quarta-feira, 16 de junho de 2010

ATUALIDADE


2. ATUALIDADE
Em pílulas

• Todo mundo diz que a Zona Portuária do Rio de Janeiro vai virar Broadway dentro de no máximo 2 anos. Muita gente investindo lá, muita gente ganhando dinheiro lá, é bem possível que seja sim. No Galpão da Ação e Cidadania, que é enorme, tem um espaço que foi denominado por cortesia do falecido Maurício Andrade, sucessor do Betinho, “Teatro Domingos Oliveira”. Deveria me meter lá para ficar rico daqui a 2 anos, mas é muito longe a Zona Portuária. Com o trânsito ruim, bate 1 hora da minha casa ou muito mais. Resumindo, não tenho tempo pra ficar rico. Não tenho tempo para nada a não ser criar coisas novas. Com ou sem patrocínios. Não agüento mais esperar patrocínios, não tenho tempo! O número de coisas que quero fazer antes de morrer demanda mais uns vinte anos de vida. A não ser que sem saber eu me chame Matusalém, não vai dar tempo. No momento escrevo uma peça nova denominada “Turbilhões”. Pra quê uma peça nova, se há outras na gaveta? Eu não quero saber, escrevo por escrever. Escrevo. Estou exatamente naquela fase que acho tudo muito ruim, que sou medíocre, que engano as pessoas há várias décadas, que não tem vocação eticétera e tal. Eu já começo a vislumbrar a cara dos personagens. Logo logo cessará a angústia do escritor tomando conta a alegria do escritor, cercado pelos seus personagens indagativos e curiosos, sem saberem ainda seu fim, coexistindo como existem aqueles que têm carne e osso. Uma nova turma terá sido posta no mundo e sentirei de novo o prazer desta maternidade.

• No Cinema, não perder Woody Allen - “Whatever Works”, cuja boa tradução seria “Passa a ser correto tudo aquilo que dá certo”. Gostei muito também de “Guerra ao Terror” dirigido pela ex-mulher do Cameron. Filme de macho. Não vejo um filme tão bom assim desde “Invasões Bárbaras”. O assunto é guerra enquanto droga, vício. O que é o único ponto de vista segundo o qual se pode compreendê-la. Fernandinha Torres não gosta, há quem não goste. Sempre com a mesma argumentação, que o final heroiza o personagem fazendo avançar sobre os perigos naquela roupa de astronauta-super-herói. Não concordo. O filme não tem nada de americanista ou de direita. O super-herói é um suicida que lembra Corisco de Glauber quando alguém o alcança no meio do sertão para avisar que as tropas estão chegando e que ele vai morrer. Othon Bastos, o Corisco, vira para ele e, depois de um instante, responde “Eu já morri”. É disso que a Bigelow fala, dos que vivem, embora nascidos, mortos.

• Me parece também imperdível, para quem tem interesse em cinema, o documentário “Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague”. O filme é centrado na feitura de “Quatrocentos Golpes” que traduziram como “Os Incompreendidos” e “No limite do fôlego” (À Bout de Souffle), primeiras obras dos amigos Godard e Truffaut. É imensa a influência dos dois no cinema que veio depois, inescapável. Eram dois homens muito diferentes, importantes na minha vida. Godard me ensinou a liberdade. Ele é um mestre nisso. O “Fôlego” não é um filme, é invenção de um novo cinema. Que, segundo o documentário, assustou o próprio Truffaut, que financiou parte do filme. Embora fosse um homem sem posses. Truffaut me ensinou a montar músicas clássicas em cenas cotidianas. E acima da inspiração livre desses homens, herdeiros de Rossellini, nasceu toda uma nova onda que quebra, espalha sua espuma nas praias da eternidade. Tem até o primeiro teste de Jean Pierre Leaud, onde ele conheceu Truffaut. Godard é homem mais duro, talvez por isso está vivo até hoje. Enquanto Truffaut já se foi há algum tempo. O filme mostra também como vive um jovem inteligente numa sociedade voltada para a cultura, ou melhor, para a arte, aquela que modifica gente e sociedade. Confesso que é de babar de inveja. O movimento liderado pelo Cahiers Du Cinema, uma simples revista de cinema que tinha de 10, 20, 30 rapazes ou velhos, todos com a cabeça fervendo, querendo conversar antes de discutir. Fazer o melhor cinema do mundo e, assim, mudá-lo. Hoje aqui ninguém discute mais. Ninguém vai ver o filme do outro. É cada um por si e o diabo por todos. Eu não consigo ver filmes brasileiros. Quando percebo a existência do filme já 2 ou 3 amigos vieram me dizer para eu não ir ver porque é muito chato. E em geral meus amigos estão com a razão. Mas se não vemo-nos, se não nos damos, estamos entregues ao governo, como agora. E os grandes artistas vão cuidar de coisas mais sérias entregando o Cinema para os industrialistas. Tristeza.
• A Nouvelle Vague provou (Rossellini, antes deles) que não é preciso uma boa técnica para atingir como um punhal o coração dos espectadores. Hoje há toda uma tendência de colocar a “boa técnica” como elemento essencial. O que é uma burrice, com mais muitas outras entre as quais vivemos. Que vivam bem os industrialistas! Que o Deus do dinheiro os proteja! Que os camelos passem pelo buraco da agulha! Que os ricos entrem no Reino dos Céus. Mas deixem lugar e concedam devido respeito ao Filme de Arte. Comunicativo, humano, necessário.

3 comentários:

Unknown disse...

Seria maravilhoso se você fosse uma espécie de Mtusalém, eu ia adorar porque ia ter um mestre gênio eterno. Engraçado, eu no auge dos meus 16 anos acho que tenho que correr contra o tempo pra dar temo de fazer tud que eu quero, minha carroça vive na frente dos bois rsrs
Domingos você é meu guri cinematográfico, tudo que você diz que é bom eu vou lá e assisto, claro, o que eu encontro.
Vou aproveitar as férias da escola (a escol atrapalha minha vida) Pra ver filmes e peças. você está e cartaz com aguma peça no rio agora?

Beijos em vc e n Priscilla!

Luriana disse...

Domingos,
já tava na expectativa de ler o próximo texto postado aqui.
Espero que você viva mais uns 300 anos. haha. e escreva escreva escreva.
Aqui em São Luis ainda num chegou o novo filme do Woody, estamos ansiosos pra ver.
Brigada pelas dicas.
Muito bom o que li!
Abraaaaço,
Luriana

Leonardo disse...

Interessante suas idéias, e achei mais interessante ainda você ter citado Rosselline, pois tenho visto muitos falarem de Godard e Truffaut e pouco dele, que também foi grande cineasta e, como disse, precursor do que eles fizeram. Boa! Em geral os filmes brasileiros são ruins porque geralmente caem numa de tentar pensar o brasileiro, analisar o Brasil etc., pô, chega disso, isso é neurose, precisamos transcender!