tentarei argumentar: essas Leis estão aí há muito tempo. O resultado é
que
95 a 99% dos filmes brasileiros não se pagam. Portanto, as Leis que
estão aí, embora há muito tempo, não funcionam. Isto é inegável! É preciso
criar novas. Baseadas em princípios mais fecundos. Quero dizer, será preciso o Ministro tomar para o Ministério todo o dinheiro do incentivo fiscal, que está longe de ser pouco, para que ele, o Ministério, formule uma política inteligente para a grande catedral do cinema brasileiro. Não temo que uma linha de conduta deste porte conduza ao dirigismo ou a um excesso de Poder do Estado. Se por acaso acontecerem estas coisas, combateremos e acabaremos com elas. Os perigos de uma idéia não podem fazer com que desistamos dela, se for uma idéia certa. Inteligência e grandeza não nos faltam, enquanto nação. Mas a verdade é que estamos fazendo talvez o pior cinema da América Latina. Por quê? Por quê, Ministro?
O Ministro terá de compreender que a importância da indústria
cinematográfica é determinada pela qualidade dos filmes que se faz. E longe de mim querer referir-me à qualidade técnica. Esta é um adorno que vem como conseqüência. E longe de mim querer medir filmes pela bilheteria que fazem. Isto seria indecente. Refiro-me à qualidade Artística. Ou melhor dizendo, a necessariedade do filme. Somente com filmes de conteúdo, não contingentes, balançaremos a estrutura do mercado interno a ponto de entreabrir suas portas, assim sempre foi e sempre será. É o artista. É ele que fará a mudança. A revolução. Talvez estivessem com a razão nossos predecessores que tinham o Ministério de Educação e Cultura. Cultura faz parte da Educação. É ineficiente pensar uma separada da outra. E Cultura não é Arte. A medida da Arte é a importância humana do filme, sua capacidade de melhorar vidas, é o principal. Sua capacidade de melhorar vidas! Daí nasceu tudo e para aí deve tudo regressar.

O Ministro terá de colocar em segundo plano o “industrialismo”, o cinema que almeja apenas divertir e ganhar dinheiro, alcançando todas as classes sociais, em outras palavras, dar ao povo o que ele quer. Para um produtor independente, isto é perfeitamente válido. Para o Governo, uma atitude indecente. O Governo deve dar ao povo não o que ele quer, mas o que ele precisa. No nosso caso, as lições da auto-estima, do caráter, da ética, da solidariedade, da cidadania, das boas relações humanas, enfim, da Arte. A Arte é a locomotiva, este é o desafio que o Ministro terá de enfrentar. Um desafio espiritual. Como isto pode ser conseguido? Ele saberá responder. Eu sou apenas um artista.

Não clamo por um Ministério da Arte. Gostaria, mas sei que estamos longe disto. Este da Cultura está bom, se não pensarmos que é a menor verba da União.

O Ministro deve resolver muitos problemas sérios. Vai ter que colocar a imaginação no poder e ser razoável, pedindo o impossível, como os estudantes de Paris em 68... Negar muita coisa em que já acreditou. E crer em novas.

O filme brasileiro tem de se pagar no mercado interno. Para isso os métodos estão apontados. Reserva de mercado, adicional de renda e principalmente apoio à iniciativa privada, o respeito ao dinheiro de risco, no sentido do reembolso do capital (se o filme for bom, é claro). Mas acho que na verdade o papel principal do Ministro será convencer seus patrões e sua turma da importância social da Arte, que Cultura não é Arte, que não vale a pena um país como o Brasil fazer filmes. Temos muitas outras prioridades. É preciso que o Brasil faça filmes bons. Que a Arte é necessária para a identidade e a moral do país. A Cultura é passado, Arte é futuro. O Ministro atual, que, espero, será o próximo, tem estatura para compreender estas aparentes sutilezas.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

LANÇANDO UMA BRINCADEIRA!

Você não sabe como o mundo te vê. Mas você tem a sua opinião sobre como as pessoas são!
Escreva, em no máximo 140 caracteres, como você vê:

- DILMA ROUSSEF
- MARINA SILVA
- FERNANDO GABEIRA
- EDUARDO PAES
- CHARLES CHAPLIN
- TONY RAMOS
- MAITÊ PROENÇA
- ARNALDO JABOR
- XUXA
- FAUSTÃO
- JOSÉ BELTRAME
- JUCA FERREIRA
- SÉRGIO SÁ LEITÃO
- NEY MATOGROSSO
- CAETANO VELOSO
- ANTONIO FAGUNDES
- DOMINGOS OLIVEIRA
- LULA
- ADONIRAN BARBOSA
- CAMILA PITANGA
(não fale sobre todos, só sobre aqueles que você tiver uma opinião definida)

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

CARTA CONTEMPORÂNEA QUE GOETHE NÃO ESCREVEU

ou
E-MAIL FICCIONAL DESVAIRADO SOBRE O TEMPO E O AMOR


Outro dia me deram parabéns pelo meu artigo publicado na Revista Bravo! de agosto, de um homem mais velho que se apaixona por uma jovem.
Eu disse que havia um engano, pois nunca havia escrito coisa assim.
Chegando em casa, minha secretária afirma que escrevi sim. Peço para ver e ela me mostra. Leio e não reconheço. No entanto, acho muito bem escrito e parabenizo a mim mesmo.
Fui criado por mulheres fortes e homens fracos. Para não odiá-las, tive que aprender a amar. Sou bom disso.

Transcrevo aqui o artigo, para os apaixonados, os loucos e os suicidas:





Minha borboleta, minha papoula, meu amorzinho,



Por aqui tudo bem. Faz frio, mas isso é bom para a literatura. Tenho escrito sem parar para adiantar as coisas e poder ir aí te visitar e na luz do sol repetir que te amo. Enquanto não chego aí, enquanto meus beijos e até lágrimas não substituem as palavras, enquanto meu espanto diante da tua beleza não me turva a lógica, permita que eu te fale, anjinho meu, sobre o tempo e o amor, e sobre o tempo do amor.


