quinta-feira, 18 de setembro de 2008

PRESENTE:

Plano L.A.:
(Los Angeles ou Laura Alvim?)
Vou ocupar, a partir de dezembro, o teatro Laura Alvim. Pretendo fazer um movimento cultural fundado na dramaturgia. Na arte de contar histórias. A dramaturgia não são leis impostas, não é nenhuma caretice. É essencial. Uma boa peça ou filme e, pelas piores e melhores pessoas, têm sido desprezada ou subestimada. Um artista de talento nato pode compor uma música genial ou pintar um excelente quadro. Mas não escrever uma excelente peça de teatro ou um bom roteiro, se não estudar um pouco. O teatro e seus derivados são atividades racionais. Demanda um estudo. Estudo daquilo que é comum a todas as peças que adoramos no teatro, modificaram as nossas vidas, nos deram grande prazer. Isto é a dramaturgia.
Penso que há alguns modos de ensinar a dramaturgia. Penso, igualmente, que é mais uma arte que uma ciência, a dramaturgia deve ser ensinada por quem escreve. Um dos meus cursos pretende propor a uma pequena platéia de alunos escolhidíssimos que assistam e paticipem da escrita de uma peça por mim, na frente deles, consultando as suas opiniões e minhas dúvidas. É difícil entender em aulas teóricas a beleza da dramaturgia. Uma outra forma eficiente que me dá vontade de experimentar é aquela inventada por Antunes Filho, o "pronto para usar" (prêt a porter). Que propõe transformar os próprios atores em dramaturgos.
Um terceiro modo eficiente de aprender a arte narrativa é, sem dúvida, a análise de bons filmes ou peças, uma investigação a posteriori dos caminhos que o autor seguiu para obter as grandes emoções.
Uma boa aula não é aquela em que o aluno aprende com o mestre. E sim aquela em que ele tira as dúvidas que ele já tem. Que ele usa o mestre para aprofundar as dúvidas que ele já tem.
A dramaturgia, como a arte de representar, é uma coisa muito difícil de aprender nos livros. É preciso da prática, do contato com quem faz bem.
Em janeiro, pretendo montar no teatro minha mais elogiada peça, ecrita há 25 anos atrás, meu relato de infância, "Do Fundo do Lago Escuro". Li a peça ontem. Como se não fosse minha, passou tanto tempo... Achei uma obra prima. Talvez até sobreviva a mim. (a auto-estima nada tem a ver com vaidade. Não é um sentimento arrogante, e sim, embora pareça paradoxal, com a humildade. Somente gostando do que se faz você pode gostar dos outros, e do que eles fazem.) Somente mestres podem ser discípulos.
Para esta peça, me faltarão atores. Possivelmente haverá teste. Ou melhor, haverá um pretexto para a primeira reunião da desprendida turma do Grupo Fúria... Claro que será uma festa.

72 ou 27?
Na noite de 27 para 28 faço 72 anos. O Tablado, desde o início desse ano, faz um estudo sobre minha obra. Todos os professores usaram textos meus nas suas aulas. O que muito me lisongeia e honra. Sendo assim, propuseram também me oferecer uma festa de aniversário, para a qual não posso convidar os blogueiros, posto que quem convida é O Tablado. Segundo a programação, faz parte da festa uma "palestra", um papo posterior com jovens alunos. Falar com a juventude é sempre um ato de responsabilidade. Afinal, eles morarão na casa do futuro, que eu jamais conhecerei. Afinal são eles o exército que marchará sobre minha cabeça. Além disso, são todos bonitinhos e gostosinhos, revoltados, curiosos. Então fico na dúvida sobre o teor dessa fala de 60 minutos. Pensei: "As 10 melhores idéias da Filosofia." Isso seria interessante. Pensei: "Os 12 princípios que regem a minha vida", também isso seria interessante. Mas como tenho que optar, acho que escolherei algo mais direto: uma palestra chamada "Meu Ofício é Dizer o que Penso". Frases, se não me engano de Pascal, que plajeio constantemente. Opinião sobre, digamos, cinco assuntos que interessam aos jovens de qualquer idade.
Por exemplo:

1) A Luta Profissional.
2) Como Encontrar o Amor da Sua Vida.
3) Sexo é o Maior Divertimento.
4) O Grande Mistério da Arte.
5) A Morte: Ser ou Não Ser.
Se você quiser assistir isso, procure alguém dO Tablado que possa te convidar. Porque, em princípio, está lotado.
Evidentemente seguir-se-ão canções cantadas pelos Tabladenses e outros amigos, em homenagem aos meus 27.375 dias bem vividos.
obs. Não posso convidar para O Tablado, porém posso e insisto aos meus amigos fiéis, compareçam à sessão popular do filme "Juventude", no Festival do Rio. É a platéia dessa sessão que decide o voto popular de melhor filme. Vou precisar de vocês furiosamente.


PASSADO:
Não é importante saber se um homem acredita ou não em Deus. O importante é saber se ele acredita no paraíso.

