segunda-feira, 11 de agosto de 2008


ATUALIDADES:

Acabo de chegar do Festival de Gramado. Ah, festivais...
São muito divertidos, vidas à parte, regras simples do jogo. Passa um filme, espera o resultado do júri, cruza com muitas moças bonitas, vai às festas, bebe muito, e no dia seguinte da premiação, vai embora. São adoráveis essas vidas curtas que aquela outra, maior mas nem tanto, nos confere!
Esse Festival em Gramado foi realmente interessante. Quanto menos não seja por ter posto em confronto dois filmes realmente antagônicos. No sentido da compreensão da arte. Um deles ótimo, mas sofrido, revoltado contra a vida, negro, e basicamente difícil de entender, com cenas desnecessárias, outras excessivas, sem nenhuma preocupação com a clareza. Um outro, igualmente meritoso, otimista, claro, falando das glórias da vida, não do seu terror, sem nenhum ocultamento ilícito da dor humana. Essa lunaridade e solaridade divide as pessoas espectadoras radicalmente. Sempre participei mais desta, minha arte sempre considerada uma arte menor pelos sofridos e angustiados poetas lunares. Não, retiro esta metáfora. A lua é um satélite lindo. Digamos melhor, os confiantes na glória ou os terroristas da denúncia demolidora. Dessa vez éramos eu e o talentosíssimo Matheus Nachtergale, chamado por muitos de "o galo da noite" (nacht - gale). O Festival não conseguiu nos desunir, abraçávamo-nos ternamente no fim da madrugada do prêmio, cantando canções ao piano. Mas esse tipo de luta é, sem dúvida, essencial.
O Festival fez-me também refletir sobre as Comissões. As Comissões Julgadoras são uma das mais importantes células da democracia. Estão por toda a parte. Julgam desde o lançamento do país até os prêmios de Gramado. É uma Instituição portanto importante e muito problemática. Alguém mais inteligente que eu deveria escrever a respeito. Dessa vez, em Gramado, tivemos uma comissão super digna. Nobre, mesmo. Liderada pela cineasta Ana Carolina. Mas é impressionante como as melhores comissões têm dificuldades de julgar pelo único critério que seria válido, a meritocracia. Já fui júri de festival, sei como acontece. Uma Comissão é influenciada por 1) A PERSONALIDADE DE CADA JURADO. Os quietos não gostarão dos filmes barulhentos, os violentos não gostarão dos filmes calmos, os comunistas não gostarão dos filmes burgueses e os que tem a alma angustiada não gostarão de filmes esperançosos - sendo que isto independe da qualidade da obra em julgamento. 2) AS IMPLICÂNCIAS OU PREFERÊNCIAS POR ESTE OU OUTRO DIRETOR. Por causa de acontecimentos anteriores. Alguém pisou o pé de alguém, comeu a mulher, esnobou, falou mal do amigo de alguém, passou sem cumprimentar - e isto não tem nada a ver com a qualidade da obra. 3) NATURALMENTE, AS IDEOLOGIAS. Você pode ser da esquerda, do centro, da direita, de cima, debaixo, e julgará os filmes segundo o partido a que se filiar - e isto não tem nada a ver com o mérito da obra. 4) NATURALMENTE, A NEGOCIAÇÃO. É preciso compreender isso. Você viu dezenas de filmes com aquelas mesmas pessoas. 2, 3 por dia. Você só vê os filmes com aquelas mesmas pessoas. De modo que você acaba ficando amigo delas. É inevitável. Seu amigo prefere o filme japonês enquanto você é louco pelo diretor argentino. Ele prefere o ator caribenho e você tem certeza que o filme americano é que é a obra de arte. Enfim, você negocia. Troca o japonês pelo caribenho, etc. No final, é um grande conchavo - que nada tem a ver com o valor da obra, enquanto arte. Como se não bastasse... 5) VOCÊ TEM QUE, NA MEDIDA DO POSSÍVEL, RESPEITAR A MÍDIA E FAZER A MÉDIA. Não fica bem num festival dar muitos prêmios para um determinado filme, mesmo que seja uma invulgar obra de arte, deixando os outros candidatos, que viajaram tanto para chegar ali, ir embora de mãos vazias, sem nada para mostrar em casa. De modo que o prêmio deve ser o mais estilhaçado possível, entende? Para que o maior número de pessoas saia contente porque, afinal, festival é uma coisa alegre. Não há júri, por mais digno e inteligente, que escape dessas pressões. Ou melhor, tradições. De modo que você deve ficar muito contente quando ganha um prêmio, mas não deve ficar muito triste quando o perde. O único detalhe lamentável é que o espectador normal que não foi ao festival vê aquele filme premiadíssimo, que é na verdade uma droga, perdão, não muito interessante... e acha que o cinema brasileiro é uma droga sem perdão!
Terminando, devo dizer que foi uma maravilha ser ovacionado durante cinco minutos por mil e duzentas pessoas emocionadas no final do meu filme, "Juventude" - isto é independente do valor da obra.