Este teu companheiro apaixonado tem 74 anos. Portanto 55 anos a mais que você. Uma diferença considerável, levando em conta a vida humana, porém insignificante para o tempo destas estrelas que me assistem neste momento escrevendo este e-mail. Não sou um velho, a velhice é para os outros. Como estou apaixonado, sou mais que jovem. Eterno. Olho no espelho e vejo um tipo decrépito escrevendo no computador que certamente não sou eu. É uma projeção enganadora da minha doentia imaginação. Eu sou jovem, por ti removeria montanhas. Mesmo que não tivesse fé, por ti eu saltaria no abismo mesmo que não tivesse asas. As asas do amor que me fazem voar sempre, como agora, na tua direção. Em círculos concêntricos sobre a minha jovem amada. A relação de um homem velho com uma garota, ao contrário do que pensam os anciãos na sala de espera da morte, é uma das ligações mais fecundas e agradáveis que esse mundo oferece. Eu sei de tudo, posso te dar aulas interessantíssimas durante anos seguidos. Você rirá com elas, outras vezes de cara séria, usufruindo do meu saber para seu próprio conhecimento. Você beberá das minhas palavras com uma fruição próxima da sensualidade. Choraremos juntos a humanidade ao ler García Lorca, Dostoievski, Nietzsche, Camus ou Saramago. Te ensinarei a cantar velhas canções. Estarei ao seu lado como se fosse pela primeira vez. Escrevo porém para dizer-te que esta extrema felicidade que será vivida por nós dois apenas se compara ao sofrimento que eu te causarei alguns momentos mais tarde. Sou um velho, tenho muitas limitações físicas, meu corpo é bem diferente do seu. É lento, esqueceu a agilidade. E você terá o desejo da viagem, da aventura, sem poder satisfazê-los ao meu lado posto que eu não terei forças. Claro que em meio a estes dissabores, viveremos momentos esplêndidos de vinhos, rosas e sexo, foi Deus quem fez as pílulas azuis. Desafio o jovem mais valente a ser mais forte no amor do que eu. O amor sempre foi meu escudo e minha espada, é nele que sou forte. Esse amor que coloquei a teus pés eternamente.


Claro também que morrerei num dia próximo deixando você sozinha. Nada poderá te consolar disso, meu grande amor. Nem os filhos, posto que não os teremos. Então por isso nosso valioso amor é ao mesmo tempo crepúsculo e amanhecer, terror e glória, material de que é feita a vida. Nem por isso devemos negá-lo e não reconhecer sua beleza. Se eu tivesse o mundo dentro de mim, eu ficaria cego quando abrisse os olhos.



Mas certamente este e-mail seja desnecessário, você já pensou tudo isso. E um grande amor nos foi dado e deve ser vivido. E faz esvanecer toda palavra ou raciocínio. Você também sabe tudo de coisas que eu não saberei nunca, a menos que você me conte. O corpo é a alma. E seu corpo divino contém mais lições que todos os livros que eu tenha lido. Não ouçamos as dissonâncias que vêm de fora contra o nosso amor. Ouçamos somente a harmonia, o desejo, a transcendência desta paixão. O amor é um efeito colateral do sexo. Tudo é sexo, menos a paixão. Quando meu velho enrugado corpo unir-se ao teu glorioso, radiante e fértil como uma maçã, seremos uma coisa só feita de generosidade e prazer.



Termino agora este e-mail meditando que amar é querer o bem do outro. Posto que menos tempo me resta, eu não deveria te amar. Mas o amor está acima do tempo. O amor é o tempo, o tempo do amor.


 


ATUALIDADES
 
O que estou fazendo agora:
Bons filmes, somente os antigos, no video. E no cinema eu não consigo ir. Acho que nunca houve uma safra tão ruim, com exceção do "5xFavela". Estou começando a ensaiar o "Noel de Bolso". Ou "Rosa". Um espetáculo onde todos os atores revezam o Noel Rosa, contando sua triste vida de 27 anos. É tudo coringado, os atores todos fazem o Noel. 
Dei sorte de conseguir um elenco logo, aceitando uma cooperativa, posto que dinheiro ainda não temos nenhum. Mas estréio na Lapa, não tenho a menor idéia quando.
Noel teve três mulheres. Laila Garin, Vanessa Gerbelli e Sophie Charlotte, um timão!
Estou também fechando elenco pro meu Teatrocine. Escrevi uma peça, "Turbilhão", para experimentar uma interpenetração das duas mídias, cinema e teatro. É uma comédia pura de diálogo ágil e espirituoso. Depois dou mais notícias.  
 
No dia 28 faço 74 anos. Como comemorar? Ou não comemorar?
Nenhuma festa me agrada. Já fiz muitas. Outro dia pensei que minha melhor festa era fazer ensaios festivos do que estou fazendo agora. Ou ir apanhar sol numa montanha. Provavelmente farei as duas coisas. E uma terceira que não sei ainda. 
Não resisto à tentação de comemorar o aniversário. Penso que meu nascimento, e de qualquer um, é um evento comemorável. Escapar disto é um pouco desertar da ideia de que viver é bom.
 
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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O cinema autoral

Heloisa Buarque me disse há anos que a arte viria, num breve futuro, das periferias. Realmente eles têm muito mais história para contar. Depois deste filme escrevi para Cacá Diegues.





5 X FAVELA

Um marco na história do cinema brasileiro. Uma maravilha surpreendente. Imperdível. Um dos melhores filmes brasileiros, talvez o melhor. Uma conjunção de talentos para o cinema falando de suas vidas, seu cotidiano. Técnica ótima, conteúdo inspirado, que honra o cinema brasileiro. Renata Magalhães e Cacá Diegues são os responsáveis pela iniciativa. Cacá sempre foi de todos nós quem olhou melhor o Brasil.

Estas são apenas algumas frases que poderiam ser usadas, por direito adquirido, para propaganda deste filme. No Brasil atual, nenhum fato cultural repercute mais. Assim como nenhum escândalo no crime. Não tinham me avisado que era tão bom, não entendo. É humanamente e filosoficamente ótimo, cinematograficamente um sucesso. Que conquistará o mercado externo pelos mesmos caminhos que “O Ladrão de Bicicleta”, que é com o que mais se parece.

O filme é dedicado a um amigo que morreu, concebido e proposto por um líder do cinema novo, envolvendo centenas de diretores, técnicos, estudantes de baixa renda, moradores de favelas representativas do conjunto carioca. Foi dada a eles a voz. E eles a usaram com uma simples eloqüência. Cinco episódios do filme descrevem situações comuns no cinema engajado. A difícil sobrevivência na selva das favelas. Porém desta vez o olhar é diferente. O enfoque é inaudito, surpreendente, diferente. A cada instante, surpreendente.

Têm a graça e a grandeza do artista que fala daquilo que sabe, da sua vida. Sua querida, pobre, rica, miserável, magnífica vida. Ver o filme faz com que compreendamos melhor nossos irmãos escolhidos do asfalto. Tão diferentes, tão iguais. Um filme é uma coisa da vida, não é da morte. É feito para melhorar a vida de quem vê. “Diversão e ensinamento”, como disse o poeta. “5xFavela” cumpre todas essas funções. Durante muito tempo os cineastas da rica classe média tentaram, por responsabilidade ou culpa, falar das misérias da gente do morro. “5xFavela” mostra uma inocência engraçada que quase todos os filmes anteriores estavam longe da realidade. “5” é a prova inequívoca dessa realidade.

