segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Carta aberta para Antônio Grassi com conhecimento de Ana de Holanda. Ou se preferirem, para o Presidente da Funarte e para a Ministra da Cultura deste promissor Governo Dilma




Vivemos num tempo de recessão de ideologias. No entanto é preciso ter uma, é o único meio para que a política adquira sua devida dignidade.
           A gestão Hollanda, conforme dissemos em outras cartas, deve ter característica, deixar uma marca, criar futuro. Dado o caráter do Ministério atual, isto significa a defesa da ARTE dentro da cultura. Esta é a parte que não está sendo cuidada. O mercado é um primo rico, ele cuida de si mesmo. A cultura é uma matriarca respeitada, ela cuida de si mesma. A arte é tão sutil quanto violenta, tão frágil quanto fundamental. Sempre precisam dos artistas para defendê-la.
1. Sendo assim, a primeira coisa que tem que ser verificada dentro de cada um de nós é NOSSA CONVICÇÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA SOCIAL DA ARTE. Os artistas sabem o que é a arte, somente ela dignifica a longo prazo um País. Sabem de seu decisivo papel social, como guardiã doa valores nobres... Sabem mas não sabem explicar. Ainda não têm pedagogia adequada. Somos nós que vamos encontrá-la.
    2. Protegido por esta convicção, há que separar prioritariamente a verba necessária para uma tarefa digna de um verdadeiro Ministério da Cultura.
DESCOBRIR E MAPEAR OS GRANDES TALENTOS, BRASILEIROS E VIVOS E PRODUTIVOS. A metodologia para fazer isso é simples. Através de insuspeitáveis comissões locais garimpar quem são, digamos, para usar um número pequeno, os 10 ou 15 artistas mais promissores, ou melhor, mais prontos para realizar imediata obra de arte. Artistas Brasileiros numa escolha sem preconceitos, sem diferenciar estreantes de veteranos, sul de norte e etc... Isto não é tão difícil. Nem custa caro. Na verdade, sabemos quase de cor, quem são eles por sua obra anterior, ou pelo brilho de seus primeiros filmes ou peças.
3. Esses artistas devem ser PRESTIGIADOS E PRIVILEGIADOS sem pudor pelo Ministério, no sentido da viabilização da sua próxima obra.
Obs- Claro está que não será fácil formar comissões julgadoras tão respeitadas que torne insuspeitável  a escolha. Mas este é outro assunto: “A ARTE DE COMPÔR COMISSÕES”, que não cabe aqui.

Desculpem a sinceridade direta destas palavras. É que sei que vocês são pessoas ocupadas, na política não se tem tempo a perder.

...No Cinema domina atualmente o industrialismo. Filme bom, mais que isso, respeitável, é aquele que dá muito dinheiro e grande número de espectadores. Refiro-me é claro, aos “Tropa de Elite”, “filmes do Daniel Filho” e outros cineastas sem dúvida bem feitos. “Tropa de Elite 2” é sem dúvida uma obra de arte, com inegável importância social como “Central do Brasil”, “Cidade de Deus” e raros outros. Esse tipo de Cinema é altamente benéfico para o panorama geral, tem que ser apoiado pelo Ministério em toda medida do possível, embora não precisem disso. As leis de incentivo fiscal e o valente aproach dos filmes bastam para garantir sua existência.
           No Teatro atualmente domina a comédia inconseqüente. Minha ficha atesta que não tenho nada contra a comédia, desde que seja útil socialmente. Mas, essas de agora são da maior parte apenas divertimento e, disse Brecht, “a arte é divertimento e ensinamento”.
           A Arte está fazendo falta no jogo. É ela a locomotiva que carrega, a mãe que alimenta todo o processo...

COMO DEFENDER A ARTE SEM CRIAR INIMIGOS?...

1.                        ...Afirmando que esse tipo de filme é absolutamente necessário para alimentar o mainstream que, sem ele, tenderia à repetição. Até a TV Globo precisa da experimentação. O que seria do Cinema Novo sem “Deus e o diabo na terra do sol”? Da Retomada sem “Central do Brasil” ou “Cidade de Deus”? Esclarecendo que um plano de apoio ao filme autoral / comunicativo, seria uma linha paralela de ação à existente, e não excludente...

PRIMEIRA SUGESTÃO PARA O RESGATE DO CINEMA E DO TEATRO DE QUALIDADE

...O filme de risco, feito do bolso do produtor, tem de ser reabilitado. Atualmente é proibido.
...O Teatro é o espelho do país. O Cinema americano é o segundo maior negócio dos EUA. A MGM, que criou o espetacular musical americano, misto notável de diversão e Arte, tinha por marca um leão que rugia cercado por uma fita dourada onde se lia pomposamente as palavras “ARS GRATIA ARTIS” que significa “Arte pela Arte”. Eles sempre souberam que Arte é a alma do negócio...
...O Ministério da Cultura não é o Ministério das Batatas. Ele tem o direito de defender a Arte e os autores realmente comprometidos com a humanidade e o bem comum.
           ... Porém creio que a Arte engrandece a sociedade, que sem ela, caminha para a barbárie. Que a Arte é o melhor antidepressivo e a única atividade humana que realmente retrata um país...
           ...O Ministério deveria criar um programa que permita o investidor privado arriscar seu dinheiro pessoal num filme. Para que ele possa fazer isso, deve poder de alguma forma contar com o apoio oficial, ter o seu filme ou peça pronta e, se considerado socialmente útil, ser ressarcido do que investiu...
           ... Sobre as comissões julgadoras, sabemos que não existe uma técnica consagrada regendo este assunto. Embora do financiamento de um filme até a elaboração do orçamento do Governo, tudo é resolvido por comissões! Convém, portanto, teorizar a respeito.  Mas esse assunto também não acaba aqui.
           Perdoem minha intromissão sem ter sido chamado. Mas faz parte da Cidadania, não é assim?
           Com toda simpatia e devido respeito, além da certeza da sua compreensão, subscrevo-me.



Domingos Oliveira
Rio de Janeiro, novembro de 2011

4 comentários:

Rose Meusburger disse...

+ $ para a cultura - Contamos com assinatura/divulgação aprovação da PEC150 - http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N16008

Rose Meusburger

Anônimo disse...

Apesar de admirar a sua obra ...
"O artista não tem que se importar com o fim social de arte, ou com o papel da arte dentro da vida social. Preocupação é essa que compete a sociólogo e não ao artista. O artista tem só que fazer arte." (Fernando Pessoa)

Anônimo disse...

Prezado Domingos, conheci sua obra há pouco tempo, mas já me tornei um grande admirador do seu modo de escrever, atuar, dirigir e produzir seus filmes. Acho que o cinema brasileiro tem muito o que aprender com você, que escolheu um modelo menos "publicitário", menos preocupado em falar de "milhões de dólares" e mais interessado em idéias.
Em tempo, sou roteirista e gostaria muito de manter contato com vc.
Grande Abraço
Ducca Rios (ducca@origem.art.br)

Anônimo disse...

Política pública de Estado para a área da cultura não deve existir para resolver "questões de classe" mas questões do Brasil.
Abraços, Carlos Henrique Machado Freitas
chorobrasileirocarloshenrique@yahoo.com.br