domingo, 31 de outubro de 2010

CARTA A DILMA


ELEITOR INDECISO ATÉ O ÚLTIMO MOMENTO, RESOLVE COMO VOTAR
Meu nome foi prematuramente colocado sem a devida consulta na lista de eleitores da Dilma, por ocasião do evento dos intelectuais no antigo Teatro Casa Grande. Não mandei retirar porque estava na dúvida se votava ou não no Lula. Quero dizer, na Dilma. No 13, enfim. Lula fez um excelente governo voltado para os pobres e este é o maior elogio que se pode fazer a um governante brasileiro. É difícil retirar a primazia desse mérito. Lula tem um compromisso de ordem superior inconsciente com o povo. Baseado nisso e no fato de que minha turma votava em Dilma, deixei conservar meu nome na lista. Nem liguei. Desde então tenho sido acometido pelas graves preocupações constantemente apontadas pela mídia: a alternância do poder. A gravidade do presidente ao utilizar a marca oficial para eleger sua candidata. O mal cultural terrível que representa para uma nação ver seu presidente menosprezando a lei, jogando com ela a favor dos amigos e contra os inimigos. A ponto de ameaçar a liberdade de imprensa. De entender uma das poucas liberdades comprovadas pela humanidade: que os fins não justificam os meios, sendo este o lema do demônio. Porém minha lista de medos não me deixava dormir. O polvo Paul, dizem que morreu para não ter que escolher entre Serra e Dilma. É uma batalha inglória por falta de qualidade dos candidatos. Essas dúvidas me atormentavam porque é inegável a tendência autoritária e a prática de represália do PT contra os que não se aliam incondicionalmente. E a conseqüente probabilidade de termos a evolução disso sob a forma de uma ditadura.



Por outro lado, de um modo ou de outro estamos salvos, vejam o que é a vida. Existe o lado alegre da História. Se Serra ganhasse, Lula lideraria uma excelente oposição, equilibrando assim os defeitos da democracia. E mesmo com a vitória anunciada de Dilma, acontecerá certamente o mesmo. A certa altura do campeonato, a criatura se volta contra o Criador, como em Frankstein. E Lula fará oposição do próprio PT. Resumindo, tudo depende dele, de Lula, o herói popular. Eu sempre soube do poder da ação individual. É o nome dos homens que aparece no livro da História, não dos partidos. Lula, Luís Inácio da Silva, que no início me pareceu uma figura desimportante, ensinou-me outra vez que o ser humano é surpreendente. Alegrado pelo poder, transformou-se em poucos meses num líder verdadeiro. Provou que é um homem inteligente, esperto, audacioso, um verdadeiro astro que entra inesperadamente na cena do drama político brasileiro. É com ele que devemos nos preocupar. Ele é o homem. Ele é a força. Quem sabe então se o Deus dos políticos e do povo não concede a Lula a lucidez de lutar contra todos esses perigos acima indicados. E, baseado em sua origem, conservar, defender e entregar ao povo brasileiro uma verdadeira democracia? Lula é inteligente. Homem inteligente pode tudo. Deve ter dentro dele o poder da autocrítica e a intuição dos caminhos corretos que constroem a humanidade. Voto em Dilma não porque me botaram na lista, mas por confiança na pessoa do Lula. Talvez ele saiba diferenciar o joio do trigo daqui por diante e nos quatro ou oito anos de governo que o esperam a partir de 2014. Ele compreenderá que mais que a figura do esperto simpático Macunaíma, que dá um jeito em tudo, o Brasil quer e merece um verdadeiro estadista. Um homem que defende a lei, aquilo diante de que todos os homens são iguais. Obedecendo a lei, mesmo perdendo com isso, mesmo discordando dela, até o momento em que possa mudá-la. É com esse estado de espírito que estou saindo para andar os poucos quarteirões e tocar no botão. Votar. Na Dilma, como afirmava a lista. Ou Nulo, se a minha mão tremer pelo destino do Brasil. Senão teclarei 13, embora seja um número bastante suspeito ligado à falta de sorte. Na certeza de que Dilma já está eleita e agora a obrigação do verdadeiro cidadão é aplaudi-la, amá-la confiantemente, colaborar no possível para ajudá-la na nova e difícil missão que a espera. Viva o Brasil e todas as suas contradições!