Comprei pela internet e sentei na cadeira. No primeiro episódio vi um Silvio Guindane fazendo um trabalho de excelência e trazendo para dentro da tela nossos corações. Os diretores sabem filmar. Tomei nota dos nomes . Manaira Carneiro e Wagner Novais. Incrivelmente eles parecem veteranos, sabem filmar. Coisa que pouca gente sabe. Gregorio Duvivier também está ótimo, todos estão ótimos. Hugo Carvana faz um gol, fazendo emanar de um tão pequeno papel, tão forte significado. Nós pensamos que tudo vai acabar muito mal com o Maicon, o personagem do Guindane. E não, graças a
Deus acaba bem.

O segundo episódio de Rodrigo Felha e Cacau Amaral mais engraçado que o primeiro. Lembrando uma fábula medieval, conduzido por dois meninos ótimos, com um Ruy Guerra absolutamente apropriado. E quando achamos que tudo vai dar mal, não dá. Também termina bem. Nenhum dos finais felizes até agora foi falso. Havia saídas. Mas nós, espectadores do asfalto, não víamos. Então achamos que estamos assistindo um filme barra leve, quando vem o terceiro episódio.

Um impacto de emoção. Uma lição do terrível. Uma escolha de Sofia resolvida de modo estóico. Surpreendente música clássica, inundando tudo gravemente. É nesse momento que as lágrimas me vieram aos olhos, que a qualidade do espetáculo me fez pensar que o Brasil estava, naquele momento, recriando o Neo-Realismo. Os episódios parecem muito com os primeiros filmes de Rossellini e De Sica. Aquele ninho convulsivo de talentos que gerou Fellini e o maior cinema que o mundo jamais teve. Para mim, estabeleceu esta ligação entre o “5” e o “8 1/2”. Uma grande promessa fremia no ar. O nome do diretor é Luciano Vidigal.

No quarto episódio não há mais inimigos externos. São eles contra eles. A favela contra a favela. Cadu Barcellos conduz com maestria um drama de fronteiras. E, num surpreendente paradoxo, a solução humana é atingida, voltando o final feliz.

E, no quinto episódio, a festa. A festa da nossa gente boa e sofrida. A inevitável festa. E, se a festa é inevitável, divirtam-se. Com a festa da alegria de viver, muita gente em cena, o que é sempre muito difícil de filmar. E Luciana Bezerra faz isso com hábil talento.

Manaira, Wagner, Rodrigo, Cacau, Luciano, Cadu, Luciana. Quem são eles? Não conheço ninguém. E aqueles atores todos? E a produção de Tereza? E a montagem de Quito Ribeiro? E particularmente a fotografia de Alexandre Ramos? É impossível citar todos. Os bons resolveram se reunir de repente? É. Parece ter sido isso exatamente o que aconteceu. É um salto qualitativo no cinema brasileiro, abre caminho para uma real conquista do mercado interno e externo. Sendo um filme sensível e basicamente autoral. É isto. O filme faz retornar a importância básica do cinema autoral.

Enfim, terminando, não tenho mais vontade de bater palmas. E sim de abraçar um por um, todos eles. Fraternalmente. E desejar-lhes seu glorioso futuro.

(Sei que falo muito exaltadamente. Talvez exageradamente. Mas nunca um filme brasileiro com exceção talvez de “Deus e o diabo na terra do sol” me emocionou assim. E me pareceu tão oportuno. A função do cinema é essa, cinema é o retrato de um país.)

Sem mais palavras,
escrevi muitas, que são poucas,

Domingos.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

o melhor presidente que o brasil já teve

Estamos de novo diante das eleições. O sistema democrático ainda é o melhor sistema mas, vamos e venhamos, é péssimo. Se existir um bom sistema político será a cidadania, situação na qual o indivíduo toma para si a responsabilidade da sociedade em que vive. Isso somente seria possível minimizando o Estado, dividindo o país em uma centena de pequenos países que se entendem entre si, se auxiliam entre si, sem deixarem de ser cidadãos. Como fizeram naquela Antiga Grécia. Mas isto é tão distante quanto a Alfa do Centauro. O Poder, ao contrário, quer cada vez mais poder. O Poder pelo Poder. Quando você entra num esquema de poder, acontece uma coisa estranhíssima. Por mais ideias, ideais, princípios e projetos que você tiver, são todos esquecidos quando se ganha o Poder. É a amnésia do Poder, o gás do esquecimento. Dali em diante, você só tem uma meta, um princípio, um ideal: Permanecer no Poder. Isso custa tanto esforço que absorve o tempo inteiramente. A melhor coisa que ouvi nos últimos tempos sobre eleições vem de uma campanha que não “pegou” que dizia “não vote em ninguém que já tenha sido eleito”. Não vou dizer aqui que não existem políticos honestos. Digo apenas que eles são raros. Gotas no oceano.


Nunca achei o Poder tão atraente assim. Para que um homem quer poder? Esta incômoda tarefa de mandar em outras pessoas? Já é trabalhoso suficiente cuidar de uma vida, a sua própria, quase impossível no tempo que temos. Talvez seja porque, tendo o poder, o homem está mais protegido de ser atacado por outros poderes. Mas como o poder chama o poder, é inevitável que o poder menor cresça e destrua infernalmente o outro, e assim por diante. Talvez pela vaidade, afinal, se o outro me obedece, eu sou maior do que ele. Os Reis sempre viveram em palácios, que são casas de gigantes. Teto muito alto, entradas largas.

Mas também não deve ser por isso. A Vaidade é um valor menor.

Dizem também que o Poder é afrodisíaco. E por isso talvez seja. Os políticos, donos do Poder, são pessoas tão competitivas, tão ambiciosas, enfim, levam uma vida tão sem graça na disputa do poder, que talvez tenham dificuldades na sua virilidade. Tenho certeza de que isso é mia s importante do que parece.

Também no Poder as grandes máximas do demônio transformam-se em dogmas obrigatórios: “Os fins justificam os meios”, “Violência gera violência”. Ora, está exaustivamente provado que estes dois provérbios satânicos são os causadores das guerras, dos holocaustos, das inacreditáveis expressões da maldade humana, isto está escrito claramente nos livros da História. No entanto, quando você entra para o poder, esquece os livros que leu. Ou você obedece essas máximas ou você perde o poder.

No Brasil, por exemplo, temos três candidatos viáveis. Lula, Luiz Ignácio da Silva, o grande Lula... oh, perdão. Esqueci que ele não é candidato. Somente torce para a Dilma. Bem, nosso presidente é uma figura. Ele representa a inteligência do povo. Ele é esperto, realista, patriótico, atento. Conhecedor de todas as malandragens, não hesita, por nenhum momento, em aderir as citadas máximas ou ditados. O escândalo do mensalão foi um grande exemplo. Para governar, é preciso ter o Congresso e o Senado sob controle. Então, o que há de mais no ato de comprá-los? Todos aceitarão contentes e o bom Governo poderá ser feito. É impossível para mim esquecer a parcela de responsabilidade do Presidente naquele evento.