Vou dar uma entrevista no MIS (Museu de Imagem e de Som) “para a posteridade”. A entrevista é amanhã, dia 20. Vou ser entrevistado por um bando de gente sobre a minha, entre parênteses, vida. Ou seja, ridículo. Juro que não estou levando a sério, mas é mais um modo de organizar a biografia que eu não sei se escreverei. Apareça lá. Acho que a entrada é franca, mas vale a pena conferir. Já me pediram que eu dividisse a minha vida em fases. Pensei que só a lua fizesse isso. Mas em todo caso, tentei. Marcos? Mulheres, claro. “Sou aquilo que as mulheres que eu amei fizeram de mim.” (J. Moreau) E também alguns trabalhos. Dizem os caubóis americanos que o homem tem o direito de uivar para a lua três vezes na sua vida: quando ele encontra a mulher amada, quando lhe nasce um filho e quando dá certo aquele negócio em que ninguém acreditava.


PASSADO:

10,11 anos de idade - Infância até entrar para o colégio o Admissão

1958, 22 anos - Adolescência até o primeiro casamento com Eliana Penafiel

Entre o primeiro e o segundo casamento, noção da morte e da cultura e muito álcool

1962, 26 anos - Primeiras peças profissionais de teatro, “Sétimo Céu” e segundo casamento: Leila Diniz

1966, 30 anos - Entre o fim do casamento com Leila e o sucesso do filme “Todas as mulheres do mundo”

1967, 31 anos - Entre o sucesso e o casamento com Nazareth Ohana (mãe da Claudia)

1971, 34 anos - Casamento com Nazareth, “Edu coração de ouro”, tempo de dívidas e ir a bancos, débâcle financeiro.

Fim do casamento com Nazareth e começo com Lenita Plonczinski.

1973, 36 anos - Casamento com Lenita, ácido lisérgico, vida na natureza durante 10 anos, emprego na TV Globo durante 21 anos intermitentes. Morte de Leila, nascimento de Mariana

1975, 39 anos - Volta para o Rio, retomando o teatro. Jacarepaguá, depois na Barra.

1978, 42 anos - Morte de Nazareth.

1979, 43 anos - Produtor e diretor de teatro. Séries de televisão. Prêmio com “Do fundo do lago”

1980, 44 anos - Fim do casamento com Lenita

1981, 45 anos - Muitos conflitos e casos amorosos até o encontro com Priscilla em final de 1981. Retomada do teatro com “Ensina-me a viver”

46 anos, 1982 - Casamento com Priscilla Rozenbaum

1991, 55 anos - Fase de separação com a Priscilla, por 1 ano

1992, 56 anos - Segue-se uma grande produção de peças, cerca de três por ano, entre sucessos como Confissões de adolescente, e culminando com “Todo mundo tem problemas” e “Separações” em 2000, aos 64 anos.

grande fase! 1994 a 2001 - Estadia de 6 anos no Teatro Planetário

1998, 62 anos - Retomada do cinema com “Amores”, em produção contínua até a atualidade. Encontro com Betinho e a ação da cidadania, da qual faço parte até hoje.