sábado, 30 de outubro de 2010

LANÇAMENTO DO "JUVENTUDE" EM DVD

http://www.youtube.com/watch?v=XOj7beJummc

Aviso aos amigos que saiu, finalmente, o DVD do meu filme JUVENTUDE. Procurando bem, pode ser encontrado em locadoras: TODAS AS MULHERES DO MUNDO, EDU CORAÇÃO DE OURO, AMORES, SEPARAÇÕES, FEMINICES, CARREIRAS... e agora, JUVENTUDE!

Já é alguma coisa.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

CARTA ABERTA AO PREFEITO EDUARDO PAES



Prefeito,
Tivemos uma vez juntos, aqui é o Domingos Oliveira. Atrevo-me a tomar seu tempo com este email por causa de uma situação embaraçosa que vem acontecendo entre a classe cinematográfica representada no caso pela ABRACI, no que diz respeito à Riofilme e sua política e, indiretamente, a V.S.
Sem fazer teoria, a Riofilme é uma empresa destinada a fomentar o cinema carioca, esta jornada brilhante que vai da chanchada, “Rio 40°”, “Todas as mulheres do mundo”, e chega hoje ao “5x favela” e vários outros bons filmes.
O bom filme, eu tenho certeza que o senhor sabe disso, não é obrigatoriamente um filme de grande orçamento com uma cara produção. Ao contrário. O filme que constrói o cinema e alimenta as grandes bilheterias é exatamente o filme médio, inspirado e comunicativo, que a Riofilme no passado sempre apoiou. O filme médio permite mais riscos e, sem poder errar, não é fácil acertar.
Por circunstâncias incompreensíveis, a Riofilme atual resolveu quebrar nossa fidelidade com a diversidade cultural do Rio e apoiar não os filmes de conteúdo que precisam de dinheiro e sim aqueles que dão bilheteria.
É claro que um filme de conteúdo pode ser de grande produção e resultar em recorde de bilheteria, como o praticamente inigualável “Tropa de elite”, do qual todos nos orgulhamos. Mas o ‘Tropa’ não precisa do Governo para lhe pagar cópias. O mercado faz isto sozinho.
Esta situação é constrangedora e absurda, além de mal informada. Um órgão público tem a obrigação de fomentar a boa Arte. Os filmes de grandes bilheterias, preocupados com o mercado, já encontram neste a sua proteção.
Se disséssemos em qualquer país estrangeiro que um órgão do Governo prioriza deste modo o mercado, causaríamos risos, por denotar a ignorância da necessidade para a sociedade do filme de Arte, de autor, ou até mesmo o “Cult” ou “cultuais”, expressão criada com muita graça porém inoportunamente pelo presidente do citado órgão.
E o pior de tudo é que esta posição politicamente incorretíssima envolve V.S. posto que consta ter o seu apoio, coisa na qual absolutamente não acredito. Não seria possível, vista sua posição lúcida e eficiente em outras áreas, o que o torna um dos melhores prefeitos que esta cidade já teve.
De modo que ofereço-me aqui para esclarecê-lo sobre este assunto na qualidade de cineasta do Rio de Janeiro há cinco ou seis décadas.
Sr. Prefeito, a Arte é necessária para a saúde mental da população. O mercado não gosta dela, isto faz parte do seu feitio e essência. Os homens lúcidos no Poder tem de compreender a importância social da Arte e criar condições para que ela seja gerada.
O Brasil, não apenas o Rio, tem muitas carências. Não é preciso fazer filmes no Brasil, devemos conter nosso industrialismo. O Brasil precisa fazer filmes bons que retratem o país. E, em particular, que glorifiquem a Cidade Maravilhosa em que vivemos.
Basta olhar os livros de História do Cinema para perceber que são os filmes de Arte, de autor, que quebram as barreiras do mercado externo. O que seria do Cinema Novo sem “Deus e o diabo na terra do sol” ou da Retomada sem o “Central do Brasil”?
As teorias da atual Riofilme não apenas estão erradas como envergonham a cultura desta cidade.
Bem, creio que está claro o meu recado.     
Agradecendo a sua atenção, permita que eu seja seu eleitor na próxima oportunidade, como fui na última. Levando à sério a gravidade da questão exposta acima.