O mais interessante é que nessa infeliz moral, o Governo parece ter caminhado bem. Conversei com muitos pobres. A vida deles melhorou. Comem mais um pouco. E isso é uma grande coisa, um grande feito. Passa a fazer parte da História. Embora os jornais continuem publicando escândalos diários.

Lula, eu vou votar na Dilma! Mas é impossível votar na Dilma, Lula! Tenho de confiar no meu olhar, tenho de julgar meu semelhante pelo seu rosto. E a Dilma não inspira confiança. É possível imaginar que ela será violenta, que não terá a diplomacia nata do mestre. Por outro lado, o adversário é igualmente severo e feroz. Como se isto não bastasse, escolheu como Vice Presidente uma figura inaceitável. E se o Serra morre, como ficamos? A Marina não tem nenhuma chance. Mas tem uma cara boa, inspira confiança, é uma fã atuante do tempo em que o PT era de esquerda. Diz que só vai refazer suas alianças depois de eleita, assumindo os melhores de cada área, independente de partido... Claro que a Marina não tem chance. Mas aí vem uma das vantagens da democracia. O comportamento do grupo humano numeroso é absolutamente imprevisível. Pode ser que, na última hora, ela deixe de ser tão bem comportada e alcance a agressividade necessária diante do nível de seus adversários. Pode ser que o Serra faça alguma besteira, já fez várias, pode ser que nas vésperas Lula ou Dilma, entusiasmados com a próxima vitória, cometam alguma gafe, e pode, portanto, ser possível uma súbita mudança de todos os que pensam e seus seguidores. Ou melhor dizendo, de todos cuja mão tremerá ao colocar seu voto no candidato errado... e votem na Marina.

Algo engana muito, porém algo me diz que esta hipótese não é absurda. Sugiro que olhemos Marina com atenção.

Marina talvez não tenha um rosto tão bonito assim, mas não se pintou. E também vem da pobreza, como o grande Lula.

Observemos que estamos conversando sobre os próximos quatro anos. Porque daqui a quatro anos, claro que ele estará de volta. Após ter feito quatro anos de excelente aparição.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A invasão das águas turvas

Elas sempre estiveram por aí, as águas turvas...


É um filme ruim, chatíssimo, desonesto, manipulador, burro e altamente comercial. Uma espécie de fast-food mas ninguém pode garantir a procedência do hamburguer. É o cinema das águas turvas. Explico a expressão. Nietzsche disse que não devemos turvar as águas para que elas pareçam profundas. Então muita gente confunde a sujeira da água com profundidade, especialmente quando há pouca luz. As águas turvas estão aí já há muito tempo. Apareceu primeiro no teatro na forma de diretores “geniais” que faziam espetáculos chatíssimos, longuíssimos, que não dava pra entender nada mas que continha muito bem expressa a mensagem-chave: “Quem não entender é burro”. Esconder a própria burrice apontando a dos outros sempre foi uma boa tática. Mas talvez não seja burrice. Não, não é. É ganância mesmo que virou estilo, modo de fazer a indústria. A coisa se processa mais ou menos assim: Depois de ver a quantidade maciça caríssima de propaganda pelos jornais, tevês etc, e tendo ouvido falar que o assunto do filme é interessante, e compelido pela midiaticidade dos atores envolvidos, você reserva seu ingresso pelo telefone e senta na poltrona do cinema. Em meio a uma multidão barulhenta em geral constituída de velhos e infantes. Começa o filme e você tem que prestar muita atenção. Talvez levar um caderninho para tomar notas. Porque eles lá amam a confusão, ao contrário de todo bom filme que foi feito até agora. Eles se dão ao luxo de serem herméticos. Por mais que para algumas rodas isto pareça antiquado. Mas dá dinheiro.

Todo mundo vai ver aquela manifestação barulhentérrima onde os tiros e explosões dominam insuportavelmente. E vão com razão, porque eu também vou. É bom ver tiros e explosões gigantescas. Retrata o mundo de hoje, tão violento. Mas que significa o filme?

Nada.

Fala de assuntos sérios mas não diz nada. Não diz nada afirmativamente. É responsável na sua mudez. É o primado da desclareza. Eles não são filósofos e nem suspeitam que a clareza é a cortesia do filósofo.

Faz pensar. Mas pensar em quê?

As regras que o filme obedece não tem nenhum ponto de ligação com o humano. Filmes como este “A Origem”, aliás não sei de quê, não são feitos para mim e para o espectador. Então o quê que eu tô fazendo ali?

Vou-me embora logo depois dessa montanha ruir.

Vejo claramente o dia em que os produtores americanos, reunindo secretamente numa daquelas salas com mesa enorme, ouviram o chefão dizer: “Gente, já que o nosso filme não tem nenhuma significação, e como não seria comercial anunciar apenas como uma experiência plástica de efeitos especiais... vamos complicá-lo! Ao limite!! Nada de filmes simples, retos e honestos. O truque, o golpe, a complicação! Isto criará um jogo novo para o cinema. Os espectadores, no momento em que acender a luz, começarão a discutir “que cargas d’água era isso?”, ‘o que ele queria dizer?’, ‘quem entendeu certo ou errado?’. Claro que é preciso deixar uma ou outra pista fácil, para que a besta do espectador se sinta inteligente, segundo os produtores. “É claro que tem que ser um filme luxuoso, muita produção, muita grana, arrogância para que fique claro que somos nós os inteligentes, que ninguém ia gastar tanto dinheiro numa besteira.”

Essa conspiração vem de longe, saudade de Frank Capra! Os filmes americanos mais imbecis distorcem a narrativa, complicam o filme, para que ele pareça inteligente, feito para poucos. Desde “Magnólia”, acho que começou ali. Ninguém nunca entendeu por que aqueles sapos caíram do céu.

A linha, ou melhor, a picaretagem acima descrita foi tornada secretamente oficial. Em maior ou menor escala, filmes como “Os Infiltrados”, “O Gângster”, o velho “Matrix”, “O Homem de ferro II”, “Sherlock Holmes”, “Ilha do medo”, “Avatar”, “Batman cavaleiro das trevas”, até “Alice no país das maravilhas”, e mais uns dez que eu esqueci, são filmes complicados de entender quem é o mocinho, quem é o bandido, sem a menor necessidade. Complicado de descobrir qualquer ligação com o humano.