2000, aos 64 anos - Primeira neta

2002, 66 anos - Sucesso de Separações no cinema

2003, 67 anos - “A casa dos Budas Ditosos”

2004, 68 anos - “Feminices”

2005, 69 anos - “Carreiras”

2008, 71 anos - “Juventude” e “Todo mundo tem problemas Sexuais”. Escrevendo teatro e cinema: “Inseparáveis” e “Sangrenta madrugada sangrenta”

Domingos Oliveira está vivo e bem e mora no Leblon, Rio de Janeiro. Casado com Priscilla Rozenbaum há 26 anos, tem uma filha, Maria Mariana. 3 netas e um neto. Clara, Laura, Gabriel e Isabel. Tem muitos amigos e é popular. Seu nome está ligado a cerca de 150 títulos estreados. Ele nunca trabalhou em nada que não gostasse. “Não dou a ninguém o direito de dizer que teve uma vida melhor que a minha. E nem de que é mais feliz do que eu. Porque a grande alegria da vida é saber que se tem uma alma e, maior alegria ainda, saber que é possível melhorá-la”. (Platão)

11 comentários:

Anônimo disse...

Domingos,
Saudade de vc.
Seu blog é um bálsamo, não consigo parar de ler.
E parabéns por Gramado.
Beijos, Ludmila

Lu Gastão disse...

Domingos,
já era fã de seu trabalho.Ano passado, na mostra de cinema de Itatiaia, fiquei fã de vc pessoalemnte. Agora sou fã do blog. Vou entrar aqui todos os dias, favor manter atualizado.

abraço grande, e spero o "Juventude" para a segunda mostra de Itatiaia em novembro.
abração
Lu Gastão

Anônimo disse...

Domingos,
parabéns mais uma vez, não só pelos prêmios que você recebeu em Gramado, mas principalmente pela forma como você lida com isso (tirei minhas conclusões a partir do que eu li aqui no seu blog sobre premiações de festivais). Quanto mais leio as coisas que você escreve mais feliz e orgulhosa me sinto por ter te conhecido!
Acho que vou lá ver sua entrevista amanhã no MIS!!
Beijos,
Dani (a que vai pra España!).

Anônimo disse...

Que surpresa boa esse blog. Acompanharei de perto o que acontece por aqui assim como faço com teus filmes. Falando neles, parabéns pelo "juventude", aguardo o lançamento em breve. Nos vemos lá.

Abs,

Bayão

Anônimo disse...

Outra coisa: porque não adicionou os especiais pra Globo que fez? Pelo menos "Somos todos do Jardim da Infância" e o remake de "Todas as mulheres do mundo" tinham que entrar nessa tua bio aí, são antológicos! E porque nada disso ainda não virou DVD?

Bayão

Katia Arruda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Domingos, que espaço pequeno tenho aqui pra demonstrar minha admiração! Sou do Rio, estudante de cinema, roteirista, poeta... enfim, soube da existência desse blog há 5 minutos e quero dizer que sou muito fã do seu trabalho. Seus textos são inspiradores e maravilhosos. Digo sempre que ''Separações'' é o melhor filme já feito nesse país. Quero agradecer-te por fazer o que você faz. É um prazer ter uma pessoa tão genial em exercício nesse mundo. Daiza

Anônimo disse...

Para quem não entendeu, o filme do Mateus é coisa de amador e o do Domingos é a melhor coisa já projetada numa tela.

Anônimo disse...

Já que a precisão do passado é tanta, a data presente podia ser melhor observada. 11 de agosto o Festival estava começando!

Anônimo disse...

Oi Domingos, senti falta em sua biografia dos espetáculos teatrais que vc fez com o Jorge Dória, como "Escola de Mulheres" e o show solo que ele - Dória - montou no Teatro da Praia e não "engrenou"...

Anônimo disse...

Oi, Domingos! Adoramos o teu trabalho e este blog é um presente para teus fãs! Só sentimos muito não termos visto teu filme CARREIRAS - onde podemos encontrá-lo? E quando o JUVENTUDE vai para os cinemas??? Se puderes responder,. aí vai o e-mail: kspa_@hotmail.com

bjs dos teus fãs
Kátia e Achutti