Seu,
Domingos Oliveira
cineasta

sábado, 9 de outubro de 2010

11 motivos para considerar "Tropa de Elite 2" um grande filme


11 (onze)

MOTIVOS PARA CONSIDERAR

“TROPA DE ELITE 2” UM GRANDE FILME

Para José Padilha e Luiz Eduardo Soares

1) A magnífica interpretação de Wagner Moura, insuportavelmente sincero. Wagner será sem dúvida e brevemente ator disputado pelo mercado internacional. Temos de ter cuidado para não perdê-lo.


2) O grande feito de um filme é juntar, como disse Brecht, diversão com ensinamento. “Tropa” é um gol nesse sentido. Eletrizante e profundo.


3) Pela coragem de José Padilha de abordar tão diretamente questões delicadas e presentes como as milícias dos morros. A coragem é uma das maiores virtudes humanas.


4) Pela objetividade de José Padilha ao reger o roteiro fazendo-o chegar a Brasília e depois de alguma forma premiando o Capitão Nascimento com a vida de seu filho. “Tropa” é tão emocionante que pode até influenciar no segundo turno.


5) Pela tenacidade e talento pelos quais José Padilha conseguiu tanto dinheiro para fazer este filme. Certamente vindo de fontes que ele, nem tão sutilmente assim, ataca.


6) Provar a possibilidade de o filme estourar bilheterias mantendo-se como filme de arte.


7) “Tropa de Elite 2” é o arauto, anuncia o futuro. Inaugura uma fase do cinema brasileiro na qual mais uma vez imitaremos os americanos, só que agora em uma das suas melhores virtudes. O grande cinema americano sempre fez filmes (de Grifth a Carlitos, Capra, Spielberg) com ênfase central na crítica de sua própria sociedade. Crítica franca, direta, ofensiva. Que é exatamente o que faz a “Tropa de Elite 2”. Que, sendo um mega sucesso, criará obrigatoriamente seguidores. E que será também benéfico para o nosso país.


8) Pela linguagem cinematográfica de José Padilha, baseada no modo de fazer usual do cinema americano porém com extrema competência, clareza, comunicabilidade e por que não dizê-lo, poesia.


9) Pela magnífica atuação dos atores no filme. Lembra Costa-Gravas nos seus melhores resultados, como é citado em uma cena. Sendo um filme político era preciso que os atores representassem politicamente. E é exatamente o que Padilha consegue. É impossível não destacar alguns, embora sejam todos excelentes: Irandhir Santos, Sandro Rocha, André Mattos, Maria Ribeiro!


10) Pela excelente dramaturgia do final do filme. Dizem que o final ideal de um filme ou peça teatral é aquele que diz algo que não foi dito antes na obra inteira. Algo que ilumina a narrativa para trás, como um farol retrovisor. Esse tipo de final é dificílimo de atingir, como em “O Inimigo do Povo” de Ibsen ou “Romeu e Julieta”. No momento em que o filme do Padilha, surpreendentemente pula para Brasília, cria um final excelente. Lança luz sobre todo o resto.


11) Em meio ao entusiasmo que o filme desperta, vem um sentimento ruim de desesperança e desespero. Posto que o filme nega o poder modificador de qualquer ação individual e, portanto, do próprio filme. Esta é uma questão filosófica grave, importante, que o filme levanta como resultado final. Quando responsabilizamos o sistema considerando-o uma força irreversível, de alguma forma não responsabilizamos ninguém. Muitos sistemas já foram desagregados pela ação individual. Mais um mérito de José Padilha em seu grande filme “Tropa de Elite 2”: levantar esta questão.




Domingos Oliveira


09 de outubro de 2010