Esse tipo de cinema americano passou a ser o primado da desclareza, apoiado na falta de cultura dos jovens (idosos também gostam muito). São filmes que lançam idéias batidíssimas, vistas antes em muitos outros lugares. Porém fantasiados de uma genial novidade. Eu, por mim, tenho minhas defesas. Na segunda ou terceira empulhada que o filme tenta me empurrar pela garganta, noto que a cena podia ser simples e não é porque o diretor não quer... e durmo! De vez em quando vem uma grande explosão, me acorda, vejo um pouquinho do filme e durmo de novo. Por esse processo, às vezes até gosto do filme, quando finalmente ele acaba.

“A Origem” é uma merda. “Avatar” é chatíssimo (até o Oscar reconheceu isso, dando o prêmio para a ex esposa do diretor).

Isso tudo é uma bobagem, como o 3D. Bobagens que deram certo comercialmente. Até quando?

O que me causa pena é que todo esse dinheirão gasto por esses filmes poderiam ser usados em filmes de arte, humanos, que possivelmente dariam até mais dinheiro. Pelo menos como “Titanic” ou “O segredo do abismo”.

O cinema tem inegável compromisso com o realismo. O que me causa pena é que esse tipo de produtor jamais compreenderá que nada é mais delirante do que a realidade.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Lugares Estranhos

Já postamos nessa série "O Balão", "O Idiota Plástico", "A Segunda Chance" e "Praia". São roteiros para um filme experimental. Realmente experimental. BOAAR (Baixo Orçamento Alto Astral Radical). Um filme de episódios.






A FADA E O MONSTRO


(The Fairy and the Monster)



SEQUENCIA 1: APRESENTAÇÃO DO TARADO E LETREIROS INICIAIS

um carro para no sinal e meninos de rua oferecem balas ao TARADO



MENINO - Compra, moço. 4 por 2.

TARADO - Me da aí.

MENINO - Quantos?

TARADO - Quantos você tem na caixa?

MENINO - /CONTENTE/ Pera aí, tô contando.

TARADO - /PEGANDO AS BALAS/ Eu vou contando, você vai vendo quanto é.



O TARADO conta as balas. Tarado de olho no sinal que vai abrir, animação crescente, montagem rápida...

O sinal abre, o Tarado arranca o carro,o tarado..

TARADO - Menino bôbo...

OBS: O Tarado é um tipo formal, terno e gravata, pasta, cabelo penteado, altamente responsável,o tarado.



SEQUENCIA 2: apresentação da Bicha.



Rua Movimentada.Rostos bem e malencarados. A BICHA olha em todas as direções, boceja, hoje está sem nada pra fazer. Quando digo BICHA quero dizer Bicha discreta, moderno cinema americano

De repente ele (ela) vê um táxi guiado por um chofer grosso e bonitão. Faz sinal para parar.



AGORA A CENA FICA SEM DIÁLOGOS. A BICHA PAQUERANDO O CHOFER ATRAVÉS DO RETROVISOR. TRATAMENTO REALISTA.



CHOFER - /MAL HUMOR/ O senhor vai pra onde?

BICHA - O que você que dizer com isso?

CHOFER - /PERDENDO A PACIÊNCIA/ Pra onde é que o senhor vai?

BICHA - /EXISTENCIAL/ Não sei, não sei...

O senhor dá uma volta no quarteirão aí, faz favor enquanto, enquanto eu penso?

PASSAGEM DE TEMPO



TÁXI DA BICHA CONTINUA DANDO VOLTAS NO QUARTEIRÃO.



A Bicha continua paquerando o chofer pelo espelho. Ele não está gostando nada.



CHOFER -/EXPLODINDO/ Já dei três voltas de modo que é melhor o senhor saltar aqui mesmo! /FREIA BRUSCO/.

BICHA - /OFENDIDA/ Está bem. Quanto foi.

CHOFER - Dois e trinta.

BICHA - Troca cinqüenta? /ENTREGA A NOTA/.

CHOFER - Não tem trocado? Procura aí na bolsa, faz favor!



BICHA DERRAMA A BOLSA NO BANCO DO CARRO. TEM TUDO LA DENTRO: BATOM, PREVENTIVO, LINGUA-DE-SOGRA, BRINCOS, OBJETOS ESTRANHOS, BEST-SELLER ETC. LEVA UM TEMPÃO PARA REPOR TUDO NA BOLSA.



BICHA - Não tenho não.

CHOFER - /PERDENDO A PACIÊNCIA/ Então salta! Eu sou crente e detesto gay.

BICHA - /SALTANDO E ARMANDO UM ESCÂNDALO NA RUA/ Guei não, seu estúpido, seu estúpido, grosso, não admito isso. No mínimo tem de me chame de FADA. Nos Estados Unidos tem sinagoga fada, jockey clube fada, restaurante natural fada, exército da salvação fada, nós somos muito poderosos ouviu! Poderosos demais pra ficar levando desaforo de chofer crente. Um dia ainda vamos botar fogo nessa cafonice toda, We are the children, guei não!

NARRADOR-SEQÜÊNCIA 5: NUM SHOPPING CENTER



Movimento do shopping. O TARADO entra no banheiro dos homens, formal, carregando sua pasta. Um momento depois sai de lá, fechando a pasta e TRAVESTIDO DE MULHER.



SEQUENCIA 3: SHOPPING, BANHEIRO.



BANHEIRO DAS MULHERES, MOVIMENTO, FALAÇÃO, ENTRA O TARADO TRAVESTIDO. SORRI EDUCADAMENTE, COMPORTA-SE COMO UMA DELAS, PASSA A MÃO NA CABEÇA DE UMA MENININHA LOURA... AÍ TIRA DE DENTRO DA PASTA UM APITO (LÁ DENTRO TAMBÉM TEM UM CHICOTE) E APITA FORTE!

AI LEVANTA A SAIA, MOSTRANDO O QUE TEM.



CORTA PARA PORTA DO BANHEIRO

MULHERES FUGINDO ESFAFORIDAMENTE.

NARRADOR -UM MOMENTO DEPOIS SAI O TARADO,FORMAL E APRESSADO CONFORME CHEGOU, DE PASTA.



SEQUENCIA 4: AGORA ESRAMOS DIANTE DO EDIFÍCIO EM QUE MORA O TADADO.



E ADVINHEM QUE ESTÁ LÁ,COMPRANDO PIPOCA NO PIPOQUEIRO ,A BICHA.VAI, VOLTA, DESISTE, DECIDE ENTRAR.



SEQUENCIA 5: APARTAMENTO DO TARADO.



A BICHA TOCA A CAMPAINHA , TARADO VEM ATENDER.



BICHA - Boa tarde. Ou bom dia, nem sei que horas são.

TARADO - Que que o senhor deseja?

BICHA - Coisas incríveis.



O TARADO OLHA ELE POR UM INSTANTE. DEPOIS ESBOFETEIA DUAS VEZES.



A BICHA FICA SÉRIA. DEPOIS SORRI CURTA E EDUCADAMENTE.



