Prefeito,
Tivemos uma vez juntos, aqui é o Domingos Oliveira. Atrevo-me a tomar seu tempo com este email por causa de uma situação embaraçosa que vem acontecendo entre a classe cinematográfica representada no caso pela ABRACI, no que diz respeito à Riofilme e sua política e, indiretamente, a V.S.
Sem fazer teoria, a Riofilme é uma empresa destinada a fomentar o cinema carioca, esta jornada brilhante que vai da chanchada, “Rio 40°”, “Todas as mulheres do mundo”, e chega hoje ao “5x favela” e vários outros bons filmes.
O bom filme, eu tenho certeza que o senhor sabe disso, não é obrigatoriamente um filme de grande orçamento com uma cara produção. Ao contrário. O filme que constrói o cinema e alimenta as grandes bilheterias é exatamente o filme médio, inspirado e comunicativo, que a Riofilme no passado sempre apoiou. O filme médio permite mais riscos e, sem poder errar, não é fácil acertar.
Por circunstâncias incompreensíveis, a Riofilme atual resolveu quebrar nossa fidelidade com a diversidade cultural do Rio e apoiar não os filmes de conteúdo que precisam de dinheiro e sim aqueles que dão bilheteria.
É claro que um filme de conteúdo pode ser de grande produção e resultar em recorde de bilheteria, como o praticamente inigualável “Tropa de elite”, do qual todos nos orgulhamos. Mas o ‘Tropa’ não precisa do Governo para lhe pagar cópias. O mercado faz isto sozinho.
Esta situação é constrangedora e absurda, além de mal informada. Um órgão público tem a obrigação de fomentar a boa Arte. Os filmes de grandes bilheterias, preocupados com o mercado, já encontram neste a sua proteção.
Se disséssemos em qualquer país estrangeiro que um órgão do Governo prioriza deste modo o mercado, causaríamos risos, por denotar a ignorância da necessidade para a sociedade do filme de Arte, de autor, ou até mesmo o “Cult” ou “cultuais”, expressão criada com muita graça porém inoportunamente pelo presidente do citado órgão.
E o pior de tudo é que esta posição politicamente incorretíssima envolve V.S. posto que consta ter o seu apoio, coisa na qual absolutamente não acredito. Não seria possível, vista sua posição lúcida e eficiente em outras áreas, o que o torna um dos melhores prefeitos que esta cidade já teve.
De modo que ofereço-me aqui para esclarecê-lo sobre este assunto na qualidade de cineasta do Rio de Janeiro há cinco ou seis décadas.
Sr. Prefeito, a Arte é necessária para a saúde mental da população. O mercado não gosta dela, isto faz parte do seu feitio e essência. Os homens lúcidos no Poder tem de compreender a importância social da Arte e criar condições para que ela seja gerada.
O Brasil, não apenas o Rio, tem muitas carências. Não é preciso fazer filmes no Brasil, devemos conter nosso industrialismo. O Brasil precisa fazer filmes bons que retratem o país. E, em particular, que glorifiquem a Cidade Maravilhosa em que vivemos.
Basta olhar os livros de História do Cinema para perceber que são os filmes de Arte, de autor, que quebram as barreiras do mercado externo. O que seria do Cinema Novo sem “Deus e o diabo na terra do sol” ou da Retomada sem o “Central do Brasil”?
As teorias da atual Riofilme não apenas estão erradas como envergonham a cultura desta cidade.
Bem, creio que está claro o meu recado.
Agradecendo a sua atenção, permita que eu seja seu eleitor na próxima oportunidade, como fui na última. Levando à sério a gravidade da questão exposta acima.
Seu,
Domingos Oliveira
cineasta
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