domingo, 13 de novembro de 2011

CARTA ABERTA A DILMA ROUSSEF/ SOBRE A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA ARTE

Penso que esta carta dificilmente chegará as suas mãos e será lida por você. Esta inconveniência de tratá-la sem as pompas do protocolo somente se justifica pelo extremo respeito e admiração que tenho pela mais fulgurante trajetória que já vi alguém realizar no cargo de Presidente da República do nosso imenso e querido Brasil.



Penso que você não chegará a ler esta carta, que será obstada por seus assessores, sabendo do nível das suas preocupações e ocupações. Eles talvez lerão e, confessando um temor talvez infundado, não a entendam. A senhora presidente entenderá perfeitamente, se chegar a ler.


Sou um cidadão qualquer, sem nenhuma ligação direta com a política, mas com a consciência da sua imensa importância e da coragem necessária para exercê-la. Sou um Artista. E é como artista que venho tratar nesta mensagem de um assunto controverso. A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA ARTE.



Creio que é imensa.



A Arte não faz pão nem derruba Governos, mas enobrece a alma. Um país é respeitado e dignificado pela sua Arte, no final das contas. A Arte é um retrato de um país. Nós, artistas, sabemos disso. Temos certeza desta importância. Mas não sabemos explicá-la, não temos a pedagogia necessária. De modo que fica assim. Quem sabe, sabe. Quem não sabe, não saberá. Porém tentemos.


A Arte realmente parece de uma importância insignificante diante dos outros problemas do país. É apenas uma aparência. Sem a Arte, o Estado se desestabiliza. Cai em ruínas, como um edifício implodido. A médio prazo, quero dizer, porque a arte age modificando as consciências. E este é um processo lento, embora perene. Porém insubstituível.




Na nossa agressiva e competitiva sociedade moderna, somente a Arte lembra os homens os valores que construirão a civilização: a honra, o patriotismo, a moral, a solidariedade, a cidadania. Com sua voz débil, ela grita para quem quiser ouvir que vivemos num mundo cruel, que poderia ser muito melhor. Porque os problemas sociais são todos culturais, a senhora sabe disto melhor do que eu. “O problema da fome não é a fome. É a indiferença quanto à fome.”, dizia meu saudoso Betinho. O mesmo acontece com a saúde pública, a educação e as outras muitas carências do nosso bravo país. O problema não é a corrupção. É a indiferença quanto à corrupção.



Vivemos numa época e num país onde a Arte é violentamente desprezada, como ficou claro recentemente na intenção de corte da verba mínima que caracteriza o Ministério da Cultura. É a Arte que fica na História. Posso não saber quem era o Rei da Inglaterra nos séculos XVI e XVII. Mas Shakespeare, sei perfeitamente quem é. Quem seriam os poderosos da antiga Grécia nos tempos de Pitágoras, ou Platão? Foram esquecidos.



Somente a Arte é um legado para o futuro. E não resta dúvida que todos os grandes avanços humanos provem, direta ou tortuosamente, das Artes.




A Arte, ela salta, melhor que o gato. Por cima da aparência. E aquele que recebe a mensagem do Artista salta também, por cima do muro sensorial e das limitações morais com que está acostumado a perceber o mundo.


A cultura é conhecimento, é educação. Diz-se que é necessário conhecer a vida para compreender a Arte. Está errada a ordem da frase: é preciso conhecer a Arte para entender a Vida.



Os homens já foram mais artistas que hoje. Antigamente as roupas eram belas, os móveis eram belos, os talheres eram belos. O homem já esteve mais próximo da Arte.




Embora Ela sempre sobreviva, nas adversas circunstâncias. Entremos de madrugada num cabaré suspeito. Estará tocando uma linda canção vulgar, para um casal que dança agarrado. Ela tem vestido justo, ele revolver na cintura. Dançam a canção. Nem o bandido pode viver sem a Arte.


Se alguém quer morrer, morrer mesmo de não ter jeito, toque para ele uma música de Mozart, ou mostre um quadro de Renoir, um bom filme ou até mesmo simplesmente conte uma boa e sólida humana história. Se isto não salvá-lo, se a depressão persistir, desista. O homem está morto. A Arte não é o espelho da Vida, é sua propaganda.


O artista sabe que o mundo tem caminhos. Sabe que não pode mudá-los mas que, de alguma forma esquisita, o mundo o consulta antes de dobrar a esquina.


É costumeiro unir e confundir a Cultura e a Arte com o lazer e a diversão. Ambas são responsabilidades do Estado preservar. O futebol, o carnaval, as festas e jogos populares, os bailes onde tocam a melhor música do mundo inteiro, são importantíssimos para a saúde social. A Cultura e a Arte são o lazer construtivo. A Arte é o lazer que dignifica a alma e torna o homem mais apto a lutar contra a desigualdade, a corrupção, o egoísmo e outros males modernos de igual dimensão.


Permita-me mais uma liberdade. Cultura e Arte são coisas diferentes. Cultura contém a Arte, porém se refere ao passado. Enquanto que a Arte coloca no mundo coisas que não estavam lá, antes. Ela anuncia o futuro. Nessa difícil defesa do Ministério, permita-me falar em Arte, querendo dizer, com isso, Cultura fértil.




O Estado Brasileiro neste momento (e, se deus quiser, por muitos anos), liderado por Vossa Excelência, tem de apoiar a Arte. Para que, com ela, o homem brasileiro (principalmente o político) ganhe valores cada vez mais altos. Forças cada vez mais nobres, para defender o Brasil.




Nosso Hino da Bandeira, que também é uma obra de Arte, diz: “Recebe o afeto que se encerra/ em nosso peito juvenil (...)/ Contemplando o teu vulto sagrado,/ Compreendemos o nosso dever,/ E o Brasil por seus filhos amado,/ poderoso e feliz há de ser!”




Respeitadíssima Dilma Roussef, não permita de modo algum que a verba do Ministério da Cultura seja cortada! Isto é uma bofetada na cara e uma vergonha no peito para qualquer homem sério deste país!



É um desrespeito à importância social da Arte. Se os artistas são inúteis num país pobre como o nosso, que sejam banidos ou mudem de atividade. Mas se é aceita esta importância, que isto seja feito convictamente.




Não permita que a verba do Ministério da Cultura seja cortada! Apoie e preserve as “reservas de mercado”, os “adicionais de renda”, ou qualquer medida que viabilize a Arte e a Cultura, defendendo-nas da tirania do mercado. Em países de grande desenvolvimento, a Arte é usada como arma das nobres causas.


Não permita, Dilma, que este seja o país dos que não pensam. Ou somente pensam em si mesmos. Seja também a defensora, a mãe, a paladina da Arte Brasileira. Você merece isso. E o Brasil também.


do cidadão
Domingos Oliveira.
Artista.

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