TARADO - Quer entrar pra tomar um café?

BICHA - /ENTRANDO/ Detesto recusar. /E DENTRO DO APARTAMENTO/ Você se lembra daquele dia do banheiro das mulheres? Eu era a ruiva perto da pIA

Interessante a decoração do seu apartamento. Posso olhar com atenção?



SEQÜÊNCIA DE IMAGENS COM MÚSICA: NAS PAREDES HÁ VÊ-SE , PENDURADOS, VÁRIOS OBJETOS SUGESTIVOS :CHICOTES DE VÁRIOS TIPOS, UM MAÇARICO EM CIMA DA CÔMODA JUNTO A UMA REPRODUÇÃO DAS "MENININHAS" DE RENOIR, OUTROS OBJETOS.

ESPELHOS E CIRCUITO INTERNO DE TV, DIANTE DA CAMA. UM MICO AMARRADO NA CAMA. GRAVADOR. A BICHA LIGA O GRAVADOR .

SAI GRITO DE FILME DE HORROR.



BICHA - /EMOCIONADA, CONCLUINDO/ Meu Deus, como sou feliz! Ainda viva e cheguei no Paraíso.



SEQUENCIA 6: RUAS

AS IMAGENS AGORA SÃO ELEGANTES E BELAS COMO AS DE UM COMERCIAL E DESCREVEM A FELICIDADE DO CASAL.

A) O TARADO E A BICHA ANDANDO E CONVERSANDO EM PAISAGEM BONITA, AO POR-DO-SOL, A BICHA COM UM CACHORRO ENORME NA COLEIRA.

B) OUTRA PAISAGEM BELA É O TARADO DE MÃOS DADAS COM UMA MULHER ENORME QUE, POR SUA VEZ, ESTÁ DE MÃOS DADAS COM A BICHA.

C) O TARADO E A BICHA LADO A LADO, ENTREOLHAM-SE CÚMPLICES. AGORA VEMOS: O QUE ELES ESTÃO VENDO: UM OPERÁTRIO TRABALHANDO COM UMA BRITADEIRA. CLOSE DA PONTA DA BRITADEIRA, SORRISO APAIXONADO DOS DOIS.



SEQUENCIA 7: CONSULTÓRIO PSICANALÍTICO.A

MÚSICA DRAMÁTICA MARCA INDUBITAVELMENTE UMA PIORA NO ESTADO DAS COISAS.

BICHA - .../AGITADA/.. parecíamos feitos um para o outro, doutor, e de repente tudo começou a dar errado. Já fiz promessa, rezei novena, tarô, búzio, acupuntura e encruzilhada. Como eu posso fazer para ele gostar de novo de mim??? Doutor, vou me abrir com o senhor. Ele me persegue, me bate, me humilha, me tortura, me esquarteja...Eu, naturalmente, adoro cada momento! No início eu fingia que sofria, pra ele ficar contente. Mas ele percebe que eu não sofro de verdade e está parando de gostar de mim!/E COM TEMOR/ E de vez em quando, ele faz uma cara...



SEQUENCIA 8 : APARTAMENTO DO TARADO.

A BICHA PASSANDO ROUPA, BEM DONA DE CASA, E O TARADO NA POLTRONA, FAZENDO UMA CARA.

BICHA - /PASSANDO ROUPA,OFF/ Uma cara, doutor, que me assusta! Tenho certeza que ele está pensando em, algo terrível! Será que resistirei?



VOLTA PARA O DIVÃ DO ANALISTA



BICHA - Tenho um amigo delegado, o senhor acha que devo dar queixa? Doutor, não fique calado, diga com sinceridade: são normais essas coisas?



SEQUENCIA 9: LOJA DE ROUPAS MASCULINAS. rapido.O TARADO, TRIUNFANTE E VIOLENTO, SAINDO DE UMA LOJA DE ROUPAS PARA HOMENS, COM EMBRULHOS.



SEQUENCIA 10: APARTAMENTO DO TARADO

ENTRA NO APARTAMENTO E JOGA OS EMBRULHOS EM CIMA DA BICHA. (para a bicha ) Veste isso! já.



MOMENTOS DEPOIS,A BICHA TODA VESTIDA DE HOMEM, TERNO E GRAVATA, APAVORADA.



BICHA - Por piedade, deixa eu tirar essa roupa! Espeta!

TARADO -Toma!/ ENFIA-LHE UM CHARUTO NA BOCA/ E põe bem alto!/ ENTREGA-LHE UM RÁDIO DE PILHA IRRADIANDO FUTEBOL/.

ATURDIDA COM O SOM E ENGASGADA COM O CHARUTO, A BICHA AINDA TENTA RECLAMAR.



BICHA - Gonzales, por favor, eu...

TARADO - /EMPUNHANDO UMA ESPINGARDA/ Fala grosso.

BICHA - /GROSSO/ Gonzales, por favor, eu...

TARADO - Mais grosso!

BICHA - /COM GRANDE ESFORÇO/ Gonzales, por favor, eu...



SEQUENCIA 11: SALA DO ANALISTA.



a bicha volta para no divão do analista,botando, falando grosso e ostentando polpudo bigode.

BICHA - Ele é mau, doutor, às vezes penso que amo um monstro! Ele me obriga a andar por todo tipo de lugares sórdidos: banco, repartição oública, cartório.Profissão: guarda noturno. E agora quer que eu assista o Jonal Nacional,sempre fui fazer outra coisa quando acaba a novela, é o tempo que eu tenho! Me recuso, quer saber? .E não admite que eu desmunheque, afrescalhe, enviadeça, nada !Diz que me abandona se me pegar num deslize!

Hoje fui na academia,ele ficou lá , pra ne vigiar..!Levantei aqueles pesos, com cara de macho. Tomei banho de chuveiro frio machissimo, com aqueles homens todos,tudo viado e eu com aquela cara de macho!

Depois voltei pra casa,triste, que isso ninguem me impede, com uma lagrima pendurada aqui.Minha pasta na mão , meu passso firme,meti a mão na maçaneta e encontrei a sala vazia.



BICHA - Gonzales! Querido! Tarado!Quedê você?/ A VOZ SAI FINA SEM QUERER. ELE REPETE GROSSO/ Quedê você?

GONZALES - /DO QUARTO/ VOZ GROSSA AINDA/ Aqui!

BICHA ENTRA NO QUARTO E PARA, NUM SUSTO .GONZALES ESTAVA NA NOSSA CAMA,





VEMOS GONZALES. NA CAMA, DE BABY-DOLL, SORRISO SÁDICO,MOSTRANDO, COM TODA A MASCULINIDADE, SUAS UNHAS PINTADAS DE VERMELHO LARANJA....

A BICHA NÃO AGUENTA, AQUILO ULTRAPASSA SUAS FORÇAS.DIZ Z UM "UI"E DESFALECE.



