segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

“Um Coração Fraco”


Se Deus resolvesse vir à Terra e escrever, certamente o faria pelas mãos de Dostoievski.
Num consenso geral da História, ele é considerado talvez o melhor escritor de todos os tempos. Morreu com cinqüenta e nove em 1881. Viveu portanto numa Rússia Czarista de autoridades sem limites.
No ano seguinte em que escreveu “Um Coração Fraco” Dostoievski foi preso por ter participado de discussões políticas na casa de um amigo. E por ordem do Czar, submetido à detalhada farsa de um fuzilamento, somente depois sabendo sua verdadeira pena: quatro anos de trabalhos forçados na Sibéria, de onde voltaria o grande Dostoievski.
Fica difícil explicar este escritor, porque é difícil explicar um belo alvorecer para quem nunca viu um. São muitas cores, o conjunto da paisagem entontece.
“Um Coração Fraco” é uma pequena novela de sua autoria, escrita aos vinte e sete anos. Teremos portanto a oportunidade rara de ver como escreve um gênio quando jovem. Dostoievski começara sua obra três anos antes, sendo do dia para a noite eleito pela crítica o maior escritor da Rússia.
Em “Um Coração Fraco”, Dostoievski fala de pessoas simples, do amor, da felicidade. E das trevas, que impedem estes sentimentos.
É a estranha, insólita e incompreensível estória de Vassia Chumkov, jovem e humilde funcionário público, conforme foi contada a Lisanka, detalhe por detalhe, por seu grande amigo Arkaddi Ivanovitch.  
As últimas palavras de Dostoievski, segundo a lenda, foram para os filhos e netos que circundavam sua cama: “meu amor por vocês é imenso, mas não é nada comparado com o de Deus por suas criaturas”. Diria eu, imitando, modestamente: Meu amor por Dostoievski é imenso. Mas não é nada comparado com o dele por seus personagens.

PS. Quem não leu Dostoievski, não sabe o que está perdendo. É por inadvertência um idiota. Como caminhos para sair desta idiotice, recomendo começar por “Humilhados e Ofendidos” ou “A voz subterrânea” ou “Noites Brancas” ou “O Jogador” ou ir ver a peça no Sérgio Porto a partir deste fim de semana. Uma excelente primeira direção de Priscilla Rozenbaum com um brilhante elenco encabeçado por Caio Blat. Prepare o seu coração! E depois escreva para o meu blog, dizendo o que achou. 


8 comentários:

michelleraja disse...

Imperdível!!

ana disse...

Quando vem para São paulo???

Jose Mascari Neto disse...

Caro Domingos, já a alguns anos venho acompanhando seus filmes e confesso que seus trabalhos sempre me causaram uma profunda admiração. Ontem assistí ao filme Separações, e mais uma vez fiquei maravilhado, não consigo explicar mas seus filmes me trazem um momento de reflexão que poucos outros filmes ou livros já trouxeram. Vou começar a ler os livros de Dostoievski que você indicou no seu post, pois sinto que necessito me aprofundar mais nos mistérios e devaneios desta vida.

Um super abraço com muita admiração, respeito e apreço.

Ricardo disse...

Assisti à peça no último sábado, no último horário, o que vem a calhar aos boêmios da sexta. Também não conhecia este texto de Dostoievski. É um texto até certa medida surpreendente, pois enquanto eu e todos os meus amigos achávamos que o amigo de Vassia trairia o amigo, conquistando seu novo amor, a mensagem que fica é algo bem distinto e maior.

Anônimo disse...

Também sou apaixonada por Dostoiévski e não puder deixar de assistir a essa peça!
Admiro muito o seu trabalho e quando vi que dessa vez ia ser relacionado com esse escritor que sabe ler a alma humana como ninguém, fiquei mais encantada ainda.
Não conhecia esse texto dele, vou procurar para ler, é de uma sensibilidade incrível e mostra uma relação de amizade e carinho muito rara. Como o Ricardo falou ai em cima, é realmente surpreendente a atitude do amigo de Vassia ao longo da peça.
Parabéns pelo excelente trabalho e concordo plenamente, leiam Dostoiévski!

Anônimo disse...

...vc me dá vontade de fazer poesia....vc me tira da solidão...transforma os defeitos meus, em contornos de beleza...com vc me sinto "ser"...existo...com você eu valho a pena...e me amo como sou...você é um homem raro...vida longa ao rei!!!!!
Luciana

Clóvis Corrêa disse...

Fui ontem assistir “Um Coração Fraco”, achei que o horário era às 20h(vi na internet) e no caminho me apavorei com o meu atraso. Trânsito, calor, irritação, engarrafamento... desespero para chegar... mas já no teatro fico sabendo que começava às 21h. Alegria total! Não só para assistir depois de muito tempo, um trabalho do Domingos(salve ele!), ver a amiga Sofia em cena, mas também curioso para conhecer o trabalho da Priscilla como diretora. Pulei de satisfação com tudo que vi e ouvi. Eu na última fileira, acabou o espetáculo, olhei pro lado e estava ela lá em cima debruçada perto da técnica e de olho em tudo em cena... Dostoievski dispensa comentários... Se “aos olhos do artista, o público é um mal necessário; é preciso vencê-lo, nada mais”. Diante da encenação de “Um Coração Fraco”, como público, me dou por vencido. Uma adaptação no ponto certo, um espetáculo enxuto, uma direção delicada, sensível e caprichada. Caio, Cadu, Isabel e Sofia em cena pareciam felizes e prazerosos por essa representação, que só desejo bons frutos. Daí o ótimo resultado que vi. A ficha técnica também merece elogios rasgados... É o meu retorno ao público teatral de 2011. Uma maravilhosa dica! Parabéns!

Carolzinha* disse...

Com seu certeza uma experiência incrível poder assitir "Um coração fraco". Parabéns por tanta delicadeza na adaptação!