Depoimento sobre a primeira vez em que estive no Paraíso. Fazem 36 anos.

Estive no paraíso
e voltei.
O Paraíso é o mundo como ele é.
Como será um dia, para todos os homens.
Estive primeiro numa praia.
de onde trago notícias:
o mar é sólido
a areia é gente
é mulher amada
foi para descansar que deitei sobre ela
então compreendi que a desejava.
Olhei ao redor e veio o mundo
em tempo algum
posto que o tempo não existe
sendo cada conformação da existência
apenas um instante consagrado da Criação.
Haviam muitas pessoas ao redor
todas nascidas ontem do macaco
perplexas, perdidas, pobres
andando sem rumo sobre a areia sábia.
Ajoelhei pela falta de forças
(o conhecimento consome)
e chorei de alegria
já que eu era parte daquela beleza
não podendo ser
Eu sem Ela
e sem mim
Ela.
O Paraíso pode ter ruas
no fundo de uma delas encontrei, súbito
O Sol!
O Sol é o Deus do homem. Há certamente deuses maiores
mas isso não é nada que um homem possa adorar.
O sol mora no fundo de uma gruta macia de sombra.
É verdade que um homem cega se olhar, de frente, o Sol?
Depois, mais tarde, quando eu entrei na água e não quis mais sair
o sol veio para minhas mãos em concha
brincou como criança
dançou, fez formas tão alegres
já era meu igual.
Também na água eu vi um abraço de dois amantes.
Entre seus corpos muitos rios corriam, cascatas
e nas paredes haviam musgos.
Meus ouvidos ouviram muitos ruídos
ruídos do mundo
também ouviram Música
ruído dos homens.
Estive no paraíso e voltei
sei
o que são os homens
são pobres crianças loucas.
É impossível deixar de amar qualquer um deles.
O amor é a alma do Real
a energia que une os átomos
é o Estado Natural
O desamor é a loucura.
No final da tarde senti a velocidade do Planeta, da Terra
Soube que voava com ela, uma vertigem
mãe espaçonave em direção ao infinito
Não há porque temer o infinito
o navio é seguro e somos nós
que o guiamos.
Estive no Paraíso e voltei
Não posso mais esquecer de que sou parte
Sou parte do paraíso
Não há volta para o conhecimento.
E, no Paraíso, no centro, encontrei o Amor
O amor é a alma do paraíso
Vi o corpo da mulher
seus músculos, suas vísceras, sua pele e olhos
a máquina perfeita do corpo da mulher amada
(um corpo tem montanhas, gramas, areias, mares
a beleza é um corpo!)
Estive no paraíso e voltei.
Agora sei que ele existe.
Ficou portanto traçado o rumo do meu destino.
terei de trilhar o caminho de volta
o árduo caminho iluminado durante o que resta de minha existência
eterna.

Não esqueçam de ler o meu outro BLOG.
Onde deixo meu Legado, para possíveis parcerias...

5 comentários:

Anônimo disse...

O Paraíso é o mundo visto através dos olhos do artista...

Um beijo pra você, Domingos!

Eduarda Fadini
eduardafadini@gmail.com

fmaatz disse...

roubei o lance do paraiso. coloquei os créditos que sou limpinho.
é do livro, né não?
abs.

Anônimo disse...

Cada um cria de um jeito. Querer impor o seu é obviamente insegurança e forçação de barra.

Anônimo disse...

Ah, Domingos, eu bem que tentei não comentar, mas muito me interessa os dias de dezembro. Começa que dia? Se puder, claro. Abraços!

Anônimo disse...

Olá, Domingos.
Vc me verá mais vezes por aqui. E olha que vim parar aqui em setembro. Sincronicidade... Agora, antes tarde do que nunca, descobri o seu blog. Admiro muito o seu trabalho, o seu pensar e dizer. Em 2005 comprei o livro que tem suas peças. Amei. Esta semana o livro caiu da estante novamente e voltei a reler algumas passagens, as que tinha sublinhado entre outras. Sublinho tanto rubricas geniais quanto as falas. Resolvi que uma das passagens entrará numa peça que estou escrevendo a três mãos, um exercício pra pensar teatro/eu/vida/nós/olhares e quem mais chegar. E é justamente desta peça que vc vai remontar - Do fundo do lado escuro (que o céu não acabava, que atrás do céu tem outro etc). E então comentei de vc; e vc faz parte de nossa mesa, pois ficamos imaginando vc ali com a gente, entre outros desvarios e desvios, às risados, aos silêncios, aos muitos falares, em duvidâncias e espirais constantes. É uma loucura, uma festa. De Beckett ao profeta gentileza, aparecem todos, inesperados, ou já esperados, repetivos e renovados; e tudo pipoca em nossas almas de pipoca. No que vai dr? Não façao a menor ideia (lá vamos nós com a nova ortografia...) Bom saber de vc por aqui.
Valéria