SEQUENCIA 12:DE VOLTA A SALA DO ANALISTA.



BICHA - ... parei no Moncorvo, doutor tive um princípio de enfarte

VOLTOU A SER A MESMA BICHA FRAGIL QUE VIMOS NO INÍCIO/

BICHA - ... e terminei completamente nosso caso, não dava mesmo, Deus não quis. /E TENTANDO RECUPERAR O(A) MORAL/. Mas eu sou uma fada, a vida é maravilhosa, sou fã da Winona Rtder, vou fundar a associação das fadas de coração partido... /NÃO AGUENTA, FICA TRISTE DE NOVO/ Pra que mentir, doutor? Meu destino é rolar como as pedras que rolam na estrada.



SEQÜÊNCIA FINAL: NA MESMA RUA MOVIMENTADA, ONDE TUDO COMEÇOU



A Bicha na rua, como no início,ao pé do poste

Música: "Vingança" de Lupiscinio.

A bicha olha os homens que andam ao redor...

é indiferente a uns

outros a animam

um, muito feinho, a irrita

mas nenhum, deles olha para ela.

termina parada, absorta, debaixo de uma placa de "ESTACIONAMENTO PROIBIDO"...

Letreiros.



Versão cortada:





A FADA E O MONSTRO

(The Fayry and the Monster)



SEQUENCIA 1: apresentação da Bicha.



Rua Movimentada.Rostos bem e malencarados. A BICHA olha em todas as direções, boceja, hoje está sem nada pra fazer. Quando digo BICHA quero dizer Bicha discreta, moderno cinema americano

De repente ele (ela) vê um táxi guiado por um chofer grosso e bonitão. Faz sinal para parar.



AGORA A CENA FICA SEM DIÁLOGOS. A BICHA PAQUERANDO O CHOFER ATRAVÉS DO RETROVISOR. TRATAMENTO REALISTA.



CHOFER - /MAL HUMOR/ O senhor vai pra onde?

BICHA - O que você que dizer com isso?

CHOFER - /PERDENDO A PACIÊNCIA/ Pra onde é que o senhor vai?

BICHA - /EXISTENCIAL/ Não sei, não sei...

O senhor dá uma volta no quarteirão aí, faz favor enquanto, enquanto eu penso?

PASSAGEM DE TEMPO



TÁXI DA BICHA CONTINUA DANDO VOLTAS NO QUARTEIRÃO.



A Bicha continua paquerando o chofer pelo espelho. Ele não está gostando nada.



CHOFER -/EXPLODINDO/ Já dei três voltas de modo que é melhor o senhor saltar aqui mesmo! /FREIA BRUSCO/.

BICHA - /OFENDIDA/ Está bem. Quanto foi.

CHOFER - Dois e trinta.

BICHA - Troca cinqüenta? /ENTREGA A NOTA/.

CHOFER - Não tem trocado? Procura aí na bolsa, faz favor!



BICHA DERRAMA A BOLSA NO BANCO DO CARRO. TEM TUDO LA DENTRO: BATOM, PREVENTIVO, LINGUA-DE-SOGRA, BRINCOS, OBJETOS ESTRANHOS, BEST-SELLER ETC. LEVA UM TEMPÃO PARA REPOR TUDO NA BOLSA.



BICHA - Não tenho não.

CHOFER - /PERDENDO A PACIÊNCIA/ Então salta! Eu sou crente e detesto gay.

BICHA - /SALTANDO E ARMANDO UM ESCÂNDALO NA RUA/ Guei não, seu estúpido, seu estúpido, grosso, não admito isso. No mínimo tem de me chame de FADA. Nos Estados Unidos tem sinagoga fada, jockey clube fada, restaurante natural fada, exército da salvação fada, nós somos muito poderosos ouviu! Poderosos demais pra ficar levando desaforo de chofer crente. Um dia ainda vamos botar fogo nessa cafonice toda, We are the children...!

SEQUENCIA 2: NUM SHOPPING CENTER, apresentação do Tarado



Movimento do shopping. O TARADO entra no banheiro dos homens, formal, carregando sua pasta. Um momento depois sai de lá, fechando a pasta e TRAVESTIDO DE MULHER.



SEQUENCIA 3: SHOPPING, BANHEIRO.



BANHEIRO DAS MULHERES, MOVIMENTO, FALAÇÃO, ENTRA O TARADO TRAVESTIDO. SORRI EDUCADAMENTE, COMPORTA-SE COMO UMA DELAS, PASSA A MÃO NA CABEÇA DE UMA MENININHA LOURA... AÍ TIRA DE DENTRO DA PASTA UM APITO (LÁ DENTRO TAMBÉM TEM UM CHICOTE) E APITA FORTE!

AI LEVANTA A SAIA, MOSTRANDO O QUE TEM.



CORTA PARA PORTA DO BANHEIRO

MULHERES FUGINDO ESFAFORIDAMENTE.

NARRADOR -UM MOMENTO DEPOIS SAI O TARADO,FORMAL E APRESSADO CONFORME CHEGOU, DE PASTA.



SEQUENCIA 3: APARTAMENTO DO TARADO.



A BICHA TOCA A CAMPAINHA , TARADO VEM ATENDER.



BICHA - Boa tarde. Ou bom dia, nem sei que horas são.

TARADO - Que que o senhor deseja?

BICHA - Coisas incríveis.



O TARADO OLHA ELE POR UM INSTANTE. DEPOIS ESBOFETEIA DUAS VEZES.



A BICHA FICA SÉRIA. DEPOIS SORRI CURTA E EDUCADAMENTE.



TARADO - Quer entrar pra tomar um café?

BICHA - /ENTRANDO/ Detesto recusar. /E DENTRO DO APARTAMENTO/ Você se lembra daquele dia do banheiro das mulheres? Eu era a ruiva perto da pIA

Interessante a decoração do seu apartamento. Posso olhar com atenção?



SEQÜÊNCIA DE IMAGENS COM MÚSICA: NAS PAREDES HÁ VÊ-SE , PENDURADOS, VÁRIOS OBJETOS SUGESTIVOS :CHICOTES DE VÁRIOS TIPOS, UM MAÇARICO EM CIMA DA CÔMODA JUNTO A UMA REPRODUÇÃO DAS "MENININHAS" DE RENOIR, OUTROS OBJETOS.

ESPELHOS E CIRCUITO INTERNO DE TV, DIANTE DA CAMA. UM MICO AMARRADO NA CAMA. GRAVADOR. A BICHA LIGA O GRAVADOR .

SAI GRITO DE FILME DE HORROR.



BICHA - /EMOCIONADA, CONCLUINDO/ Meu Deus, como sou feliz! Ainda viva e cheguei no Paraíso.



SEQUENCIA 6: RUAS

AS IMAGENS AGORA SÃO ELEGANTES E BELAS COMO AS DE UM COMERCIAL E DESCREVEM A FELICIDADE DO CASAL.

A) O TARADO E A BICHA ANDANDO E CONVERSANDO EM PAISAGEM BONITA, AO POR-DO-SOL, A BICHA COM UM CACHORRO ENORME NA COLEIRA.

B) OUTRA PAISAGEM BELA É O TARADO DE MÃOS DADAS COM UMA MULHER ENORME QUE, POR SUA VEZ, ESTÁ DE MÃOS DADAS COM A BICHA.

C) O TARADO E A BICHA LADO A LADO, ENTREOLHAM-SE CÚMPLICES. AGORA VEMOS: O QUE ELES ESTÃO VENDO: UM OPERÁTRIO TRABALHANDO COM UMA BRITADEIRA. CLOSE DA PONTA DA BRITADEIRA, SORRISO APAIXONADO DOS DOIS.



SEQUENCIA 7: CONSULTÓRIO PSICANALÍTICO.A

MÚSICA DRAMÁTICA MARCA INDUBITAVELMENTE UMA PIORA NO ESTADO DAS COISAS.

BICHA - .../AGITADA/.. parecíamos feitos um para o outro, doutor, e de repente tudo começou a dar errado. Já fiz promessa, rezei novena, tarô, búzio, acupuntura e encruzilhada. Como eu posso fazer para ele gostar de novo de mim??? Doutor, vou me abrir com o senhor. Ele me persegue, me bate, me humilha, me tortura, me esquarteja...Eu, naturalmente, adoro cada momento! No início eu fingia que sofria, pra ele ficar contente. Mas ele percebe que eu não sofro de verdade e está parando de gostar de mim!/E COM TEMOR/ E de vez em quando, ele faz uma cara...



SEQUENCIA 8 : APARTAMENTO DO TARADO.

A BICHA PASSANDO ROUPA, BEM DONA DE CASA, E O TARADO NA POLTRONA, FAZENDO UMA CARA.

BICHA - /PASSANDO ROUPA,OFF/ Uma cara, doutor, que me assusta! Tenho certeza que ele está pensando em, algo terrível! Será que resistirei?



VOLTA PARA O DIVÃ DO ANALISTA



BICHA - Tenho um amigo delegado, o senhor acha que devo dar queixa?



SEQUENCIA 9: LOJA DE ROUPAS MASCULINAS. rapido.O TARADO, TRIUNFANTE E VIOLENTO, SAINDO DE UMA LOJA DE ROUPAS PARA HOMENS, COM EMBRULHOS.



SEQUENCIA 10: APARTAMENTO DO TARADO

ENTRA NO APARTAMENTO E JOGA OS EMBRULHOS EM CIMA DA BICHA. (para a bicha ) Veste isso! já.



MOMENTOS DEPOIS,A BICHA TODA VESTIDA DE HOMEM, TERNO E GRAVATA, APAVORADA.



BICHA - Por piedade, deixa eu tirar essa roupa! Espeta!

TARADO -Toma!/ ENFIA-LHE UM CHARUTO NA BOCA/ E põe bem alto!/ ENTREGA-LHE UM RÁDIO DE PILHA IRRADIANDO FUTEBOL/.

ATURDIDA COM O SOM E ENGASGADA COM O CHARUTO, A BICHA AINDA TENTA RECLAMAR.



BICHA - Gonzales, por favor, eu...

TARADO - /EMPUNHANDO UMA ESPINGARDA/ Fala grosso.

BICHA - /GROSSO/ Gonzales, por favor, eu...

TARADO - Mais grosso!

BICHA - /COM GRANDE ESFORÇO/ Gonzales, por favor, eu...



SEQUENCIA 11: SALA DO ANALISTA.



a bicha volta para no divão do analista,botando, falando grosso e ostentando polpudo bigode.

BICHA - Ele é mau, doutor, às vezes penso que amo um monstro! Ele me obriga a andar por todo tipo de lugares sórdidos: banco, repartição oública, cartório.Profissão: guarda noturno. E agora quer que eu assista o Jonal Nacional,sempre fui fazer outra coisa quando acaba a novela, é o tempo que eu tenho! Me recuso, quer saber? .E não admite que eu desmunheque, afrescalhe, enviadeça, nada !Diz que me abandona se me pegar num deslize!

Hoje fui na academia,ele ficou lá , pra ne vigiar..!Levantei aqueles pesos, com cara de macho. Tomei banho de chuveiro frio machissimo, com aqueles homens todos,tudo viado e eu com aquela cara de macho!

Depois voltei pra casa,triste, que isso ninguem me impede, com uma lagrima pendurada aqui.Minha pasta na mão , meu passso firme,meti a mão na maçaneta e encontrei a sala vazia.



BICHA - Gonzales! Querido! Tarado!Quedê você?/ A VOZ SAI FINA SEM QUERER. ELE REPETE GROSSO/ Quedê você?

GONZALES - /DO QUARTO/ VOZ GROSSA AINDA/ Aqui!

BICHA ENTRA NO QUARTO E PARA, NUM SUSTO .GONZALES ESTAVA NA NOSSA CAMA,





VEMOS GONZALES. NA CAMA, DE BABY-DOLL, SORRISO SÁDICO,MOSTRANDO, COM TODA A MASCULINIDADE, SUAS UNHAS PINTADAS DE VERMELHO LARANJA....

A BICHA NÃO AGUENTA, AQUILO ULTRAPASSA SUAS FORÇAS.DIZ Z UM "UI"E DESFALECE.



SEQUENCIA 12:DE VOLTA A SALA DO ANALISTA.



BICHA - ... parei no Moncorvo, doutor tive um princípio de enfarte

VOLTOU A SER A MESMA BICHA FRAGIL QUE VIMOS NO INÍCIO/

BICHA - ... e terminei completamente nosso caso, não dava mesmo, Deus não quis. /E TENTANDO RECUPERAR O(A) MORAL/. Mas eu sou uma fada, a vida é maravilhosa, sou fã da Winona Rtder, vou fundar a associação das fadas de coração partido... /NÃO AGUENTA, FICA TRISTE DE NOVO/ Pra que mentir, doutor? Meu destino é rolar como as pedras que rolam na estrada.



SEQÜÊNCIA FINAL: NA MESMA RUA MOVIMENTADA, ONDE TUDO COMEÇOU



A Bicha na rua, como no início,ao pé do poste

Música: "Vingança" de Lupiscinio.

A bicha olha os homens que andam ao redor...

é indiferente a uns

outros a animam

um, muito feinho, a irrita

mas nenhum, deles olha para ela.

termina parada, absorta, debaixo de uma placa de "ESTACIONAMENTO PROIBIDO"...

Letreiros.

Fim